“A música de Cabo Verde tem braços abertos para receber qualquer influência”
Tocou 11 anos com Cesária Évora e toca agora com Madonna. Mas é a solo que Miroca Paris apresenta esta sexta-feira no Capitólio, em Lisboa, o seu disco de estreia, D’Alma.
Vive em Portugal há mais de duas décadas e é um dos músicos que integram a digressão Madame X de Madonna. Aproveitando uma “aberta” nos oito concertos da cantora no Coliseu (ainda haverá mais cinco: deste sábado, 18, até à próxima quinta-feira, 23, com nova paragem na segunda-feira), Miroca Paris apresenta-se no Capitólio, em Lisboa, com um espectáculo em nome próprio baseado no seu álbum de estreia, D’Alma, editado em 2017. É esta sexta-feira, às 21h30.
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Vive em Portugal há mais de duas décadas e é um dos músicos que integram a digressão Madame X de Madonna. Aproveitando uma “aberta” nos oito concertos da cantora no Coliseu (ainda haverá mais cinco: deste sábado, 18, até à próxima quinta-feira, 23, com nova paragem na segunda-feira), Miroca Paris apresenta-se no Capitólio, em Lisboa, com um espectáculo em nome próprio baseado no seu álbum de estreia, D’Alma, editado em 2017. É esta sexta-feira, às 21h30.
Miroca Paris nasceu numa família de músicos do Mindelo, em Cabo Verde, a 13 de Dezembro de 1980 (embora do seu registo oficial conste, por engano, 1979). “O meu bisavô oferecia música às pessoas. Abria a porta do quintal, tocava rabeca sozinho e as pessoas sentavam-se ali a ouvir. O meu avô [pai de Tito Paris, que é tio de Miroca] já tocava banjo e foi a primeira pessoa a levar um baixo eléctrico para Cabo Verde.” Mas há mais: “O Tito é o nome mais sonante da nossa família. Mas há os irmãos, Toi Paris, Manuel Paris, os meus primos Nir Paris, Zé Paris, o meu irmão Cau Paris. E as minhas primas, Débora, Inês, são todas cantoras. Agora há também a Sarita, que está a cantar, os filhos do Tito, a minha filha Malu Paris. Ainda são muitos, ligados à música.”
Ter começado pela bateria, aos sete anos, só depois se abalançando a cantar e a tocar guitarra, aos 13, dá-lhe um sentido rítmico que muitos guitarristas não têm. “Não tinha percebido isso, de início. Mas na verdade o meu tocar é muito rítmico e agora isso tornou-se mais claro. Eu preciso do ritmo.” Viajou até Portugal em 1998, uns meses antes da Expo (na qual participou), mas não ficou logo. “Era mais novo e queria aproveitar Cabo Verde.” Andou cá e lá, durante esse ano, até que resolveu assentar em Portugal. “Convenceram-me, a minha mãe e os meus tios, que eu podia ter uma carreira musical.”
Um cocktail de ritmos
D’Alma foi lançado em Dezembro de 2017: “Lançar um disco no final do ano é quase matá-lo, porque só tem um mês. Entretanto, nestes dois anos, já aconteceu muita coisa, a cabeça está sempre a trabalhar, a fazer novos temas, e tudo isso alimenta melhor estas canções.” Apesar de ter novas composições, não vai usá-las neste concerto. “Porque quero aproveitar o disco. O meu primeiro single chama-se Mund amor, por um motivo: não é amor por uma pessoa mas também amor ao próximo, amor à natureza, é não desperdiçar nada. Por isso, quero dar ao disco o caminho que ele merece.” O seu primeiro concerto de apresentação aconteceu no âmbito do festival Womad, em Las Palmas, em Novembro de 2017.
Miroca Paris não pensava gravar um disco. “Trabalhei com a Cesária [Évora] muito tempo. Ia fazendo as minhas composições, mas sem nunca tentar gravar. Mas depois de ela ter falecido achei que talvez tivesse chegado o momento, porque pensei que iria viajar menos. Só que viajei mais, porque comecei a acompanhar seis a dez artistas. E não consegui gravar por causa das tournées. Levei cinco anos até acabar o disco.” Esse tempo, e essa aprendizagem, foram decisivos para fixar uma sonoridade: “Com tudo o que ouvi e aprendi, era impossível fazer um disco puramente cabo-verdiano; seria como se nunca tivesse saído de lá. A música de Cabo Verde já é um cocktail de ritmos, tudo misturado. Porque tem braços abertos para receber qualquer influência.”
Os 11 anos em que acompanhou Cesária Évora (de 2000 a 2011) foram essenciais para a formação da sonoridade a que chegou em D’Alma: “Inspirei-me muito na tournée da Cesária. Conheci muita gente. A Cesária, até aos últimos dias da vida dela, não teve a noção do tamanho que tinha. Os lugares onde a gente tocava! ‘Carnegie Hall? É bonita a sala!’. Ela tinha mais dimensão ainda do que eu pudesse imaginar.”
Foi em Paris, cidade gémea do seu apelido, que Miroca acabou por alargar ainda mais os horizontes da sua música: “Comecei a misturar-me com os latinos, com a África francófona, com os brasileiros. Essa misturada toda, a falarmos de música, de instrumentos, foi uma coisa avassaladora. Depois resolvi voltar para Portugal em 2005, e foi então que gravei com a Sara Tavares o Balancê.”
Mas além de Sara Tavares e, antes dela, Cesária, Miroca tocou com muitas outras vozes ao longo dos últimos anos: Angélique Kidjo, Aline Frazão, Bana, Bonga, Boy Gê Mendes, Camané, Celina Pereira, Cuca Roseta, Nancy Vieira, Teófilo Chantre, Tito Paris. Agora integra a digressão mundial de Madonna, com Madame X: “Ela é muito criativa, a cada segundo ela cria uma coisa, ela pensa, dá sempre ideias; vê uma coisa e já está a pensar como é que aquilo pode crescer, logo! É incrível, o profissionalismo dela!”
Para Miroca Paris, este tem sido mais um patamar de aprendizagem: “Tenho apanhado esse bichinho de querer ser mais criativo. Está-me a passar muita coisa pela cabeça neste momento e o novo disco tem de começar a ser gravado logo depois da tournée.”
No Capitólio, com Miroca Paris (voz, guitarra, percussão), vão estar Vaiss Dias (guitarra, cavaquinho), Cau Paris (bateria), Xico Santos (baixo), Jessica Bras de Pina (trompete), Kalu Ferreira (teclados), Elmano Coelho (saxofones, flauta), além de três convidados: Nancy Vieira, Tito Paris e Ric’key Pageot, pianista e acordeonista de Madonna, que também está a acompanhar a cantora nesta digressão mundial.