Investidores para Cervejaria Galiza dão esperança a trabalhadores

Reunião confirmou que existem “investidores interessados” na empresa. Entidade patronal iniciou a regularização de dívidas

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Cervejaria está a ser gerida por trabalhadores desde Novembro de 2019 Anna Costa/ PÚBLICO

Os trabalhadores da Cervejaria Galiza, no Porto, saíram esta terça-feira do Ministério do Trabalho “com esperança”, depois de serem informados de que existem “investidores interessados” na empresa e de que a entidade patronal iniciou a regularização de dívidas.

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Os trabalhadores da Cervejaria Galiza, no Porto, saíram esta terça-feira do Ministério do Trabalho “com esperança”, depois de serem informados de que existem “investidores interessados” na empresa e de que a entidade patronal iniciou a regularização de dívidas.

“Saio com alguma esperança uma vez que foi pedida uma regularização pela entidade patronal de pagamentos à Segurança Social e o IAPMEI [Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação] trouxe novidades, e mostrou apoio. Disseram-nos que existem investidores interessados e o IAPMEI pode ser mediador no processo”, disse António Ferreira, da Comissão de Trabalhadores da Cervejaria Galiza, que falava aos jornalistas depois de uma reunião de mais de três horas.

Na sessão, que decorreu no Porto nas instalações da Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) e juntou trabalhadores, representantes da entidade patronal e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares, foi anunciado que “as duas sócias da Cervejaria Galiza vão dar entrada com um processo de insolvência”, mas foi igualmente referido que “o estabelecimento não tem de fechar”.

Em causa está o conflito dos trabalhadores da Galiza com a gerência, uma situação que teve início depois de atrasos no pagamento do subsídio de Natal de 2018, bem como uma parte do salário de Outubro. Trinta e um trabalhadores da cervejaria estão desde o início de Novembro a gerir o espaço, mantendo-o a funcionar, depois de uma tentativa frustrada da empresa de fechar o estabelecimento.

No dia 31 de Dezembro, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares informou que os trabalhadores conseguiram regularizar os salários de Dezembro, ou seja, transitar para este ano sem ordenados em atraso, mas apenas, conforme disse fonte sindical, com “o fardo das dívidas a fornecedores”, aos quais agradeceram a “solidariedade e compreensão”.

Agora, após uma reunião que chegou a estar marcada por duas outras ocasiões, António Ferreira indicou que “ficou decidido que o IAPMEI”, enquanto mediador, vai avançar com negociações com “possíveis investidores”, algo visto como "uma janela de oportunidade", frisou o representante da Comissão de Trabalhadores.

“Também soubemos que está agendada uma reunião das duas sócias para colocarem o processo de insolvência. Mas acreditamos que vai vingar a melhor solução de todas: passar por um processo de insolvência, mantendo a casa aberta”, disse António Ferreira, empregado de mesa naquela cervejaria há 33 anos.

O trabalhador mostrou-se também esperançado de que “sejam conseguidos acordos [de pagamento de dívidas] com Segurança Social e a Autoridade Tributária”, frisando sempre que a cervejaria tem “viabilidade” porque “está a laborar e a laborar bem”, tendo “ordenados em dia e clientes fiéis.

A Comissão de Trabalhadores também foi informada que em cima da mesa está a hipótese de ser lançado um PIR - Plano de Insolvência e Recuperação e não um PER - Plano Especial de Revitalização, algo que veêm com bons olhos. “Parece que um PIR, neste caso, tem mais vantagens do que um PER”, disse António Ferreira, referindo que a Cervejaria Galiza tem registado “muito movimento” e teve “meses de Novembro e Dezembro com facturação a ultrapassar o normal”.

A Cervejaria Galiza está, desde há quatro anos, em dificuldades, com dívidas aos funcionários, ao fisco e à Segurança Social que ascendem aos dois milhões de euros. A tentativa de resolver o problema passou pelo recurso a um PER, aceite pelo Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia, e pela chegada de um gestor.

Os 31 trabalhadores mantêm-se, desde o dia 11 de Novembro, de dia e de noite, de forma alternada, nas instalações, depois de se terem apercebido, nesse dia, da tentativa da retirada do equipamento pelos proprietários da cervejaria.

Fundada a 29 de Julho de 1972, a cervejaria detida pela empresa Actividades Hoteleiras da Galiza Portuense é uma das referências do Porto no sector da restauração. Várias figuras públicas ou políticos demonstraram apoio aos trabalhadores da Cervejaria Galiza, sendo que a 16 de Dezembro a Assembleia de Freguesia União Lordelo do Ouro/Massarelos aprovou uma deliberação na qual se compromete “a apelar a todas as entidades envolvidas para que se superem os obstáculos com vista à viabilização da Cervejaria Galiza”, conforme se lê numa carta enviada à agência Lusa pela CDU/Porto.