Investir na Linha do Douro é abrir a porta ao futuro
Investir na internacionalização da Linha do Douro é investir no futuro de uma região que tem muitíssimo para oferecer ao país.
Chega hoje à Assembleia da República uma petição pública em defesa da reativação da Linha Ferroviária do Douro, prolongando-a até Barca de Alva, com o objetivo de que a mesma permita uma futura ligação a Espanha. É um documento assinado por 13.500 cidadãos, excedendo praticamente em dez mil o objetivo inicial, o que, por si só, é merecedor da maior atenção por parte dos deputados da Assembleia da República e pelo Governo.
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Chega hoje à Assembleia da República uma petição pública em defesa da reativação da Linha Ferroviária do Douro, prolongando-a até Barca de Alva, com o objetivo de que a mesma permita uma futura ligação a Espanha. É um documento assinado por 13.500 cidadãos, excedendo praticamente em dez mil o objetivo inicial, o que, por si só, é merecedor da maior atenção por parte dos deputados da Assembleia da República e pelo Governo.
A exemplo do que sucedeu aquando da sua construção, na segunda metade do século XIX, a ferrovia deve ser encarada hoje como um fator fundamental para o futuro da região do Douro, tanto do ponto de vista económico como social.
É verdade que, em pleno século XXI, já não é mais o escoamento dos vinhos durienses e dos cereais castelhanos que faz mover o principal interesse na Linha do Douro, mas mantêm-se as potencialidades desta ligação ferroviária no sentido de favorecer a atração de investimento numa região que precisa (e merece) um forte impulso económico.
O turismo, que no balanço global da região do Porto e do Norte está a ter resultados positivos históricos, é um motor de desenvolvimento comprovado em Portugal, que tem na região do Douro – Património da Humanidade – um enorme “tesouro” ainda por explorar.
No global, o Turismo no Porto e no Norte está a registar números nunca alcançados, mas a verdade é que a distribuição dos turistas por toda a região está, ainda, longe do desejado e daquilo que, claramente, é possível realizar. Cerca de 72% dos nossos visitantes não vão além da Área Metropolitana do Porto, porta de entrada de turistas na região, e a inexistência de alternativas de transporte é, sem sombra de dúvida, um dos principais motivos.
A aposta na ferrovia deve, obrigatoriamente, integrar uma estratégia global de promoção do Douro Vinhateiro Património da Humanidade, tendo em conta que a reativação da Linha do Douro permitirá ultrapassar as dificuldades de acessibilidade que estão a impedir a economia local de beneficiar, verdadeiramente, do impacto que o turismo está a ter no país.
Pensar estrategicamente significa alargar a visão do território, com tudo o que isso significa de positivo em termos de qualificação e potenciação da oferta, assim como da promoção deste destino, olhando para lá da fronteira com Espanha, o que permitirá reforçar a notoriedade da marca Douro/Duero.
Convém lembrar que esta ligação ferroviária é a única via de comunicação existente no vale do rio Douro que assegura a continuidade da região do Douro Vinhateiro até à comunidade autónoma de Castela e Leão. Tudo isto ocorre numa altura em que estamos a desenvolver um trabalho de grande colaboração com a Junta de Castela e Leão, podendo inclusivamente impulsionar ações de promoção comuns aos dois territórios. Temos nos nossos vizinhos fervorosos adeptos desta ligação a Portugal.
O prolongamento da Linha do Douro até Barca de Alva, em articulação com os operadores turísticos do território, vai permitir aos turistas “mergulharem” verdadeiramente na região e, dessa forma, percorrerem num destino que passa, em Portugal, por três patrimónios da Humanidade (Porto, Douro Vinhateiro e Gravuras do Côa). A sua internacionalização acrescentar-lhe-á um grupo considerável de outros patrimónios UNESCO, a começar por Salamanca, criando um percurso único no mundo. Esta é uma riqueza absolutamente extraordinária que temos de saber aproveitar!
Investir na internacionalização da Linha do Douro é investir no futuro de uma região que tem muitíssimo para oferecer ao país, nomeadamente em termos de turismo, mas não só, complementando outros investimentos já concretizados. Permitirá, por exemplo, ligar o terminal de cruzeiros do Porto de Leixões ao interior da Península Ibérica, o que abrirá portas a novos fluxos entre os aeroportos do Porto e de Madrid. Vai, também, permitir aumentar o designado “Hinterland” do Porto de Leixões, facilitando o acesso aos portos secos da Rede Logística de Castela e Leão, com impactos económicos positivos e que potenciam a coesão territorial e socioeconómica ao longo do eixo Porto-Salamanca.
Investir na Linha do Douro é agir estrategicamente. É pensar para além da tradicional tentação centralizadora e “litoralizada” do país. É ter na mão uma verdadeira possibilidade de mudar o paradigma atual, é permitir que aconteça uma verdadeira transformação. É potenciar um território com características únicas no mundo, exclusivas do ponto de vista turístico. É oferecer, simultaneamente, uma saída e uma porta de entrada no interior. É investir no futuro, não só do Douro, mas acima de tudo de Portugal.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico