França em festa na Casa da Música

Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (OSPCdM) e Coro e Orquestra Barroca Casa da Música (OBCdM) estiveram muito perto de encher a Sala Suggia em ambos os concertos de domingo.

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O maestro e cravista Hervé Niquet à frente do Coro Casa da Música e da OBCdM obteve um óptimo resultado sonoro dr

A festa que a Casa da Música dedicou à abertura do “Ano França” terminou no domingo com programas inteiramente preenchidos por obras de compositores franceses e a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (OSPCdM) e o Coro e Orquestra Barroca Casa da Música (OBCdM) estiveram muito perto de encher a Sala Suggia em ambos os concertos.

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A festa que a Casa da Música dedicou à abertura do “Ano França” terminou no domingo com programas inteiramente preenchidos por obras de compositores franceses e a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (OSPCdM) e o Coro e Orquestra Barroca Casa da Música (OBCdM) estiveram muito perto de encher a Sala Suggia em ambos os concertos.

Não é todos os dias que se consegue assistir à interpretação ao vivo de Rituel, in memoriam Bruno Maderna [1974-5], de Pierre Boulez (1925-2016), aspecto que poderá ter sido o ponto alto desse concerto de música dos séculos XIX e XX, em que Baldur Brönnimann dirigiu a OSPCdM. Não será uma obra tão emblemática como Prélude à l’après-midi d’un faune [1894], com que foi aberta a segunda parte do concerto, mas é uma obra muito singular no catálogo do mais influente compositor francês da segunda metade do século XX.

Se nos detivermos na linha cronológica do programa proposto, com início em Debussy, a evolução da música francesa não sai propriamente favorecida. Sound and fury [1998-99], do compositor em residência Philippe Manoury (1952), põe-nos perante um trabalho tecnicamente bem realizado, mas que nos faz questionar se não haveria formas mais interessantes de atingir a fúria que não exigisse tantas cordas em uníssono. Pode-se sempre argumentar que também Boulez se serviu de uma formação invulgar (também exigente em recursos financeiros), mas a diferença do nível de interesse suscitado por uma obra e a outra parece inquestionável.

A OSPCdM, naquele que poderá ter sido o último concerto da futura Ministra da Cultura e do Turismo de Moçambique, esteve bem, mesmo sabendo que não foi dos dias em que melhor revisitou aquela obra de Debussy e que a Boulez faltou aquele quase nada que faria com que tivesse sido uma óptima execução.

Já Hervé Niquet, no dia seguinte, com um programa muito mais festivo e um bocadinho menos de público, deixaria menos espaço para insatisfações. À frente do Coro Casa da Música e da OBCdM, o maestro e cravista fundador do agrupamento Le Concert Spirituel obteve um óptimo resultado sonoro, tirando partido da singularidade das vozes que a solo se mostravam tão heterogéneas e que em tutti formaram um poderoso e uno instrumento. Possivelmente melhor ainda esteve a OBCdM, cuja prestação não deixou margem para o menor equívoco: cordas limpas, madeiras seguras, um órgão que, com toda a clareza, convidou à contemplação são alguns dos elementos que distinguiram esta de algumas outras apresentações do agrupamento.

Se a Missa “Assumpta est Maria” H.11 foi bastante aplaudida, o célebre Te Deum H. 146, que Niquet havia encadeado no final da Marche de Triomphe & Second Air, H. 547, e o gesto conclusivo com que denunciara o último acorde valeram-lhe uma entusiástica ovação, que mereceu a público a repetição do último número do Te Deum.