São Pessoas: Retrato da “precariedade escondida”
O livro e a exposição dos fotojornalistas Adriano Miranda e Paulo Pimenta, que serão apresentados este sábado no Mira Fórum, Porto, resultam da recolha, ao longo de um ano, de histórias de pessoas que deram a cara pela “fragilidade do ser humano”.
Jaime Filipe, 66 anos, já teve uma vida muito diferente. De uma zona rural perto do Pinhal Novo, nasceu e cresceu no seio de uma família “humilde”, assim como os seus seis irmãos. Na infância comia o que os seus pais colhiam da terra. O dinheiro não dava para ir ao supermercado, nem para comprar sapatos, mas, graças à horta, nunca faltou comida no prato. Depois de fazer a quarta classe, continuou os estudos e tirou Artes Gráficas em Braga. Quando terminou, voltou ao concelho de Setúbal e foi trabalhar para um jornal local onde foi ganhando espaço até chegar a repórter. Mais tarde mudou de ofício e foi trabalhar para a Lisnave, numa altura em que os estaleiros navais passavam pelo melhor período de actividade.
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Jaime Filipe, 66 anos, já teve uma vida muito diferente. De uma zona rural perto do Pinhal Novo, nasceu e cresceu no seio de uma família “humilde”, assim como os seus seis irmãos. Na infância comia o que os seus pais colhiam da terra. O dinheiro não dava para ir ao supermercado, nem para comprar sapatos, mas, graças à horta, nunca faltou comida no prato. Depois de fazer a quarta classe, continuou os estudos e tirou Artes Gráficas em Braga. Quando terminou, voltou ao concelho de Setúbal e foi trabalhar para um jornal local onde foi ganhando espaço até chegar a repórter. Mais tarde mudou de ofício e foi trabalhar para a Lisnave, numa altura em que os estaleiros navais passavam pelo melhor período de actividade.
Nos tempos livres, foi-se “educando” com a leitura de livros de vários géneros, embora tenha uma preferência pela área da Filosofia. Sempre que a agenda permitia, ia a espectáculos de música — ouve de Pink Floyd ou Leonard Cohen até Richard Wagner.
Há cerca de 20 anos, quando os estaleiros fecharam, ficou sem emprego. Já com mais de 40 anos deparou-se com uma realidade contra a qual não conseguiu lutar: o corpo dizia-lhe que ainda era novo, mas o mercado de trabalho teimou em dizer-lhe o contrário. Desde então esteve quase sempre desempregado, como ainda está hoje, enquanto espera pela reforma.
A “papelada” já deu entrada em Novembro. Acredita que em breve terá uma resposta. Até lá vive com “uma ajuda” da segurança social de “cento e poucos euros” — não chega para poder ter a vida que tinha antes.
Mora hoje numa casa de família sem “água da companhia”. Depende do poço e da chuva para poder ter acesso a um bem essencial que “muitas vezes escasseia”. Já não vai a concertos — o dinheiro não lhe chega —, mas continua a ler. Neste momento espera que o que vai auferir de reforma lhe chegue para encontrar um espaço com outras condições.
Jaime é um de muitos outros exemplos que viram a vida passar-lhes rasteiras sem que parecesse previsível acontecer. É também uma das cerca de 40 pessoas retratadas no livro que Adriano Miranda e Paulo Pimenta, fotojornalistas do PÚBLICO, lançam este sábado ao mesmo tempo que inauguram no Mira Fórum, em Campanhã, uma exposição com o mesmo tema.
São Pessoas, uma edição independente, é um retrato da precariedade no sentido mais lato. Por trás das imagens há histórias de isolamento, pobreza, toxicodependência, exclusão, racismo ou violência doméstica. Durante um ano, os autores percorreram o país de norte a sul — só não passaram pelas ilhas —, reunindo retratos de pessoas que “são iguais a todas as outras”, mas estão a passar por uma fase menos positiva.
Com textos de Ana Cristina Pereira (prefácio), Camilo Soldado, Mariana Correia Pinto e Patrícia Carvalho e um vídeo de Ana Marques Maia, este trabalho debruça-se sobre a ideia de que basta uma peça do puzzle da vida mover-se para que uma pessoa tenha de reformular os seus sonhos. “É um trabalho sobre precariedade escondida e sobre a fragilidade do ser humano”, resumem os autores.