Andrew capta os segredos da indústria animal — porque “não temos o direito de ser tão cruéis”

Porcos torturados, galinhas tratadas como máquinas, bezerros postos em cubículos de plástico logo à nascença. Andrew Skowron deixou o emprego para se dedicar a fotografar o interior das fábricas de animais. “Quero mostrar a realidade e protestar contra ela.” Atenção: contém imagens que podem ser consideradas chocantes.

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Andrew Skowron

Andrew Skowron perdeu a conta às fábricas de produção de animais, incubadoras e matadouros que já visitou. Mas sabe dizer o que mais o choca quando se fala em exploração animal: “O facto de nós, enquanto humanidade, permitirmos que todo o sistema de criação intensiva de animais sequer exista.”

O fotógrafo polaco de 43 anos foi criado numa quinta e cresceu a comer “muita carne”. Mas garante que “o ambiente em que nos inserimos traça a nossa identidade e ajuda-nos a escolher um caminho”. “Alguns conseguem vê-lo, outros não”, escreve ao P3. No seu caso, os olhos estão bem abertos. “Decidi não me sentar em frente à televisão com um jornal no colo. Decidi não plantar uma árvore, nem ser pai. Decidi, isso sim, tornar-me um activista, agir contra a crueldade que é a exploração animal.” E, além dos olhos, abriu a objectiva, a sua “arma de eleição”, utilizada para denunciar o que está para lá dos portões das fábricas de todo o mundo.

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Andrew Skowron

Chinchilas, raposas, carpas, patos, porcos, vacas, codornizes, galinhas, coelhos. De muitos animais se faz um “sistema de exploração”. E muitos números consolidam o termo: “todos os anos, cerca de 150 mil milhões de porcos são mortos em todo o mundo”; “para fazer um casaco, entre 120 a 200 chinchilas são mortas”; “para a matança ser eficiente e para evitar o risco de contaminação da carne, os animais podem estar até 12 horas sem comer, antes de serem mortos”, descreve Andrew no seu site.

“Vi porquinhos a serem castrados, patos a serem transportados em temperaturas de 40 graus Celsius, porcos a serem massacrados em matadouros na Tailândia, bezerros a ficarem órfãos no primeiro dia das suas vidas, galinhas poedeiras tratadas como máquinas de ovos”, refere o fotógrafo, que desistiu da carreira de fotojornalista “num dos maiores jornais polacos” para se “dedicar a tempo inteiro aos direitos dos animais”.

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Andrew Skowron

É no seu site que divulga as imagens que capta — e concilia a fotografia com o trabalho numa das maiores instituições de direitos dos animais na Polónia, a Otwarte Klatki, que impulsionou a sua luta para “revelar a verdade brutal do que acontece nos cativeiros”. Como o facto de, por toda a União Europeia, porcos serem fechados em jaulas onde não têm espaço para dar um ou dois passos, para se virarem para o outro lado, para se deitarem ou sentarem.

Os produtores sabem no que consiste o trabalho do fotógrafo — o que não é um impedimento para o deixarem entrar nas quintas. Pode parecer contraditório, mas a explicação para não lhe fecharem as portas é simples: “Na opinião deles, os sistemas de produção acontecem dentro dos trâmites legais.” No entanto, garante, o que Andrew mostra nas fotografias “é a realidade”, sem manipulações ou mentiras. “Como o material é recebido, depende de quem o está a ver.”

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Andrew Skowron

E, na verdade, Andrew não lhes atribui culpas: “Os produtores são, normalmente, boas pessoas. Podemos dizer que, de alguma forma, também eles são vítimas deste sistema de consumismo. É difícil para eles saírem, o mundo gira à volta do dinheiro”, atira. Ainda assim, confessa que nem sempre é fácil conversar com eles, devido às “diferenças de perspectiva”.

“É uma tarefa sísifica”, a de tentar mudar a sociedade — “a intensidade do consumo é aterradora”, lamenta, ainda que acredite que o cenário está a mudar. No entanto, as pessoas continuam a preferir "não saber que a exploração animal existe, porque isso dá-lhes a melhor desculpa” para não mudar de hábitos. “A nossa sociedade trata os animais como bens — explorámo-los até morrerem, privando-os do direito a morrer com dignidade”, atira.

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Transporte de porcos Andrew Skowron

A mudança pode passar pelo “despertar da empatia”. E é precisamente isso que Andrew pretende com o seu trabalho — que as fotografias sejam “a tão necessária chamada de atenção”. “Quero mostrar a realidade e protestar contra ela”, aponta. E, claro, levar algumas pessoas a mudar hábitos alimentares: “Devemos respeitar os que são objectificados pelo sistema.”

Quase como uma mensagem de esperança, Andrew regista também santuários de animais que escaparam a esta realidade. Como Maciek, uma raposa que foi resgatada de uma quinta de produção de pêlo quando tinha apenas quatro meses de vida, devido a uma infecção numa pata. “Maciek não recebeu tratamento quando estava na quinta porque isso simplesmente não dá lucro aos produtores. A ideia era que fosse abatida algumas semanas depois.”

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Andrew Skowron

A pata acabou por ser amputada, “mas Maciek parece não querer saber” — está demasiado feliz no santuário, a sua nova casa, onde brinca com Klara, a sua melhor amiga. “Nunca mais vai ter que experienciar o horror de uma fábrica outra vez.”

Quanto a Andrew, vai continuar a documentar e “expor os segredos da indústria animal”. Porque “não importa onde vivemos, os animais são tratados da mesma forma em todo o mundo”. “E eu quero dizer ao mundo que não temos o direito de ser tão cruéis.”

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Andrew Skowron