Duas aldeias unem-se para celebrar o campo e o cozido à portuguesa “à moda antiga”
Anhões e Luzio, em Monção, têm 170 habitantes e, unidas, vivem O Campo em Festa nos finais de Janeiro. O cozido é a estrela mas o objectivo é maior: transmitir às novas gerações o “saber de uma vida rural”.
Anhões e Luzio, duas aldeias vizinhas de Monção, que juntas somam 170 habitantes, querem mostrar “ao mundo” que o cozido à portuguesa ainda pode ser feito à moda antiga, “caseiro”, fruto da lavoura e da criação de animais.
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Anhões e Luzio, duas aldeias vizinhas de Monção, que juntas somam 170 habitantes, querem mostrar “ao mundo” que o cozido à portuguesa ainda pode ser feito à moda antiga, “caseiro”, fruto da lavoura e da criação de animais.
Do “querer” da população daquelas freguesias rurais do concelho de Monção, no distrito de Viana do Castelo, nasceu um projecto comunitário que envolve, há mais de 10 meses, “cerca de 50 habitantes” e que vai resultar, nos dias 25 e 26 de Janeiro, na primeira edição do evento “O Campo em Festa”.
Mais do que o cozido à portuguesa, confeccionado com produtos “100% biológicos”, que vai servido em travessas e pratos de barro, aquelas aldeias de montanha querem transmitir às novas gerações o “saber de uma vida rural, trabalhando a terra e criando o gado”.
Aos habitantes das aldeias de Anhões e Luzio, localizadas no vale do Gadanha, a sensivelmente 15 quilómetros da sede do concelho, o projecto comunitário juntou 300 alunos de escolas do primeiro ciclo de ensino básico que, desde Abril do ano passado, têm ajudado a cuidar das sementeiras nos campos e a alimentar os animais, no curral.
"O mais importante é mostrar que as freguesias rurais existem, mas estão um bocado esquecidas. Também queremos demonstrar que os produtos químicos não são necessários para termos os alimentos saudáveis de que precisamos para uma alimentação sustentável”, afirmou hoje à Lusa, o presidente da União de Freguesias de Anhões e Luzio, Amâncio Alves.
Em Abril do ano passado, nos campos das duas aldeias foram semeadas as batatas e as couves-galegas. Em Julho, o projecto comunitário comprou 16 porcos e 225 galinhas.
“Os campos foram adubados com o estrume recolhido nos currais e os animais alimentados com milho e mistura de sementes”, explicou autarca. O fumeiro e os enchidos para o cozido foram feitos pelas “mãos experientes” das pessoas das aldeias vizinhas.
"Toda a comunidade está muito entusiasmada, activa, quer ajudar e dar o seu contributo, desde os mais novos a pessoas com 80 anos", apontou Amâncio Alves.
O cozido à portuguesa, confeccionado com a carne de duas vacas de raça barrosã, compradas em explorações agrícolas locais, e que cresceram em liberdade na serra da Anta, vai ser servido, nos dias 25 e 26, numa tenda aquecida, com 2.000 metros quadrados, a instalar no Senhor do Bonfim.
O espaço vai ser dividido numa área de degustação, com capacidade para mais de uma centena de mesas e, outra, com expositores para venda de produtos locais e regionais.
“É comida caseira e tradicional, que resulta de uma agricultura biológica e sustentável e que vai proporcionar aos visitantes do evento, uma alimentação saudável”, reforçou Amâncio.
Além da comida “caseira”, o evento, onde o recurso a produtos em plástico “será de quase 0%", incluirá música tradicional portuguesa, com grupos de bombos, concertinas, gaitas, rusgas e charangas portuguesas e galegas.
“O dinheiro que conseguirmos juntar servirá para pagar as despesas com o lançamento do evento que queremos continuar a realizar, acrescentando-lhe mais iniciativas válidas que as aldeias rurais têm”, observou o autarca.
Ao evento “O Campo em Festa”, organizado pela União de Freguesias de Anhões e Lúzio, com apoio da Câmara de Monção, está associada a iniciativa “Produzir em modo biológico”. O município estabeleceu o calendário das visitas dos alunos do concelho às aldeias de Anhões e Luzio. Começaram em Novembro e terminam dia 20, quando as crianças forem “ajudar as senhoras da aldeia a encher chouriças”.
Durante este projecto comunitário, os alunos “aprenderam a semear, plantar e regar, dar de comer, cuidar e apanhar animais em fuga, desenvolver afinidades com as plantas e recolher resíduos para reciclagem”.
“Além de potenciar a actividade económica, valorizar a ruralidade e defender o meio ambiente, esta iniciativa traz consigo uma mensagem muito forte para os jovens no tocante à preservação e sustentabilidade ambiental e à alimentação equilibrada e saudável”, defendeu o presidente da Câmara, António Barbosa.