Pobres e ricos: paga o justo pelo pecador
Se pusermos pobres e ricos na balança, o pêndulo das emissões cai sobre os ricos. China, Estados Unidos da América, Índia, Rússia, Japão, Alemanha, Coreia do Sul, Irão, Arábia Saudita e Canadá são os dez países que mais emitem carbono.
Está frio? Demasiado calor? Ligamos o ar condicionado. Ventos fortes? Chuva intensa? Neve? Fechamos as portas e janelas. Sofremos um acidente? Vamos ao centro de saúde ou ao hospital. E quem não tem ar condicionado, portas ou janelas? Centros de saúde e hospitais por perto? E quem não vive num país com infra-estruturas, organizado e resiliente? É tempo de parar e pensar nestas pessoas. É tempo de agir por eles e por nós.
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Está frio? Demasiado calor? Ligamos o ar condicionado. Ventos fortes? Chuva intensa? Neve? Fechamos as portas e janelas. Sofremos um acidente? Vamos ao centro de saúde ou ao hospital. E quem não tem ar condicionado, portas ou janelas? Centros de saúde e hospitais por perto? E quem não vive num país com infra-estruturas, organizado e resiliente? É tempo de parar e pensar nestas pessoas. É tempo de agir por eles e por nós.
Porto Rico, Birmânia, Haiti, Filipinas, Paquistão, Vietname, Bangladesh, Tailândia, Nepal e a Ilha de Dominica formam o grupo dos dez países mais afectados pelas alterações climáticas entre 1999 e 2018. Segundo o Índice Global de Risco Climático da Germanwatch, os episódios climáticos extremos que estes países sofreram ao longo dos 19 anos do estudo foram: chuvas fortes, monções severas, ciclones que originaram inundações repentinas e deslizamentos de terra, ondas de calor, secas extremas e incêndios florestais.
É muito injusto. Os eventos climáticos extremos atingem os países e regiões mais pobres e vulneráveis. Reiteradamente enfrentam perdas gigantes. E depois? Todos sabemos o que se segue. Falta-lhes capacidade de resposta, acesso a cuidados de saúde e capacidade organizacional, económica e financeira para lidar com os danos. Precisam de muito mais tempo para reconstruir e recuperar.
De quem é a culpa? Do PIB. As perdas económicas resultantes dos episódios climáticos são totalmente irrelevantes nos países pobres. Não têm qualquer impacto nas débeis economias nacionais e são peanuts para a economia global. É por isso que continuamos a deixar que se desenvencilhem sozinhos em míseras condições de saúde e situações de insegurança alimentar. Sem dó nem piedade, deixamos que optem entre a fome e a migração.
É mesmo muito injusto. Os mais afectados são os menos responsáveis pela crise climática. Os países em desenvolvimento emitem muito pouco carbono, o gás causador das alterações climáticas. O Caribe, por exemplo, contribui com menos de um por cento das emissões globais de carbono e arca com fortes tempestades tropicais. O continente africano, que também contribui com um por cento das emissões globais, lida com secas extremas.
Se pusermos pobres e ricos na balança, o pêndulo das emissões cai sobre os ricos. China, Estados Unidos da América, Índia, Rússia, Japão, Alemanha, Coreia do Sul, Irão, Arábia Saudita e Canadá são os dez países que mais emitem carbono. No entanto, os mais poluidores não levantam preocupações: no futuro estarão perfeitamente preparados para escapar aos efeitos das alterações climáticas. Investirão em aparelhos de ar condicionado para sobreviver às ondas de calor, construirão mais hospitais, deslocarão as populações das zonas de inundações, da fome e do conflito.
É para lá de injusto. O fosso económico entre pobres e ricos acentua-se a cada novo episódio climático extremo que surge. É por isso que as Nações Unidas alertaram recentemente: sem a crise climática este fosso seria menor. Se as alterações climáticas não fossem reais, a desigualdade de rendimento global seria cerca de 25 por cento menor. Se nada fizermos, as pessoas que vivem nos países pobres continuarão ao acaso e sofrimento, com as suas vidas em risco.
Quando vão os países ricos reduzir as emissões de carbono? Como podem os países ricos apoiar os países em desenvolvimento a lidar com o aumento contínuo das perdas? Que tipo de investimento podem os países ricos fazer nos países em desenvolvimento a fim de gerir e minimizar este tipo de perdas? As respostas ainda não foram encontradas. Em Dezembro de 2019, na COP 25 em Madrid, os líderes políticos adiaram, uma vez mais, este tema. Até quando estamos dispostos a ignorar a desigualdade entre pobres e ricos que a crise climática está a acentuar? Até lá, paga o justo pelo pecador.