Única medalhada do Irão desertou: “Sou uma de milhões de mulheres oprimidas”
Kimia Alizadeh venceu medalha de bronze em taekwondo nos Jogos Olímpicos do Brasil, em 2016. Desportista denunciou repressão do regime de Teerão em publicação no Instagram.
“Deixem-me começar com uma saudação, um adeus, ou as minhas condolências”: foi desta forma que Kimia Alizadeh, a única iraniana a conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos, iniciou um longo texto onde enunciou as razões para ter deixado o Irão, num momento em que o país do Médio Oriente regista um tenso conflito com os Estados Unidos.
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“Deixem-me começar com uma saudação, um adeus, ou as minhas condolências”: foi desta forma que Kimia Alizadeh, a única iraniana a conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos, iniciou um longo texto onde enunciou as razões para ter deixado o Irão, num momento em que o país do Médio Oriente regista um tenso conflito com os Estados Unidos.
A jovem de 21 anos arrecadou a medalha de bronze em taekwondo, na categoria -57 kgs, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. A conquista catapultou-a para um lugar de destaque no desporto iraniano, visto ser a única mulher a subir ao pódio nas Olimpíadas. Contudo, Kimia não aguentou a repressão sofrida pelas mulheres iranianas, denunciando, no Instagram, como se sentiu desvalorizada durante anos, enquanto desportista e pessoa.
“Levavam-me para onde queriam. Usava aquilo que eles diziam. Todas as frases que me diziam para proferir, eu repetia. Sempre que pretendiam, exploravam-me”, relembra. A desportista acusa o regime de Teerão de criticar internamente a modalidade por ela escolhida, apesar de se gabar da distinção conquistada no Rio de Janeiro. “Não era importante para eles. Nenhuma de nós importava, éramos ferramentas. [Eles diziam que] a virtude de uma mulher não era esticar as pernas!”, exaspera.
A BBC escreve que a agência noticiosa Isna avançou que a desportista está na Holanda, mas Kimia mantém a sua localização secreta. A mesma fonte detalhou que a iraniana gostaria de competir por outro país nos Jogos Olímpicos de Tóquio, com início a 24 de Julho de 2020. Por sua vez, a CNN adianta que o dirigente da Federação de Taekwondo iraniana, Seyed Mohammad Pouladgar, afirmou que a desportista terá dito ao pai e ao treinador que esta viagem fazia parte das férias, escondendo o seu objectivo de se afastar definitivamente do país.
Apesar de as fontes oficias negarem que a desportista tenha mudado de país devido à situação política e social, foi a própria Kimia Alizadeh a desmentir essa narrativa. Citada pela BBC, a jovem afirmou mesmo que não se queria “sentar à mesa da hipocrisia” e compactuar com a “corrupção e mentiras” do regime de Teerão, depois de se ter considerado como “uma de milhões de mulheres oprimidas” no país. Mesmo assim, garantiu que esta decisão foi mais difícil do que a luta pela medalha no Brasil, deixando a promessa de que será sempre “uma filha do Irão”.
O líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei, enfrenta forte contestação, após as autoridades terem admitido que o avião ucraniano que se despenhou na capital com 176 pessoas a bordo foi abatido por um míssil iraniano. Para além deste incidente, as últimas semanas têm sido marcadas por uma forte crispação com os Estados Unidos: os países têm trocado ameaças e ataques, depois de uma operação do Pentágono ter culminado na morte do general Qasem Soleimani em Bagdade, acção militar que serviu como resposta à invasão da embaixada norte-americana no final de Dezembro.