De abrigos de guerra a cenários de fotografia, os bunkers de Taiwan ganham novos propósitos

Foram construídos para prevenir ataques chineses e estão por toda a ilha de Taiwan. Os bunkers marcam a paisagem taiwanesa, mas já não servem propósitos de guerra — agora, são despensas para utensílios de agricultura, pequenos museus ou espaços de eleição para fotografias. Mas ainda há quem não conheça o seu propósito primordial.

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Pessoas preparam-se para assistir ao pôr do sol junto a uma casamata. REUTERS/Ann Wang

Por toda a ilha de Taiwan há vestígios de bunkers abandonados, construídos durante um período em que a ilha estava sob a lei marcial da China e o medo de um ataque era constante. O objectivo destas construções era impedir que os chineses invadissem o território taiwanês.

Apesar da ameaça vinda da Chinaque reclama a ilha de Taiwan como sua e quer que esta passe a estar sob o domínio de Pequim — ainda não ter desaparecido, as casamatas já não são utilizadas para propósitos de defesa. Actualmente, as estruturas são usadas pelos agricultores como despensas para utensílios, enquanto outras passaram a fazer parte da paisagem e são pontos de interesse procurados por instagrammers.

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Uma casamata junto a uma plantação de chá. REUTERS/Ann Wang

“Acho bizarro que em Taiwan existam imensos bunkers, uma marca de guerra, mas que ninguém saiba para que propósito foram construídos”, diz Chen Kuo-ming, 49 anos, um entusiasta de locais ligados a guerra, que desde 2002 tem vindo a pesquisar e a mapear estas estruturas.

A construção de algumas das casamatas remonta ao tempo em que Taiwan era uma colónia japonesa, antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, terão sido melhoradas quando o governo de Kuomintang voou para Taiwan, em 1949, depois de perder a guerra civil com os comunistas, explica Chen.

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O produtor de ameijoas Ding Long-kai — que não quis revelar a idade, dizendo apenas que estava na casa dos 60 — guarda a memória de criança das casamatas, espalhadas ao longo das praias de Yunlin, na costa Oeste de Taiwan, que olha de frente para a China.

“Era proibido ir para a praia e ficar perto das casamatas”, diz Ding. Mas como a linha da costa mudou e a sua manutenção acabou, muitas das velhas construções acabaram por ser engolidas pela areia, ou rodeadas por produção de amêijoas.

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A paisagem a partir do interior de uma casamata. REUTERS/Ann Wang

“Lembro-me de ver slogans como ‘matem os comunistas’ e ‘reclamem as terras’ escritas nas paredes das casamatas. Mas esta é a única que restou. As outras foram removidas por outros produtores”, adicionou Ding, apontando para o bunker que resta no local onde produz amêijoas.

No topo da costa de Yunlin, em Hsinchu, o funcionário público Lin Zi-xing, 72 anos, tenta proteger as casamatas que permanecem junto da sua casa. Recorda como, em criança, tentava entrar sorrateiramente nos bunkers para brincar, e diz que seria uma pena perder esta parte da história de Taiwan.

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Lin transformou um deles num espaço para crianças e outro numa espécie de museu para turistas, para mostrar a história da zona. “Arranjei muitos problemas com os residentes por causa disto. Parcialmente por causa de problemas relacionados com terras, mas também porque lembra as gerações mais velhas de uma guerra sobre a qual ninguém quer falar”, afirma.

Chen, por sua vez, aponta que os bunkers também são uma espécie de lembrete das tensões que ainda existem entre Taiwan e China. “Não nos podemos esquecer: Taiwan e China ainda são estados hostis.”

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Lee Kuo-Jia, 90, um veterano chinês que chegou a Taiwan com o exército de Kuomintang, em 1947. REUTERS/Ann Wang