Câmara de Lisboa limita circulação de carros na Av. Liberdade, Baixa e Chiado

A cidade já é a Capital Verde Europeia 2020. A cerimónia de arranque teve muitos discursos e a festa foi contra-balançada por protestos de quem acha que tudo não passa de propaganda vestida de verde.

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Medina partilhou o palco com António Costa, António Guterres e Frans Timmermans, vice-presidente da recém-empossada Comissão Europeia NUNO FERREIRA SANTOS

A pergunta era sobre se os políticos estão verdadeiramente empenhados em resolver os problemas ambientais ou se apenas querem ficar bem na fotografia. Na plateia, onde adolescentes e jovens contornavam o aborrecimento espreitando os smartphones, surgiram de repente umas folhas com dizeres: “Este Governo não é verde”, “Rio Tejo poluído não é verde”, “Gás natural nos autocarros não é verde”, “Dizer verde não é verde”.

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A pergunta era sobre se os políticos estão verdadeiramente empenhados em resolver os problemas ambientais ou se apenas querem ficar bem na fotografia. Na plateia, onde adolescentes e jovens contornavam o aborrecimento espreitando os smartphones, surgiram de repente umas folhas com dizeres: “Este Governo não é verde”, “Rio Tejo poluído não é verde”, “Gás natural nos autocarros não é verde”, “Dizer verde não é verde”.

A pergunta tinha sido feita a Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, que partilhava o palco com António Costa, António Guterres e Frans Timmermans, vice-presidente da recém-empossada Comissão Europeia. O autarca, que a princípio reagiu com estranheza àqueles cartazes, não se atrapalhou e decidiu responder antes ao que eles diziam do que a quem o questionara, um jovem do movimento Fridays for Future, também responsável por aquela mini-manifestação.

“Procurem no Google e no Youtube o que era o Tejo há 30 anos e há 15 anos”, disse Medina, arrancando um grande aplauso da assistência e animando uma cerimónia que já então estava longa e monótona, com discurso atrás de discurso.

Por essa altura, Lisboa ainda não era oficialmente Capital Verde Europeia 2020 mas viria a sê-lo daí a pouco, às 17h36, quando o autarca de Oslo passou a pasta à capital portuguesa e José Sá Fernandes, vereador do Ambiente, começou aos saltos no palco do Pavilhão Carlos Lopes. Foi então que Medina definiu prioridades para o ano – que correspondem às que o presidente dissera ao PÚBLICO há uns dias – e anunciou a criação de uma nova Zona de Emissões Reduzidas (ZER) na Baixa e no Chiado, abrangendo também a Av. da Liberdade.

O autarca não explicou ainda nem como nem quando esta medida vai entrar em vigor, mas disse que pretende “reduzir a circulação automóvel ao mínimo indispensável” naquela zona da cidade. “Temos a confiança de ter um sistema de transportes públicos que vai responder bem”, afirmou.

Exceptuando uma medida relativa à construção de casas para o Programa de Renda Acessível, o discurso de Medina focou-se muito na mobilidade. Mesmo quando falou do novo parque urbano da Praça de Espanha, cujas obras arrancam na segunda-feira, referiu-se ao estado actual daquele local como “o símbolo do domínio automóvel sobre tudo o resto”.

“Lisboa Verde ainda está longe”

O momento em que os jovens exibiram os cartazes não foi o primeiro do género durante a tarde. Mais de duas horas antes, quando a cerimónia se iniciou no alto do Parque Eduardo VII com o hastear de uma bandeira portuguesa feita com plástico marítimo reciclado e a primeira ronda de discursos, activistas do movimento Extinction Rebellion tentaram entregar pequenas árvores aos responsáveis políticos. Marcelo Rebelo de Sousa, que zarpou depois de cantado o hino, não recebeu nenhuma, assim como António Costa e António Guterres.

Fernando Medina, pelo contrário, acedeu a que um dos jovens furasse a barreira de seguranças e fotojornalistas e ficou com a árvore. Com ela vinha um recado: “A Lisboa Capital Verde ainda está longe! (…) Não iremos deixar que varram os problemas actuais para debaixo deste lindo tapete verde que estamos a criar.”

O Extinction Rebellion, explicou um dos seus membros ao PÚBLICO, “é contra o greenwashing”, que se pode traduzir por fazer exactamente o contrário do que se apregoa dando-lhe, no entanto, uma aparência amiga do ambiente. Estes activistas pensam que é isso que se está a passar, por exemplo, com a expansão do aeroporto da Portela e com a construção de um novo no Montijo.

António Costa, que não se tinha referido ao assunto no discurso, aproveitou a presença dos cartazes para dizer que acredita que “provavelmente os aviões em 2050 não vão ser tão poluentes como hoje são” e que, mesmo que tudo se mantenha igual, o Governo já previu a compensação carbónica necessária. A associação ambientalista Zero, cujo presidente Francisco Ferreira também esteve presente, desmentiu entretanto o primeiro-ministro no Facebook.

O chefe de Governo disse à plateia que Portugal está no bom caminho para a neutralidade carbónica em 2050 e que os anos que nos separam de 2030 são os mais difíceis. Anunciou que a residência oficial, em São Bento, vai ser neutra já este ano e que, a partir de Fevereiro, “todos os ministros só circularão na Área Metropolitana com viaturas eléctricas”.

Pouco depois, o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, aconselhou Costa a pôr o Governo a andar antes de bicicleta. “Vocês deviam todos andar de bicicleta. Acreditem em mim, sou holandês”, riu-se.