O Palácio de Valflores “já não vai cair”, agora é preciso dar-lhe um uso

Bernardino Soares gostaria de ver “uma instituição importante” instalada na casa do século XVI que foi salva do colapso em Santa Iria de Azóia.

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Entramos na grande sala do Palácio Valflores e o arquitecto José Aguiar avisa: “Estão a assistir a um milagre. Este edifício estava em risco de desaparecer. Onde estão agora não podiam estar sem correr risco de vida.”

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Entramos na grande sala do Palácio Valflores e o arquitecto José Aguiar avisa: “Estão a assistir a um milagre. Este edifício estava em risco de desaparecer. Onde estão agora não podiam estar sem correr risco de vida.”

Espaçosa e com duplo pé direito, a sala era a divisão mais nobre desta casa quinhentista, lugar de aparato e recepção. Esta quinta-feira voltou a ter a mesma função durante um par de horas, quando a Câmara de Loures a abriu aos jornalistas para mostrar o resultado da primeira fase da recuperação do imóvel. Ainda há pouco que encha a vista e a serapilheira verde que o rodeia não prima pela beleza, mas pelo menos ele “já não vai cair”.

A expressão é de Bernardino Soares, presidente da câmara, e tanto espelha o estado de degradação a que chegou o edifício como todo o trabalho que ainda se segue. Em 2015, o Palácio de Valflores chegou a integrar uma lista dos monumentos mais ameaçados da Europa, elaborada pela organização de defesa do património Europa Nostra. Daí o aviso de José Aguiar, um dos arquitectos a quem a câmara entregou a tarefa de, antes de mais, salvar o edifício.

A consolidação estrutural da casa, que envolveu a reconstrução de abóbodas e um trabalho nas paredes que, a olho nu, passa despercebido, está feito. Tratou-se de “uma fase de obra importantíssima que nos permite garantir que este edifício vai durar por mais cinco séculos”, assegura Ana Raquel Silva, arqueóloga da autarquia. Considerando que Valflores tem “um valor único na região de Lisboa”, a técnica sublinha que, apesar da enorme degradação a que chegou, o monumento “manteve características muito próximas do original até aos dias de hoje”.

Mandado construir depois de 1556 por Jorge de Barros e Vasconcelos, chefe do entreposto português na Flandres, que ali instalou uma quinta de proporções ainda não totalmente conhecidas, o palácio não é verdadeiramente um palácio, mas ganhou essa designação graças aos torreões e à loggia generosa, enquadrada por arcos assentes em colunelos.

Essa varanda, de onde hoje se avista a IC2 e o casario de Santa Iria de Azóia, é para José Aguiar um exemplo de como esta foi “uma obra revolucionária” para o seu tempo. “Num momento em que as cidades estavam amuralhadas, este edifício abre-se”, comenta o arquitecto.

A casa divide-se por dois pisos, com a parte habitacional em cima e as arrecadações agrícolas em baixo. Contígua à grande sala fica uma pequena capela que estaria ligada a um pátio coberto, hoje inexistente. “O palácio, tal como o vemos aqui, é original, mas cada vez mais se acredita que ele foi construído sobre uma pré-existência”, adiantou Ana Raquel Silva.

Ao mesmo tempo que se estuda o seu passado, o futuro do palácio também motiva debate. Seguem-se a segunda e terceira fases da obra, que passam pela reconstrução da cobertura – totalmente desaparecida – e pelo restauro integral dos interiores. Mas ainda está por decidir o uso que se lhe vai dar.

Bernardino Soares gostaria de ver ali instalada “alguma instituição ligada à investigação científica, ao património cultural, à preservação ambiental.” O autarca não quer que a casa seja apenas mais um museu ou equipamento local, mas antes “um centro importante” numa “perspectiva nacional ou, pelo menos, regional”. Os contactos com o Governo já começaram. “É muito bom podermos dizer que o edifício já não vai cair, mas ele precisa de uma instituição importante aqui”.