Os moradores de Houston sonham em mudar-se para onde o ar é limpo (e não há refinarias)

No bairro de Manchester, em Houston, a poluição vê-se a olho nu. Os moradores culpam as refinarias que rodeiam as casas — e querem mudar de casa por questões de saúde. Apesar de não haver evidências científicas muito concretas, um estudo mostrou que crianças que vivem na zona são mais susceptíveis a ter leucemia.

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Reuters/LOREN ELLIOTT

As plumas de cinza brancas das refinarias do Texas são um cenário constante para a vizinhança de Manchester, do lado Este de Houston, nos Estados Unidos.

Alguns residentes dizem que o ar cheira a químicos, mas que o cheiro desaparece assim que se distanciam alguns quilómetros das casas que se estendem ao longo do Houston Ship Channel, um canal que liga as instalações directamente ao oceano. E garantem que a poluição está a prejudicar a saúde de todos os que lá vivem — ainda que não esteja provado cientificamente.

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Residentes de Manchester pescam junto a uma refinaria REUTERS/Loren Elliott

Eu quero sair daqui e ir para um país onde tenha ar limpo”, diz Euegen Barragan, electricista de 56 anos, que viveu toda a vida junto das refinarias. “Seria melhor para mim e para os meus filhos.”

Os médicos encontraram quatro nódulos nos seus pulmões e, de acordo com os raio-X e relatórios médicos que mostrou à Reuters, mais estão a crescer. Os primeiros não eram cancerígenos. Barragan diz não ter dinheiro para fazer exames aos nódulos mais recentes. Espera que sejam benignos, para que possa ver os seus filhos crescerem. “Quando faço muito esforço, começo a tossir e tossir, não consigo parar”, diz. “E sei que muitas pessoas têm problemas como o meu.”

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Eugene Barragan REUTERS/Loren Elliott

Lillian Riojas, porta-voz da Valero Energy Corp, uma das refinarias existentes na área, afirma que a empresa tem trabalhado para reduzir a poluição desde que esta foi comprada, em 1997. De acordo com dados da Comissão do Texas para a Qualidade Ambiental, desde que a Valero comprou a refinaria, há 22 anos, os níveis de benzeno caíram cerca de 63%. “Há a narrativa de que a qualidade do ar está a ficar pior, mas isso não é o que os dados sobre as emissões mostram”, atira Riojas.

A Comissão do Texas para a Qualidade Ambiental, que reforça as leis federais e estatais nas questões ambientais, dá à refinaria Valero o nível máximo no que toca ao cumprimento das leis, diz Andrew Keese, porta-voz da agência. As outras refinarias das redondezas e instalações químicas conseguiram apenas uma pontuação satisfatória. Das restantes instalações que envolvem Manchester, a segunda melhor pontuação é atribuída à Goodyear Tire e Rubber Co, segundo Keese.

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A Goodyear Tire “implementou diversas mudanças que resultaram em emissões mais baixas”, diz Connie Deibel, representante da empresa. A LyondellBasell Industries, TPC Group e Flint Hills Resources, que operam na mesma área, não responderam às questões sobre a poluição na zona de Manchester.

Sem dinheiro para mudar de casa

Um estudo de 2007, o mais recente disponível sobre o tema, feito pela Universidade do Texas, mostra que, numa amostra de mil crianças, aquelas que viviam a três quilómetros do Houston Ship Channel tinham um risco 56% maior de contrair leucemia do que as crianças que vivem a 16 quilómetros do canal. Os investigadores acreditam, por isso, que existe uma ligação entre a leucemia em crianças e a poluição do ar. Ainda assim, o estudo não conseguiu provar quais os poluentes que causam a doença.

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Durante anos, Dennys Nieto quis deixar o bairro, mas só recentemente conseguiu juntar dinheiro para se mudar com a família para outra zona do Texas. “Sofro de asma e dor nos pulmões. Parece que me estão a bater no peito”, diz Nieto, quando se fala do seu bairro antigo. “Dores de cabeça, inflamação e dor de garganta. Também tenho tensão arterial alta e um ritmo cardíaco irregular.”

“Por isso, quero sair daqui. Quero ir para algum sítio distante das refinarias, para que possa refazer a minha vida, a minha saúde e viver melhor.”

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