Toma de probióticos é desejável após tratamento com antibióticos
O objectivo é minimizar o risco de novas infecções bacterianas.
A investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) Karina Xavier considera que é desejável a toma de probióticos após um tratamento com antibióticos para “acelerar a recuperação” da flora intestinal e assim minimizar o risco de novas infecções bacterianas.
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A investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) Karina Xavier considera que é desejável a toma de probióticos após um tratamento com antibióticos para “acelerar a recuperação” da flora intestinal e assim minimizar o risco de novas infecções bacterianas.
“Os antibióticos são necessários, temos é de saber como minimizar os seus efeitos secundários”, afirmou à agência Lusa. Um desses efeitos são alterações na microbiota intestinal, que se traduzem na perda de muitas bactérias que habitam o intestino e são benéficas, predispondo o organismo a infecções causadas por agentes invasores como as bactérias patogénicas, normalmente combatidas com antibióticos.
Karina Xavier, que lidera o laboratório de Sinalização Bacteriana do IGC, participou num estudo, divulgado esta segunda-feira, que se centrou nos efeitos dos antibióticos na flora intestinal e no carácter protector da bactéria Klebsiella michiganensis (que existe no intestino humano em baixas concentrações) contra bactérias nocivas, como certas estirpes da E. coli e a Salmonella, que provocam infecções gastrointestinais. O estudo, divulgado na publicação científica Nature Microbiology, foi feito com ratinhos, modelo animal próximo dos humanos, que foram tratados com antibióticos e ficaram susceptíveis a novas infecções bacterianas.
Segundo Karina Xavier, a bactéria Klebsiella michiganensis demonstrou ser “bastante eficiente” na resistência e no tratamento a infecções provocadas pela E. coli. No caso da Salmonella, uma bactéria “mais agressiva” que acabou por matar os roedores, a “progressão da infecção foi mais lenta”, assinalou a investigadora.
“O estudo abre portas para pensar que para cada patógeno humano [agente que pode provocar uma doença] existe uma ou mais bactérias da microbiota que pode ser administrada como competidor directo desse patógeno”, defende, citada em comunicado pelo IGC, a investigadora Rita Oliveira, primeira autora do estudo e que trabalha no laboratório dirigido por Karina Xavier.
Para Karina Xavier, é “mais apropriado” dar complementos probióticos, contendo bactérias como a Klebsiella michiganensis, após um tratamento com antibióticos para “acelerar a recuperação da microbiota saudável”, a que contém bactérias que são benéficas para a protecção do organismo contra a entrada de bactérias que são nocivas e provocam infecções.
Os probióticos são substâncias que contêm microrganismos benéficos para a saúde e podem ser encontradas em produtos lácteos, como iogurtes, ou em suplementos alimentares. Os antibióticos são medicamentos usados para combater infecções bacterianas.
A equipa de Karina Xavier espera, numa fase seguinte do trabalho, identificar outras bactérias da microbiota intestinal com os efeitos protectores da Klebsiella michiganensis e alargar a investigação sobre esta bactéria e a sua influência sobre outros agentes patogénicos.
O estudo hoje publicado foi realizado pelo IGC em colaboração com a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.