O Relógio do Apocalipse diz que o mundo está a 100 segundos do fim
Especialistas acertaram esta quinta-feira o simbólico relógio que avisa a humanidade sobre a proximidade do fim. As alterações climáticas e o risco nuclear são as principais ameaças.
O Relógio do Apocalipse foi acertado esta quinta-feira para os 100 segundos antes da meia-noite. Isto quer dizer que, metaforicamente, o mundo está a 100 segundos do fim. Nunca estivemos tão perto do fim. A meia-noite significa a destruição total do mundo tal como o conhecemos e todos os anos os especialistas da revista Bulletin of the Atomic Scientists acertam este simbólico e icónico relógio. É um aviso dos cientistas para a humanidade para ser levado a sério.
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O Relógio do Apocalipse foi acertado esta quinta-feira para os 100 segundos antes da meia-noite. Isto quer dizer que, metaforicamente, o mundo está a 100 segundos do fim. Nunca estivemos tão perto do fim. A meia-noite significa a destruição total do mundo tal como o conhecemos e todos os anos os especialistas da revista Bulletin of the Atomic Scientists acertam este simbólico e icónico relógio. É um aviso dos cientistas para a humanidade para ser levado a sério.
O anúncio oficial foi feito por Mary Robinson, antiga Presidente da Irlanda, acompanhada de Ban Ki-moon, que foi secretário-geral das Nações Unidas, e ainda por Jerry Brown, presidente executivo do Bulletin. “Qualquer segundo importa”, constataram os especialistas, sublinhando que nunca estivemos tão perto da meia-noite. "Faltam 100 segundos para a meia-noite. Estamos neste momento a mostrar o quão perto o mundo está da catástrofe em segundos - não em horas ou até minutos”, disse a presidente do Boletim, Rachel Bronson, em comunicado.
Entre todos os discursos (e foram vários) o que mais se destacou foi o de Jerry Brown, pela forma e conteúdo. O ex-governador da Califórnia, filiado no Partido Democrata, quis chamar as coisas pelo nome. E se antes Mary Robinson tinha dito com um ar sério que assistia a tudo o que está a acontecer no mundo como “uma avozinha zangada”, o furioso Jerry Brown legitimou os “profetas da desgraça” e criticou “a vasta e profunda condescendência” que está em todo o lado. “Este é um momento perigoso. Não deveríamos ter de estar aqui a dizer isto. Não deveríamos ter de estar aqui a contar a verdade sobre o poder da humanidade”, denunciou, acrescentando que o que tem sido dito sobre o futuro “não está a ser ouvido e está a ser ignorado, negado ou alvo de bullying”.
Num tom inegavelmente irritado, o presidente executivo do Bulletin reconheceu que para algumas pessoas o anúncio sobre estarmos a 100 segundos do fim “não parece sério”. “O momento é sério. Digam-me então como podemos acordar os que continuam a sua vida sem estarem preocupados”, pediu. Num derradeiro esforço para ser optimista, Jerry Brown lembrou que “o mundo ainda não acabou”. O futuro está nas mãos da humanidade, temos de fazer mais e sobretudo fazer diferente e, para isso, temos de acordar as pessoas, insistiu, atirando para toda a gente que o queira ouvir: “E quem tem de acordar és tu!” Por fim, confessou que sabe bem do que está a falar quando fala sobre os poderosos políticos, com quem conviveu ao longo da sua carreira, para concluir que eles são “ignorantes, cegos ou surdos” a estas mensagens.
O Bulletin redefiniu o ponteiro dos minutos no Relógio do Apocalipse 23 vezes desde seu lançamento em 1947. No ano passado, foi decidido não mexer nos ponteiros do Relógio do Apocalipse. Ficámos assim, em 2019, a dois minutos para a meia-noite. Os principais motivos apontados pelos cientistas para nos manter tão perto do fim (a terceira vez – desde 1947 – que ficamos tão próximos da meia-noite) foram as alterações climáticas e o risco nuclear.
Agora, pouco mudou. Aliás, quando muito, tudo se agravou. Apesar da expectativa sobre a possibilidade de todos termos feito o suficiente para conseguir afastar o ponteiro dos minutos da meia-noite, não há à nossa volta grandes motivos para estarmos optimistas. Nos últimos tempos, os protestos pelo clima foram mais estridentes do que nunca, mas as acções são bastante mais tímidas e ficam muito aquém do necessário para nos afastar do fim. “O mundo é um lugar mais seguro?”, perguntavam os especialistas do Bulletin pouco tempo antes do anúncio oficial com a sua decisão esta quinta-feira. A resposta é “não”.
O ano de 2019 foi o segundo mais quente desde que há registos, segundo os relatórios da agência de ambiente norte americana e da agência espacial dos Estados Unidos (NASA). E os desastres alastram a todo o mundo como uma mancha de óleo. Na Austrália, que tem sido devastada pelos incêndios, encontra-se o exemplo mais recente dos dramáticos efeitos que as alterações climáticas podem ter, denunciaram vários especialistas.
Por outro lado, o possível acordo de desnuclearização entre o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, parecia revelar uma luz ao fundo de um escuro túnel escuro, mas mais uma vez as acções não coincidiram (pelo menos, por enquanto) com as proclamadas intenções. O Irão regressou ao desenvolvimento de armas nucleares e a Coreia do Norte também não parece disposta a abrandar as suas investidas nesta área.
Quando o Relógio do Apocalipse foi criado em 1947, o maior perigo para a humanidade estava nas armas nucleares. Em 2007, as alterações climáticas entraram pela primeira vez na decisão que é tomada todos os anos pelo Bulletin.
E quem decide se os ponteiros avançam ou recuam? Há um painel de especialistas em energia nuclear ou alterações climáticas. E existe ainda outro painel – que serve de consulta ao primeiro – que inclui 14 cientistas já galardoados com o Prémio Nobel.
A subida das emissões globais de gases com efeito de estufa tem sido uma das maiores preocupações apontadas pelos cientistas do Bulletin. Até porque alguns países têm aumentado as suas emissões nos últimos anos ao contrário do esperado. Aliás, esta quinta-feira os especialistas lembraram que as emissões aumentaram seis vezes desde 1953, quando o relógio ficou pela primeira vez a dois minutos para a meia-noite. No plano do risco nuclear, também não se registam melhorias evidentes.
No ano passado, além das alterações climáticas e do risco nuclear, o painel alertou ainda para o perigo da informação falsa, as conhecidas fake news. Foi também lançado um aviso sobre alguns passos dados pela ciência e tecnologias – como os desenvolvimentos na biologia sintética, os avanços na inteligência artificial e a criação dos primeiros bebés manipulados geneticamente na China –, que podem vir a distorcer o importante propósito da investigação científica que consiste em tornar a nossa vida melhor.
Este ano, o aviso repetiu-se. Quer para as fake news – uma situação que no entender dos especialistas se agravou com a ajuda de “líderes” mundiais – quer no campo da biologia sintética ou com o desenvolvimento de “armas hipersónicas”.
Quando é que o relógio esteve mais longe da meia-noite? Em 1991, com o fim da Guerra Fria que resultou no primeiro tratado a prever cortes profundos nos arsenais estratégicos de armas nucleares, o relógio ficou nos 17 minutos para meia-noite.