Começou o julgamento do caso que revelou pedofilia na Igreja Católica em França

Os abusos ocorreram entre 1985 e 1991. Bernard Preynat enfrenta uma pena de dez anos de prisão.

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Abusos perpetrados pelo padre Bernard Preynat foram retratados no filme Graças a Deus, estreado em Portugal em Dezembro EPA/ALEX MARTIN

O ex-padre Bernard Preynat, a quem foi retirado o estatuto de clérigo em Julho, começou esta terça-feira a ser ouvido no Tribunal de Lyon, no âmbito de um processo que trouxe à luz casos de pedofilia na Igreja francesa.

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O ex-padre Bernard Preynat, a quem foi retirado o estatuto de clérigo em Julho, começou esta terça-feira a ser ouvido no Tribunal de Lyon, no âmbito de um processo que trouxe à luz casos de pedofilia na Igreja francesa.

No banco das testemunhas de acusação está a dúzia de vítimas de abusos por parte do padre, sofridos entre 1985 e 1991. Preynat deixou claro desde o início que não tenciona negar a acusação: “Reconheço os factos. Naquela época, não percebi sua seriedade”, disse aos investigadores. Com a voz embargada, Preynat, que agora tem 75 anos e enfrenta uma pena que pode chegar a dez anos de prisão e uma multa de 150.000 euros, disse que foi capaz de abusar de “quatro ou cinco crianças por semana” e que o fez nos fins-de-semana quando os levava a acampar.

“Não achei que estivesse a cometer agressões sexuais”, disse o ex-sacerdote, que, no entanto, confessou que sabia que o que estava a fazer não era permitido e que por isso o fazia em segredo. Foram as queixas das vítimas que lhe deram a consciência de de que as suas carícias e toques causavam danos às crianças que, agora adultos, reconheciam que continuavam a carregar sequelas.

Este processo é retratado no filme Graças a Deus, de François Ozon, estreado internacionalmente em Fevereiro de 2019, coincidindo com um outro julgamento paralelo, que encerrou a sentença de seis meses de prisão com pena suspensa do cardeal e arcebispo de Lyon, Philippe Barbarin, por ter encoberto Preynat.

Durante a investigação, o padre confessou que também foi vítima de abuso na infância e que começou a cometer abusos na sua juventude, entre 16 e 17 anos, quando era monitor em colónias de férias. No seminário, os sinais de alerta continuaram, o que levou os seus superiores a inscrevê-lo numa terapia psiquiátrica entre 1967 e 1968, mas isso não o impediu de ser ordenado sacerdote em 1971. Enviado para a paróquia de Saint-Luc de Sainte-Foylès, nos arredores de Lyon, Preynat tornou-se numa figura influente, muito querida pelas grandes famílias locais. Após uma breve passagem por um convento de freiras, Preynat foi enviado para a pequena cidade de Neulise.

No verão de 2015, uma das vítimas, Alexandre Hezez, iniciou uma batalha para remover Preynat do clero. Antes da inacção do arcebispado, dirigida por Barbarin, Hezez escreveu ao Papa Francisco e ao promotor e apresentou uma queixa, que trouxe à luz o caso que abalou os fundamentos da Igreja francesa. A investigação canónica foi mais rápida do que o normal e não esperou o civil, tendo-lhe sido retirado o estatuto de clérigo em Julho de 2019.

O Ministério Público abriu uma investigação e as vítimas organizaram-se numa associação, La Parole Libérée (A Palavra Libertada, à letra), que acumulou testemunhos de vítimas. A onda de choque levou Barbarin à frente e forçou a Igreja francesa criar procedimentos para combater a pedofilia, tendo sido criada uma comissão interna para detectar novos casos.