Piloto português Paulo Gonçalves morre no Dakar
Antigo campeão mundial de motociclismo todo-o-terreno morreu na sequência de uma queda na etapa deste domingo. Tinha 40 anos.
O piloto português Paulo Gonçalves morreu durante a sétima etapa do Rali Dakar, na Arábia Saudita, em que participava em moto. A informação é avançada pela organização da prova.
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O piloto português Paulo Gonçalves morreu durante a sétima etapa do Rali Dakar, na Arábia Saudita, em que participava em moto. A informação é avançada pela organização da prova.
O português de 40 anos morreu após uma queda ao quilómetro 276 da etapa deste domingo, detalha a organização, que acrescenta que o piloto foi encontrado pela equipa médica inconsciente e em paragem cardio-respiratória. O alerta foi dado às 10h08 horas locais, menos três em Lisboa, e foi enviado de imediato um helicóptero que chegou junto do piloto às 10h16.
Após sucessivas tentativas de reanimação, o óbito foi declarado no hospital de Layla, na Arábia Saudita. “Toda a caravana do Dakar envia condolências à sua família e amigos”, completa a organização.
Paulo Gonçalves participava pela 13ª vez no Rali Dakar, tendo alcançado o segundo lugar na edição de 2015 — o ano de 2006 foi a sua estreia na prova. Foi campeão do mundo em motociclismo todo-o-terreno em 2013 e vice-campeão em 2014. Ocupava a 46.ª posição das motas à partida para esta etapa.
"O desporto e Portugal ficam mais pobres"
Marcelo Rebelo de Sousa lamentou este domingo a morte do piloto português. Numa nota publicada na página da Presidência da República, o Presidente apresenta à família “as mais sentidas condolências” e diz que Paulo Gonçalves sempre foi um “digníssimo representante de Portugal”.
“Paulo Gonçalves morreu a tentar alcançar o sonho de vencer uma das mais duras e perigosas provas de rally do mundo, na qual foi sempre um digníssimo representante de Portugal, chegando a alcançar o segundo o lugar em 2015”, lê-se na nota.
Por sua vez, o primeiro-ministro, António Costa, lembrou Paulo Gonçalves como “um atleta de excepção”, “um exemplo de ética, altruísmo e sã competição”. “Foi Prémio Nacional de Ética no Desporto de 2016. As mais sentidas condolências à sua família”, escreveu o primeiro-ministro no Twitter.
Os pilotos portugueses António Félix da Costa (Fórmula E) e Miguel Oliveira (MotoGP) também lamentaram a morte do piloto. “Descansa em paz, guerreiro Paulo. O desporto e Portugal ficam hoje mais pobres. Até sempre, Campeão!”, escreveu Félix da Costa na rede social Facebook, acompanhando a publicação com uma fotografia do piloto de Esposende.
Já Miguel Oliveira disse que Paulo Gonçalves deixou “uma marca profunda na vida de quem teve o privilégio de se cruzar” consigo. “A tua coragem e valentia são exemplos para todos nós. DEP [Descansa em paz]”, escreveu na mesma rede social o piloto de MotoGP.
Também o presidente da Federação Internacional de Motociclismo (FIM), o português Jorge Viegas, prestou a sua homenagem ao piloto, dizendo que “o motociclismo português está de luto muito carregado”. “Não posso estar mais triste. Era um piloto que adorava e que conhecia desde pequenino. Era um exemplo como piloto e como pessoa”, começou por dizer Jorge Viegas à Lusa, revelando que foi acordado por David Castera, o director da prova, que lhe deu a notícia.
“Disse-me que o encontraram já morto. Foi em recta, o que é estranho. Não sabem o que aconteceu”, contou. O presidente da FIM aproveitou para “endereçar mais sentidos pêsames à família”. “O motociclismo português está de luto muito carregado. O Paulo era sempre uma alegria onde chegava e era muito boa pessoa”, concluiu Jorge Viegas.
O piloto português Tiago Monteiro, antigo corredor na Fórmula 1 e actualmente a competir na Taça do Mundo de carros de turismo (WTCR), lembra Paulo Gonçalves como “uma pessoa incrível”. “Um guerreiro, uma pessoa incrível. Descansa em paz amigo. Gone too soon [partiu demasiado cedo]”, escreveu o piloto português nas redes sociais.
Também o Benfica lamentou a morte de Speedy Gonçalves, lembrando a parceria durante vários anos entre “um dos mais credenciados pilotos portugueses de sempre” e o clube, lembrou o Benfica na sua página oficial.
"Um lutador, um profissional"
O antigo piloto Paulo Marques lembra “um lutador” em Paulo Gonçalves.”O Paulo era um lutador, um profissional. Ninguém merece uma coisa destas, mas ele ainda menos. Era daqueles que nunca desistia”, disse Paulo Marques à agência Lusa.
O antigo piloto de Famalicão era o director da equipa Honda que levou Paulo Gonçalves pela primeira vez ao Rali Dakar, em 2006. “Correu para mim em 2006. Correu no enduro na minha equipa e arranjámos condições para ele ir ao Dakar. Era um piloto muito forte fisicamente e com uma cabeça muito determinada. Era um profissional”, recorda Paulo Marques.
O “Marquês”, primeiro português a ganhar uma etapa nas motas no Dakar, acredita que o piloto de Esposende “ainda tinha muito para dar na prova”, onde deixa “um legado”. “É dos pilotos com maior palmarés português”, recorda Paulo Marques, que lembra “uma pessoa pacata, nortenho de gema, com piada”. “Gostava de estar sempre com os amigos. Era uma pessoa muito querida”, concluiu, emocionado.
A antiga equipa do piloto, a Monster Energy Honda, disse este domingo que nunca esquecerá o “amigo”. “O nosso amigo e antigo corredor da Team HRC (2013-2019) Paulo Gonçalves morreu hoje durante a sétima etapa do Rali Dakar de 2020. A equipa Monster Energy Honda queria estender as condolências à sua família e amigos. Descansa em paz, Paulo. Nunca te esqueceremos”, lê-se numa mensagem da equipa nipónica na rede social Twitter.
O presidente da Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), Manuel José Marinheiro, classificou como “uma notícia triste e trágica” a morte do motard. Segundo Manuel Marinheiro, o português, de 40 anos, “era um apaixonado da vida e das motas”, lembrando-o como “o piloto com mais títulos de campeão nacional”, mas acima de tudo como “um excelente homem”. “Começou no motocrosse, passou pelo enduro e pelo todo-o-terreno, em todas as modalidades que praticou foi campeão” disse, acrescentando: “O Paulo era um piloto de excelência e respeitado por todos os adversários”.
Manuel Marinheiro referiu que o piloto era também um apaixonado pelo Dakar, onde teve “excelentes resultados” entre os quais um segundo lugar em 2015. “Agora nos últimos anos a sua paixão era o Dakar, com excelentes resultados. Todos os anos, todos esperávamos uma vitória do Paulo que, infelizmente, já não vai acontecer. Fica-nos a saudade, mas a memória do excelente piloto que ele foi e dos resultados brilhantes que teve”, afirmou.
"Speedy Gonçalves"
Treze anos de Dakar marcaram a vida do piloto que nasceu a 5 de Fevereiro de 1979 em Esposende. Paulo Gonçalves cedo se começou a destacar no mundo das motos em Portugal — tanto que os seus primeiros passos foram dados no Motocross.
As aventuras no Dakar só começam, aos 27 anos de idade, em 2006, na sua estreia. Nesse ano, terminou na 25ª posição e no ano seguinte, o último Dakar em África, Speedy Gonçalves, como também era conhecido no meio desportivo, sobe para a 23ª posição. Em 2009, dois anos depois (em 2008 o rali não se realizou), Paulo Gonçalves regressa ao Dakar e termina a prova no décimo lugar.
O episódio de fair play com Despres
Nos dois anos seguintes, o piloto teve de abandonar a prova antes do final, mas em 2012, Paulo Gonçalves já era apontado novamente como um dos principais candidatos à vitória. Nesse mesmo ano, o piloto, conhecido pelo seu fair play, voltou atrás para ajudar Cyril Despres, um concorrente da França, a tirar a moto de um lamaçal.
Foi durante a oitava etapa do Dakar que Despres ficou com a moto presa numa zona de barro e debatia-se com grandes dificuldades em levantar a moto. Speedy Gonçalves passou perto e decidiu voltar atrás para ajudar. Este gesto fez com que Paulo Gonçalves ficasse também preso na lama. O piloto português ajudou Despres a soltar a moto, mas depois não teve a ajuda do francês. Despres montou na sua KTM e arrancou, deixando Gonçalves entregue à própria sorte.
Com a ajuda de uns espectadores, o piloto português lá conseguiu tirar a moto da lama, mas o incidente acabou por o atrasar. O piloto português perdeu mais de 15 minutos relativamente a Cyril Despres, que terminou a etapa em sétimo. Já Paulo Gonçalves ficou em 15.º lugar na oitava etapa, a 24 metros e 26 segundos do vencedor da etapa, Marc Coma, e terminou o Dakar na 26.ª posição.