A década que nos roubou a atenção
Somos permanentemente interrompidos por notificações e estímulos no telemóvel que nos roubam a atenção e o foco. Na última década a economia da atenção levou a que ficássemos “agarrados” à tecnologia e viciados na distração.
Quantos de nós já pensámos, que, hoje em dia, para nos sentirmos totalmente relaxados a ler um livro, ou assistir a um filme, temos de deixar o telemóvel bem longe do nosso alcance ou mesmo desligá-lo? Sabemos que, são não o fizermos, seremos interrompidos por uma notificação, ou não resistiremos à tentação de ligá-lo para pesquisar algo que estamos a ler/ver, ou navegar aleatoriamente numa rede social, muitos de nós de forma aditiva.
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Quantos de nós já pensámos, que, hoje em dia, para nos sentirmos totalmente relaxados a ler um livro, ou assistir a um filme, temos de deixar o telemóvel bem longe do nosso alcance ou mesmo desligá-lo? Sabemos que, são não o fizermos, seremos interrompidos por uma notificação, ou não resistiremos à tentação de ligá-lo para pesquisar algo que estamos a ler/ver, ou navegar aleatoriamente numa rede social, muitos de nós de forma aditiva.
Atualmente, não vemos ativamente televisão. Sentamo-nos em frente a um televisor com o telemóvel na mão, que permanentemente nos distrai do que vai surgindo no ecrã (da televisão). Pesquisamos uma informação no Google ou Youtube, e sem nos apercebermos estamos a assistir a um vídeo ou a ler um conteúdo que nunca procuraríamos, mas que agora clicamos em tudo o que é relacionado. Perdemos constantemente a atenção da tarefa que estávamos a fazer por algo que vimos ou nos foi mostrado no telemóvel.
Aos poucos, na última década passámos todos a fazer parte duma economia da atenção. Nos modelos de negócio na Internet, se não pagamos por um produto, o produto somos nós. E, não são apenas as redes sociais a tratar-nos como um ativo ou um bem na web. Praticamente todos os sítios web que visitamos, rentabilizam a atenção que dispensamos aos seus conteúdos. Cliques, likes, comentários, partilhas, tempo de navegação, hashtags, representam interação e valorizam o que consumimos. Quanto mais interação temos e quanto mais tempo passamos a utilizar um produto, site, aplicação, serviço, mais o rentabilizamos e valorizamos.
Nesta economia, onde a informação é abundante, o mais difícil é fazer com que os consumidores vejam o conteúdo que as marcas nos querem mostrar, e é por essa razão que a atenção é o bem mais valorizado, e é o que todas as empresas pretendem de nós. Somos constantemente inundados de dados e informação, onde a atenção é a chave que permite criar valor numa informação ou num conteúdo. De nada serve um excelente conteúdo, se este não for visto por quase ninguém. E, isso tornou-se num problema.
Na web consumimos aquilo que nos parece mais apelativo, seja um conteúdo verdadeiro, falso, com mais ou menos qualidade. Se tivermos tempo e capacidade para separar o bom do mau conteúdo, o princípio não é censurável. Contudo, a economia da atenção é tóxica na maior parte das situações. É responsável por conteúdo sem qualidade, fake news, e permite que os grandes produtores de conteúdo utilizem esse poder em seu proveito.
Apesar de à primeira vista parecer que esta economia favoreça principalmente as maiores marcas, estas também sofrem com a disputa pela atenção dos consumidores. Quando antigamente as marcas produziam anúncios publicitários, conseguiam facilmente monopolizar a atenção dos consumidores. Atualmente, isso não é suficiente. Se o anúncio/conteúdo não for suficientemente apelativo ou diferenciador que nos “roube” a atenção, o consumidor poderá saltar, ignorar ou reparar noutro conteúdo.
Estratégias para captar a nossa atenção estão um pouco por todo o lado. Desde títulos sensacionalistas e apelativos de notícias e vídeos, passando pelo auto-play do Youtube e Netflix, a notificações e e-mails que nos interrompem continuadamente, que nos levam a que estejamos a ser interrompidos por algo que nos faz perder o foco e ficar “retidos” no sítio web ou na aplicação.
Toda esta atenção criou a dependência que grande parte da população tem com o telemóvel. Particularmente, nas novas gerações o problema é ainda maior. Um estudo publicado na revista BMC Psychiatry, mostrou que cerca de 25% de 42000 crianças e jovens que responderam ao inquérito não conseguem deixar o telemóvel nem por um minuto, ficando stressados e frustrados quando estão sem ele.
Não são apenas as crianças e jovens que sentem esta insatisfação e frustração quando estão sem o telemóvel. A atenção que permanentemente nos é roubada, leva à perda de foco e à distração. Essa interrupção provoca que as nossas tarefas sejam depois feitas num tempo mais curto, pelo qual pagamos um preço. Tarefas realizadas com mais stress, frustração, esforço elevado e pressão de prazos como ficou demonstrado num estudo de Gloria Mark, “The Cost of Interrupted Work: More Speed and Stress”.
A tecnologia está a tornar-nos cada vez mais insatisfeitos. Como disse Louis C K “Everything is amazing right now and nobody is happy”. É isso que a economia da atenção nos promete. Conteúdos novos, estímulos proporcionados por comentários, likes, promoções, recompensas, subscrições gratuitas de um Spotify ou de um Netflix, que nos faz estar permanentemente ligados a esta economia. Sempre à espera de algo novo, que nos faça roubar novamente a atenção.