O estranho mundo da CES
Brinquedos sexuais, escovas de dentes com radiofrequência e coletes para ler as emoções de cães. Na feira de Las Vegas, a inovação surge em formatos inesperados.
Numa altura em que parece difícil ser surpreendido por novas categorias de aparelhos electrónicos, muitos participantes da Consumer Electronics Show (CES), um dos maiores eventos dedicados à tecnologia, continuam a ter provas do contrário.
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Numa altura em que parece difícil ser surpreendido por novas categorias de aparelhos electrónicos, muitos participantes da Consumer Electronics Show (CES), um dos maiores eventos dedicados à tecnologia, continuam a ter provas do contrário.
Ainda antes de a feira de Las Vegas ter arrancado oficialmente, nesta terça-feira, os produtos que mais receberam atenção no evento de pré-apresentação da CES incluíam uma caixa de areia inteligente para gatos, uma escova de dentes que funciona através de radiofrequência, brinquedos sexuais que dependem de microrobótica e neuroestimulação, um purificador de ar que se leva ao pescoço e um colete que detecta as emoções de animais.
Pequenas multidões reuniam-se em torno das bancas de cada empresa para ver os produtos de perto, experimentar alguns, tirar fotografias e perceber o conceito.
Para James Wu, criador da LuluPet, uma caixa de areia inteligente para gatos que tem corrido as redes sociais, desenvolver produtos fora da norma também é uma estratégia. “As pessoas adoram tirar fotografias de gatos e publicar no Instagram. Por isso, trazer uma casa de banho inteligente para gatos à CES vai obviamente conseguir atenção”, admite Wu, em conversa com o PÚBLICO. “E é importante ter pessoas atentas e a olhar para nós em eventos como a CES. Com o LuluPet há mais interesse em ouvir sobre como a tecnologia funciona e assim as pessoas começam a pensar de outra forma.”
Mais do que areia
Apesar do conceito peculiar, a LuluPet é uma das empresas destacadas nos prémios de inovação da CES na categoria de casa inteligente. À primeira vista, parece uma caixa de areia normal – só que foi criada para monitorizar a forma como os gatos a utilizam e o tipo de dejectos que deixam, recorrendo a várias câmaras e sensores para detectar o peso da areia após cada uso. Os algoritmos foram treinados com informação de médicos veterinários para analisar a cor, textura e quantidade dos dejectos de gatos. O objectivo é ajudar os donos a perceber quando devem chamar um veterinário.
“Um dia era interessante transpor o conceito para os seres humanos, mas se fizéssemos o equivalente com humanos, as pessoas não iam aceitar. Com o LuluPet querem saber mais sobre a tecnologia”, diz Wu.
Não é a única empresa a ser destacada na CES por uma ideia do género. Algumas filas mais atrás, há um conceito semelhante, desta vez criado pela empresa iKuddle – a diferença é que além de monitorizar os dejectos dos gatos e de filmar o animal, a caixa também se limpa automaticamente, renovando a areia e colocando a areia usada num saco para o dono deitar fora. Receberam mais de um milhão de dólares na plataforma de financiamento colectivo Kickstarter. Este ano, também levaram à CES uma tigela de água e outra para ração – também equipadas com sensores e câmaras para avaliar a forma como o animal come e bebe.
Um colar anti-poluição
Os produtos da Ible – uma empresa do Taiwan que diz criar os purificadores de ar mais pequenos do mundo, em forma de colares ou clipes para o cabelo – voltaram a gerar bastante atenção na CES, mesmo marcando presença desde 2016. Desta vez, havia três em exposição, incluindo um adaptado aos mais novos. À primeira vista, lembram auriculares sem fios que se usam ao pescoço.
A tecnologia funciona através da ionização para remover partículas no ar em redor do utilizador. A ionização é processo de criar iões e libertá-los no ar. No caso da Airvida são criados vários iões negativos que se agarram a partículas positivas (como o pó, pólen e outros alergénios). Juntas, as partículas já não conseguem flutuar e acabam a cair no chão para serem varridas.
Brinquedos sexuais
Um dos destaques deste ano esteve barrado da CES na edição anterior. A startup de brinquedos sexuais equipados com microrobótica da Lora DiCarlo já tinha recebido um prémio de inovação o ano passado. O prémio chegou a ser retirado, por não ser considerado apropriado para o evento, que nunca tinha incluído brinquedos sexuais, mas acabou por ser reentregue.
A controvérsia levou a CES a decidir fazer um teste e incluir este ano, pela primeira vez, startups focadas na vida sexual e na intimidade. E há mais para ver além das propostas de Lora DiCarlo – que usam microrobótica (robôs capazes de manipular componentes inferiores a um milímetro) para copiar o toque de dedos, língua e boca.
Por exemplo, há o Lioness, um brinquedo sexual que acumula dados de cada utilização para melhorar os orgasmos do utilizador. E um protótipo para ajudar homens que sofrem de ejaculação precoce e que cuja fabricante, a Morari Medical, diz que funciona através de neuromodulação, uma técnica que envolve alterar actividade neuronal ao usar pequenos eléctrodos directamente numa área.
Radiofrequência para escovar os dentes
A Silk’n Beauty, uma empresa de produtos de beleza, foi à CES para tentar mostrar que as escovas de dentes tradicionais não são ideais. Falta-lhes, argumenta, radiofrequência. A proposta é o ToothWave, uma escova de dentes com dois eléctrodos e uma faixa de silicone no meio, em que a corrente eléctrica gerada entre os eléctrodos é utilizada para limpar os dentes de forma mais profunda. Os cépticos são desafiados a experimentar no local.
A tecnologia por detrás da escova não é nova. Há anos que a energia de radiofrequência já é usada em tratamentos médicos e de estética e ajuda a promover a cicatrização, mas a Silk’n Wave é das primeiras a utilizar a tecnologia numa escova de dentes. A equipa da ToothWave diz que outra das vantagens é diminuir a aplicação de produtos abrasivos nos dentes.
Ler as emoções dos animais
Este ano, ocasionalmente via-se um cão a correr acelerado pelo espaço da CES durante os eventos de pré-abertura para jornalistas. Era uma demonstração dos coletes da startup Inupathy, que, como outras antes dela, garante que criou um produto que identifica as emoções dos animais.
O colete regista o batimento cardíaco de pequenos cães. A empresa diz que o algoritmo usado aprendeu ao estudar diferentes padrões de batimento cardíaco de cães, registados durante sessões com treinadores de animais que punham os cães a realizar actividades que os deixavam felizes, agitados ou stressados. O objectivo da empresa é ajudar os donos a perceber melhor os seus companheiros de quatro patas. O próximo passo é adaptar o algoritmo a outros animais.
O PÚBLICO viajou a convite da CES