Encontros de Lagoa: limar arestas entre política e imagem

Turismo, religião, arquitectura; lugares pouco vistos mais as pessoas que os fazem e habitam. São estes os eixos dos primeiros Encontros Internacionais da Política e da Imagem de Lagoa, que querem tornar-se “glocais”.

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Paulo Catrica

A primeira investida fotográfica teve um raio de acção relativamente curto. Para a edição inaugural dos Encontros Internacionais da Política e da Imagem de Lagoa, Augusto Brázio, Paulo Catrica, Lara Jacinto e Valter Vinagre lançaram os seus olhares para universos visuais integrados ou próximos deste concelho algarvio. Mas a intenção para os próximos encontros é expandir a reflexão entre política e imagem o mais possível e, de preferência, sem quaisquer condicionantes de geografia. A ambição da organização é grande: “Ver o mundo em Lagoa e tentar entender o mundo a partir de uma Lagoa cosmopolita”. O trabalho de João Pina apresentado nesta edição, Caminhantes, que mostra a lenta migração a pé de venezuelanos rumo à Colômbia, é um primeiro sinal do que pode estar para vir.

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Caminhantes João Pina

Num contexto cultural em que escasseiam as iniciativas ligadas à imagem fora dos grandes centros urbanos, os Encontros de Lagoa querem tornar-se um ponto de encontro de referência dentro de um espectro temático também não muito discutido. Mais do que incitar o diálogo, esta iniciativa pensada pelo antropólogo Paulo Lima e pelo fotógrafo Augusto Brázio quer movimentar-se “nas arestas da relação entre a imagem e a política, procurando pesar a sua erosão e contribuir para uma reflexão sobre o presente onde estas se unem num só corpo”. Para a primeira edição, que começou na quarta-feira com a inauguração de cinco exposições, um ciclo de cinema (Sérgio Tréfaut) e uma série de debates que se prolongaram por quatro dias, Augusto Brázio, o curador para a área de fotografia, escolheu dois temas: o movimento e o não-lugar.

Para além de um ensaio do próprio acerca da expressão pública do turismo no concelho (Filhos do Sol: a busca do idílico), Brázio procurou autores que habitualmente se movem numa abordagem não repentista da fotografia. Em prospectus, Paulo Catrica, com um vasto trabalho sobre lugares não imediatamente reconhecíveis, procurou contribuir para “uma arqueologia visual de Lagoa”. Percorrendo também espaços algo escondidos de olhares veraneantes, Lara Jacinto intrometeu-se nos bastidores da indústria do turismo para uma série de retratos (Paraíso). Ao passo que Valter Vinagre (Corações ao Alto) procurou representar as várias confissões religiosas que se foram estabelecendo no concelho nos últimos anos, tendo em conta que Lagoa passou a ser a casa de migrantes vindos um pouco de todo mundo.

Os Encontros agora lançados são uma das primeiras iniciativas da Casa da Cidadania e do MuCiD – Museu Digital da Cidadania e dos Movimentos Sociais, que devem ficar prontos até ao final deste ano no edifício dos Paços do Concelho de Lagoa, que continuará a funcionar neste espaço. As exposições podem ser visitadas até 31 de Março.

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Lara Jacinto