Professores protestam em frente do parlamento. Pedem que Governo repense o Orçamento do Estado
Grupo de docentes mostrou o seu descontentamento em relação a uma proposta do orçamento que dizem passar ao lado da educação. Entre as principais preocupações dos professores estão a regularização dos horários e o envelhecimento do corpo docente.
Cerca de uma centena de professores juntaram-se esta sexta-feira em frente da Assembleia da República, exigindo que o Governo repense o investimento na Educação no próximo Orçamento do Estado.
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Cerca de uma centena de professores juntaram-se esta sexta-feira em frente da Assembleia da República, exigindo que o Governo repense o investimento na Educação no próximo Orçamento do Estado.
Foi de mãos dadas que os professores se colocaram em frente da Assembleia da República, formando um cordão humano, à mesma hora em que, no interior do parlamento, os deputados se preparavam para receber o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, no âmbito da discussão na especialidade do Orçamento do Estado (OE2020).
No exterior, os docentes faziam ouvir o seu descontentamento em relação a uma proposta de orçamento que dizem passar ao lado da educação. Nos cartazes liam-se palavras de ordem como “Aposentação justa, escola renovada” e “Gestão democrática para as escolas”, trazidas à rua pela primeira vez em 2017, mas que dizem continuar a fazer sentido.
A acção de protesto, organizada pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof), serviu para pedir que os partidos integrem a educação na agenda política e na discussão do orçamento, que os professores afirmam manter uma situação de suborçamentação. “Um Orçamento do Estado que não aumenta o investimento na educação é sinónimo de retrocesso”, afirmou Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, acrescentando que “estagnar na situação de suborçamentação que neste momento temos na educação é sinónimo de retrocesso”.
Em declarações aos jornalistas, o sindicalista afirmou que o OE2020, que começou esta sexta-feira a ser discutido no parlamento em sede de especialidade, ignora vários problemas que acompanham a profissão há muito tempo. “O Orçamento do Estado ignora que a carreira tem tempo por recuperar e ignora que a profissão está envelhecida”, disse Mário Nogueira, referindo também o problema da precariedade, os “horários de trabalho ilegais que têm de ser regularizados” e a redução do número de alunos por turma.
“[O OE2020] só não ignora aquilo que o Governo quer fazer, que é atirar as escolas para os braços das câmaras municipais”, criticou o secretário-geral, referindo-se processo de descentralização de competências para os municípios.
Entre as principais preocupações dos professores estão a regularização dos horários e o envelhecimento do corpo docente, preocupações que os docentes manifestaram com a disposição de relógios e bengalas junto às escadas da Assembleia.
Mário Nogueira admitiu que a possibilidade de professores do pré-escolar e 1.º ciclo com mais de 60 anos deixarem de dar aulas para desempenhar outras actividades, anunciada pela tutela, é uma medida positiva e necessária, mas tem dúvidas de que seja possível neste momento, face à falta de docentes.
Sobre este tema, o secretário-geral da Fenprof considerou também que as instruções que o Ministério enviou, no início desta semana, às escolas para responder ao problema de turmas que continuam nesta fase do ano lectivo sem professor são preocupantes. Em causa está uma nota da Direcção-Geral da Administração Escolar, enviada na terça-feira, que informa as unidades de ensino da possibilidade de contratar professores de outras áreas para dar as aulas de Português, Inglês, Geografia e Informática.
Maria José Pisco é professora de Informática há mais de 20 anos e esta foi uma das muitas questões que a levaram a participar no cordão humano. “Enquanto professora de Informática, sinto-me descredibilizada”, lamentou à Lusa, apontando que a alteração é particularmente preocupante no caso desta disciplina, que vai poder ser dada por qualquer professor, desde que tenham concluído acções de formação na área. “A política está sempre a dizer que não existem jovens suficientemente preparados para as tecnologias, mas com esta medida está a pensar as TIC à moda antiga”, afirmou, acrescentando que se vai abrir um grande espaço entre as competências que os jovens do século XXI deveriam ter e as habilitações destes professores.
Sobre a falta de professores, Mário Nogueira alertou que este problema existe porque a profissão tem vindo a ser continuamente desvalorizada e esse é um problema de fundo que deve ser resolvido. A Fenprof aproveitou o protesto para anunciar que já entregou ao Governo um pré-aviso de greve de professores, educadores e investigadores para dia 31 de Janeiro, no mesmo dia em que se junta ao protesto nacional da Administração Pública.