Crónica de mais uma guerra que o Ocidente vai perder

Nos próximos dias saberemos o que se começou a desenhar nesta sexta-feira. Não se espera nada de bom. O Irão, o herdeiro da Pérsia, não pode ficar quieto. A vingança tornou-se uma exigência do povo e uma indispensável prova de vida para o regime.

A zona do Golfo estava transformada num barril de pólvora que evitava o surgimento de um detonador. O ataque com drones que matou o general iraniano Qassem Soleimani é esse detonador. Um assassínio intencional e selectivo de uma alta figura do Estado é um acto de guerra. O Irão vai retaliar custe o que custar, quanto mais não seja para manter o seu estatuto de potência regional, e faça-o através de uma confrontação aberta ou, como todos os especialistas militares admitem como mais provável, através de manobras da “guerra assimétrica”, o Médio Oriente volta a ser a zona mais infecciosa do planeta.

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A zona do Golfo estava transformada num barril de pólvora que evitava o surgimento de um detonador. O ataque com drones que matou o general iraniano Qassem Soleimani é esse detonador. Um assassínio intencional e selectivo de uma alta figura do Estado é um acto de guerra. O Irão vai retaliar custe o que custar, quanto mais não seja para manter o seu estatuto de potência regional, e faça-o através de uma confrontação aberta ou, como todos os especialistas militares admitem como mais provável, através de manobras da “guerra assimétrica”, o Médio Oriente volta a ser a zona mais infecciosa do planeta.

Seja pela germinação de grupos terroristas, seja pela perturbação nos mercados de matérias-primas, a Europa (e o mundo) vai ter de se preparar para uma crise como já não se via desde, pelo menos, a segunda guerra do Iraque, de 2003.

É crucial procurar respostas para o que aconteceu. Para preservar o prestígio ou para a segurança dos Estados Unidos e a dos seus aliados na região, era mesmo necessário assassinar o número dois do grande rival na zona do Golfo? Há muito que é disparate acreditar que gestos destes invertem as tendências de fundo.

O clima de tensão, os discursos rufias, o abate de drones ou o confisco de navios mercantes tinham criado todas as condições para que uma das partes cometesse um acto imprevidente. A escalada de tensão entre potências rivais raramente se gere com o apaziguamento. O ataque que matou Soleimani é a prova dessa impossibilidade.

A relação conflituosa entre o tirano de Teerão e a bazófia imprevidente de Washington tinha tudo para gerar este prefácio digno de uma guerra em larga escala. É impossível o Irão não retaliar e é impossível os Estados Unidos não reagirem a essa retaliação. Estaria Trump consciente das consequências do ataque? Avaliou com zelo as consequências de criar um mártir que vai reforçar a coligação antiamericana no Golfo?

Nos próximos dias saberemos o que se começou a desenhar nesta sexta-feira. Não se espera nada de bom. O Irão, o herdeiro da Pérsia, é uma potência histórica na região. Não pode ficar quieto. A vingança tornou-se uma exigência do povo e uma indispensável prova de vida para o regime.

Depois dos enormes esforços de Obama para pacificar a região e trazer o Irão para o concerto das nações, o espectro da guerra está de volta à zona do Golfo e pode envolver tanto os sauditas como Israel. O Ocidente nada ganhará com ela. Mas pode haver quem ganhe. Como na Síria, lá estarão os russos, os turcos e talvez até os chineses à espera dos despojos.