Rio aposta no centro porque os votos estão à esquerda
Directas de próximo sábado não são para o presidente do PSD coisa de vida ou de morte e afirmou não ter delfim à sua sucessão.
“Tenho de crescer onde estão os votos e os votos estão à esquerda”, disse esta terça-feira Rui Rio a três dias da segunda volta das directas do seu partido, justificando o seu apego ao centro em contraste com a proclamação assumidamente de direita do seu rival Luís Montenegro.
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“Tenho de crescer onde estão os votos e os votos estão à esquerda”, disse esta terça-feira Rui Rio a três dias da segunda volta das directas do seu partido, justificando o seu apego ao centro em contraste com a proclamação assumidamente de direita do seu rival Luís Montenegro.
“O PSD é tradicionalmente o partido do centro, do equilíbrio, onde estão a maioria dos portugueses, se perdermos o centro temos mais dificuldades em crescer, onde temos de crescer é na camada moderada da sociedade, temos de crescer onde estão os votos, que estão mais à esquerda”, disse o presidente do PSD em entrevista à Antena 1.
“Faço isto não por aritmética, mas por convicção”, acentuou, depois de dizer que, actualmente, à direita do PSD há sete parlamentares, os cinco do PP e os dois deputados únicos do Chega e da Iniciativa Liberal. Assim, uma afirmação à direita, tendo por base os resultados das legislativas de 6 de Outubro, seria insuficiente para transformar o PSD em alternativa ao poder socialista.
Outra diferença com Montenegro, que desafiou a liderança de Rio em Janeiro de 2019 e agora se apresenta às directas, reside, precisamente, no timing das disputas. “Diria que o PSD não pode mudar de líder como quem muda de camisa, não pode triturar líderes, assim o PSD não merece a confiança dos portugueses, não era assim no tempo de Sá Carneiro”, referiu.
Uma terceira diferença que estabeleceu com o ex-líder da bancada parlamentar laranja, prende-se com o modelo de oposição. Luís Montenegro criticou a actual liderança por uma estratégia oposicionista frouxa, reparo e que Rui Rio respondeu. “A oposição serve o país tal como o Governo, como oposição deve ser a favor do país, o que não quer dizer que não seja combativa”, esclareceu. Do mesmo modo, classificou como “fantasma para consumo interno” os avisos que admitem o apoio do PSD ao Orçamento de Estado de 2021, se o Governo do PS perder o suporte à esquerda.
Quanto às autárquicas de 2021, que Montenegro antevê como de vitória do PSD, Rio fez vários reparos. Desde 2009, que o seu partido tem vindo a perder cota eleitoral nos municípios e freguesias. “Mais que eleger muitos presidentes de Câmara é eleger mais vereadores, temos de reforçar fortemente e a nossa implantação autárquica”, considerou, tanto em maiorias absolutas em câmaras como com vereadores na oposição.
O presidente do PSD comentou, ainda, o conteúdo do seu Twitter publicado nesta segunda-feira, em que acusava implicitamente Luís Montenegro de ter duas medidas na apreciação dos resultados das directas de passado sábado e das legislativas de 2019. Nas eleições internas, 8,1% permitiram a Rio ir para a segunda volta à frente, um score que não foi classificado como desastroso por Montenegro. Já nas legislativas, em que o PSD ficou a 8,5% do PS, os críticos à liderança de Rio afirmaram ter sido um desastre político.
“[O tweet] foi uma brincadeira, não é zombar, é utilizar a ironia, gosto muito de levar a vida com humor, acho que tenho algum”, respondeu o presidente do PSD às críticas. Luís Montenegro respondeu, esta manhã, também no Twitter, considerando que a “arrogância” da “graçola não enobrece a política, o PSD e o seu autor”. “Quando o país e o nosso PSD precisavam de um debate televisivo sério e esclarecedor Rui Rio recusou-o por ter medo que fosse desprestigiante. Percebe-se mais uma vez porquê...e por quem”, escreveu o antigo líder da bancada.
Sobre as eleições de passado sábado, Rio foi sucinto. “Não houve nada que me tivesse surpreendido”, disse. Quanto à próxima ida às urnas, mostrou-se confiante. “Na segunda volta, tudo indica que vamos ganhar, mas se perdermos está tudo bem, não dramatizem, não vejam isto como uma táctica”, aconselhou. “Estou aqui para, através do PSD, servir o país, não é a minha carreira, não é uma coisa de vida ou de morte”, insistiu.
Por fim, foi cauto sobre o futuro. Confirmou se ganhar as directas e depois do Congresso de Fevereiro que abandonará a liderança da bancada parlamentar. E negou ter escolhido o seu substituto. “Neste momento, não tenho delfim”, garantiu.