Museu de Auschwitz desencoraja leitura de O Rapaz do Pijama às Riscas
O escritor irlandês John Boyne criticou no Twitter a proliferação recente de romances com Auschwitz no título e não gostou da réplica.
O Memorial de Auschwitz-Birkenau aconselha “todo aquele que estuda ou ensine a história do Holocausto” a “evitar ler O Rapaz do Pijama às Riscas”, o romance best-seller que o irlandês John Boyne publicou em 2006 e que narra a amizade entre o filho de um oficial do Terceiro Reich e um rapaz judeu internado em Auschwitz.
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O Memorial de Auschwitz-Birkenau aconselha “todo aquele que estuda ou ensine a história do Holocausto” a “evitar ler O Rapaz do Pijama às Riscas”, o romance best-seller que o irlandês John Boyne publicou em 2006 e que narra a amizade entre o filho de um oficial do Terceiro Reich e um rapaz judeu internado em Auschwitz.
O museu estatal polaco instalado no antigo campo de concentração e extermínio nazi assumiu esta advertência numa mensagem colocada na sua conta do Twitter no passado dia 5 de Janeiro, reagindo expressamente a um tweet do próprio Boyne, entretanto apagado, no qual este exprimia as suas reservas perante o grande número de livros de ficção publicados nos últimos anos cujos títulos incluem a palavra Auschwitz. “Não consigo deixar de pensar que os editores e escritores estão a construir um género literário que se vende bem”, escreveu o autor, cujo romance O Rapaz do Pijama às Riscas vendeu sete milhões de exemplares e foi adaptado ao cinema.
A ilustrar o seu argumento, John Boyne inventariava sete títulos, entre os quais incluía O Tatuador de Auschwitz (2018), da neozelandesa Heather Morris. Na sua resposta, os responsáveis do Memorial de Auschwitz afirmam “compreender as preocupações” do escritor irlandês e recordam que apontaram inexactidões encontradas em vários dos livros citados, com destaque para o romance de Morris, que é baseado numa história real: “A instituição assinalou em tempo útil que O Tatuador de Auschwitz continha numerosas imprecisões, informação inconsistente com os factos, bem como exageros, más interpretações e subestimações”. A divergência entre Boyne e o museu é que este último também desaconselha O Rapaz do Pijama às Riscas e publica um link para o texto O problema com ‘O Rapaz do Pijama às Riscas’, do site britânico Exposição e Centro de Investigação do Holocausto, que alerta para o risco de se acreditar que o livro relata uma história verídica e sublinha que os acontecimentos narrados por Boyne “nunca poderiam ter ocorrido”.
No livro, o rapaz alemão, de 9 anos, ignora quem sejam os judeus e nunca ouviu falar de Hitler, quando qualquer alemão da sua idade, e por maioria de razão o filho de um oficial superior das SS, teria de integrar a juventude hitleriana e frequentar uma escola onde, além das obrigatórias saudações ao Führer, teria sido encharcado de propaganda anti-semita, argumenta-se neste artigo, no qual se observa ainda que seria quase certo que o rapaz judeu tivesse seguido directamente para as câmaras de gás, caso não fosse seleccionado para experiências médicas, e que em nenhum caso teria tido a oportunidade de passar o seu tempo a conversar com o amigo alemão com uma cerca de permeio.
O autor irlandês replicou, assegurando que “respeita absolutamente” o direito do museu de “recomendar certos livros e desencorajar a leitura de outros”, mas observa: “Vale a pena notar que o parágrafo de abertura do artigo que anexam contém três imprecisões factuais em apenas 57 palavras. Razão pela qual não prossegui a leitura”. Boyne não explica quais sejam essas imprecisões, mas em declarações ao jornal inglês The Guardian argumenta: “O meu livro é uma obra de ficção e, portanto, não pode por natureza conter imprecisões, mas apenas anacronismos, e não creio que haja por lá algum”.