Cabo Verde pede “justiça” para caso de estudante que morreu após agressões em Bragança
A morte de Luís Giovani dos Santos Rodrigues “não belisca as relações bilaterais com Portugal”, afirma o primeiro-ministro de Cabo Verde.
O primeiro-ministro da Cabo Verde pediu, esta segunda-feira, que a “justiça se faça” no caso do estudante cabo-verdiano Luís Giovani dos Santos Rodrigues, que morreu após agressões em Bragança, mas garante que as relações com Portugal não são beliscadas com este incidente.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O primeiro-ministro da Cabo Verde pediu, esta segunda-feira, que a “justiça se faça” no caso do estudante cabo-verdiano Luís Giovani dos Santos Rodrigues, que morreu após agressões em Bragança, mas garante que as relações com Portugal não são beliscadas com este incidente.
“Esperemos que a justiça se faça. Nós confiamos na Justiça portuguesa, a investigação está em curso, temos que aguardar agora os resultados”, disse o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, questionado pela Lusa à margem de um acto oficial na Assembleia Nacional, na cidade da Praia.
O primeiro-ministro cabo-verdiano assegurou que este caso, que tem gerado uma onda de contestação em Cabo Verde, “não belisca” as relações entre os dois países. “As relações Cabo Verde-Portugal são fortes, estruturantes e em desenvolvimento (...) É algo que não fica beliscado por situações que são lamentáveis, mas que acontecem”, assegurou Ulisses Correia e Silva.
Para o primeiro-ministro de Cabo Verde, o próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal assumiu “um posicionamento muito claro relativamente a esta matéria”. “Acho que não há dúvidas”, enfatizou.
O caso está a ser investigado pela Polícia Judiciária, que ainda não revelou se há suspeitos, mas aponta para “um motivo fútil” na origem do caso que levou à morte do jovem, como o PÚBLICO avançou. A autópsia foi inconclusiva, não esclarecendo se a morte foi provocada pela agressão ou pela queda na rua, onde o jovem foi encontrado inanimado.
O PÚBLICO apurou ainda que a PJ terá afastado a tese de crime racial associada nas redes sociais à morte do estudante cabo-verdiano.
O ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades de Cabo Verde, Luís Filipe Tavares, pediu no domingo “celeridade” no “esclarecimento cabal” pelas autoridades portuguesas da “trágica” morte do estudante e o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, adiantou também estar a acompanhar, através da Embaixada em Lisboa, os contornos da “morte brutal” do estudante.
O embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro, tinha igualmente pedido a “clarificação cabal” das circunstâncias da morte do jovem.
O que aconteceu na noite de 20 de Dezembro?
Na noite de 20 de Dezembro, Luís Giovani dos Santos Rodrigues juntou-se a três amigos e foi até ao bar Lagoa Azul, no centro de Bragança. O problema começou já na fila para pagar. As imagens registadas pelo sistema de videovigilância não esclarecem o motivo. Um primo de Giovani disse ao jornal luxemburguês Contacto que, sem querer, um dos amigos de Giovani tocou numa rapariga e o namorado dela não gostou.
Ao que já esclareceu a direcção do bar, funcionários trataram de serenar os ânimos. Saiu primeiro um dos intervenientes e quem o acompanhava e, decorrido algum tempo, o outro e quem o acompanhava.
Naquela espera, outros terão pegado em cintos, paus e ferros. “Assim que viraram a esquina para ir para casa, eles caíram todos em cima do amigo mais velho, que está com o corpo cheio de hematomas”, declarou o primo, citado pelo Contacto. “O Giovani foi lá pedir para pararem e antes de acabar a frase levou com uma paulada na cabeça”.
O som da paulada tê-los-á feito parar. Os rapazes fugiram. Uns voltaram atrás, em busca de bens perdidos. Giovani seguiu em frente. Foi encontrado caído, já inconsciente, uns 500 metros depois. Conduzido ao Hospital Distrital de Bragança, de lá seguiu para o Hospital de Santo António, no Porto, onde morreria.
É com base nesta narrativa que, apurou o PÚBLICO, as autoridades falam em motivo fútil. A investigação complicou-se quando a autópsia, feita na Delegação Norte do Instituto de Medicina Legal na passada sexta-feira, se revelou inconclusiva. Os peritos não conseguiram, para já, determinar se a morte foi provocada pela agressão ou pela queda. Exames complementares terão de ser feitos.