Exposição ao chumbo ligada à diminuição do volume do cérebro

Equipa de cientistas realizou testes cognitivos a quase 12 mil crianças entre os nove e os dez anos nos Estados Unidos para perceber melhor a relação entre a exposição ao chumbo e à estrutura cerebral.

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Risco da exposição ao chumbo está ligada à diminuição do volume do córtex cerebral Miguel Manso

Já se sabia que o risco de exposição ao chumbo pode estar associado a défices cognitivos. Também não é novidade que a pobreza tem impacto no cérebro. Mas a equipa coordenada por Elizabeth Sowell queria explorar mais essas questões. Como tal, fez testes cognitivos a quase 12 mil crianças nos Estados Unidos e verificou que o elevado risco de exposição ao chumbo (agravado pela pobreza) estava associado a resultados mais baixos nesses testes, sobretudo em crianças de famílias com baixos rendimentos, assim como à diminuição do volume do córtex cerebral. Desta forma, confirma-se – mais uma vez – que a pobreza tem impactos no cérebro.

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Já se sabia que o risco de exposição ao chumbo pode estar associado a défices cognitivos. Também não é novidade que a pobreza tem impacto no cérebro. Mas a equipa coordenada por Elizabeth Sowell queria explorar mais essas questões. Como tal, fez testes cognitivos a quase 12 mil crianças nos Estados Unidos e verificou que o elevado risco de exposição ao chumbo (agravado pela pobreza) estava associado a resultados mais baixos nesses testes, sobretudo em crianças de famílias com baixos rendimentos, assim como à diminuição do volume do córtex cerebral. Desta forma, confirma-se – mais uma vez – que a pobreza tem impactos no cérebro.

As conclusões dos estudos sobre o impacto da pobreza no cérebro não têm deixado muitas dúvidas. Num desses estudos, publicado em 2013 na revista científica Science, analisou-se o desempenho cognitivo de frequentadores de um centro comercial dos Estados Unidos (com rendimentos anuais desde os 53 mil euros até aos 15 mil euros) e de agricultores na Índia. Concluiu-se que os esforços necessários para enfrentar problemas materiais esgotavam as capacidades mentais das pessoas mais pobres, o que as deixava com pouca energia cognitiva para se dedicarem à sua formação ou à educação.

Há algum tempo que a equipa de Elizabeth Sowell (da Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA) também se dedica a este tema. Até agora, tinha colocado a hipótese de que as crianças de famílias com menos rendimentos poderiam ser particularmente vulneráveis aos efeitos do risco à elevada exposição ao chumbo. Noutros estudos, tinha mostrado que o estatuto socioeconómico das famílias afectava o desenvolvimento cerebral.

Desta vez, decidiu analisar a associação do risco da exposição ao chumbo à estrutura cerebral. Para isso, fez-se testes cognitivos a quase 12 mil crianças com nove e dez anos de 21 locais dos Estados Unidos. Além destes testes, a equipa recolhe informações sobre o desenvolvimento cerebral e acompanha os participantes até à idade adulta.

Neste estudo, participaram crianças de famílias com rendimentos de menos de 45 mil euros por ano até crianças de famílias com rendimentos de mais de 90 mil euros anuais.

Quanto às concentrações de chumbo, destaca-se que a gasolina com chumbo e a tinta com chumbo já foram sido proibidas nos EUA, mas que mesmo assim a exposição ao chumbo continua a ser um problema. Só nos Estados Unidos há mais de 72 mil bairros – com casas mais velhas ou com maiores taxas de pobreza – em que ainda existe esse risco. “A remoção do chumbo numa casa pode custar dez mil dólares [cerca de nove mil euros]. Por isso, o rendimento da família torna-se um factor a ter em conta”, assinala Elizabeth Sowell, num comunicado sobre o trabalho. “Provavelmente, as crianças mais pobres vivem em casas mais antigas, menos conservadas e continuam a enfrentar os riscos do chumbo.” A cientista refere ainda que esta substância pode ser prejudicial até em pequenas quantidades.

Não se pode generalizar

Em média, as crianças de famílias com rendimentos mais elevados tiveram um melhor desempenho nos testes cognitivos do que as crianças de famílias com rendimentos mais baixos. “Mas houve uma grande sobreposição entre os grupos relativamente aos resultados”, realça ao PÚBLICO Andrew Marshall, também da Universidade do Sul da Califórnia e primeiro autor do grupo. “Percebemos que a espessura, a área superficial e o volume do córtex cerebral eram maiores nas crianças de famílias com mais rendimentos.”

Juntando todas as peças, os autores indicam que o estudo agora publicado na revista científica Nature Medicine sugere que um volume mais pequeno no córtex cerebral está associado a resultados cognitivos mais baixos, sobretudo em crianças que correm o risco de estar expostas ao chumbo.

E por que é que isto acontece? Elizabeth Sowell responde que estudos anteriores já tinham sugerido que o chumbo é uma substância neurotóxica, o que significa que causa danos ao cérebro. Contudo, a equipa quer perceber melhor a relação entre o chumbo, o cérebro e a pobreza. Num dos trabalhos futuros, pretende analisar os níveis de chumbo no sangue das crianças.

Elizabeth Sowell avisa ainda que os rendimentos da família e a exposição ao chumbo não definem uma criança nem o seu trajecto de vida. “Este estudo não é uma conclusão absoluta de que esses riscos tornam uma criança menos apta a nível intelectual. Muitas crianças que vivem com menos rendimentos e em áreas de elevado risco serão muito bem sucedidas”, diz, salientando que muitas crianças de famílias com menos rendimentos tiveram bons resultados nos testes cognitivos.

Portanto, a sua grande missão é alertar para os riscos da exposição ao chumbo e que isso seja evitado: “É importante que as comunidades conheçam este risco e espero que o nosso estudo ajude a identificar soluções para mitigá-lo.”