Há um laboratório de dados para ajudar a resolver os problemas das cidades

Urban Co-creation Data Lab é um projecto quer responder a cinco desafios na área da gestão municipal: micromobilidade, lixo, estacionamento, poluição e gestão de multidões. Centrado em Lisboa, o trabalho poderá depois ser replicado por outros municípios.

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Margarida Basto

O uso da inteligência artificial por quem gere as cidades para lidar com os problemas mais comuns, como os resíduos, é já incontornável. E é com o objectivo de criar uma “nova geração de serviços públicos no contexto das cidades inteligentes” que nasce o projecto Urban Co-creation Data Lab (UCD Lab). Através da análise de dados que caracterizam os desafios que a gestão municipal enfrenta, este laboratório pretende fornecer ferramentas que facilitem a escolha sobre as respostas a dar.

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O uso da inteligência artificial por quem gere as cidades para lidar com os problemas mais comuns, como os resíduos, é já incontornável. E é com o objectivo de criar uma “nova geração de serviços públicos no contexto das cidades inteligentes” que nasce o projecto Urban Co-creation Data Lab (UCD Lab). Através da análise de dados que caracterizam os desafios que a gestão municipal enfrenta, este laboratório pretende fornecer ferramentas que facilitem a escolha sobre as respostas a dar.

Miguel Castro Neto, professor e subdirector da NOVA IMS - Information Management School~eque lidera o UCD Lab, explica ao PÚBLICO que o projecto tem como objectivo “reunir os melhores cérebros europeus na área da analítica urbana visando criar de forma colaborativa modelos de inteligência artificial capazes de apoiar a tomada de decisões ao nível do planeamento e gestão municipal”. O foco está “na satisfação das necessidades dos cidadãos, que vivem, trabalham ou visitam estes espaços, salvaguardando princípios de sustentabilidade, inclusão, resiliência e segurança”.

UCD Lab, co-financiado pela União Europeia no âmbito da Connecting Europe Facility (CEF), no montante de um milhão de euros, centra-se na cidade de Lisboa mas o trabalho desenvolvido vai ser testado posteriormente noutras duas cidades europeias, ainda a seleccionar. O projecto quer responder a cinco desafios que, segundo Castro Neto, são “áreas críticas na gestão municipal: micromobilidade, lixo, estacionamento, poluição e gestão de multidões”. Em Lisboa, ao longo deste ano, cada desafio terá um “laboratório de dados urbanos”. “O trabalho desenvolvido e os resultados alcançados serão tornados públicos para que outros municípios possam tirar partido” das conclusões obtidas, acrescenta.

Além da NOVA IMS, são parceiros do projecto a Câmara Municipal de Lisboa (através do Centro de Gestão e Inteligência Urbana), a Agência para a Modernização Administrativa, a NEC Portugal e o Centro de Supercomputação de Barcelona, que se reuniram no passado mês de Outubro para iniciar as actividades. “Na fase de arranque, o trabalho centrou-se na programação do projecto, na caracterização detalhada dos desafios e na identificação dos dados actual ou potencialmente disponíveis”, explica Castro Neto.

No final da implementação do UCD Lab, que se prolonga até Setembro de 2021, Castro Neto espera que o projecto tenha “contribuído para o desenvolvimento de uma nova geração de serviços públicos no contexto de cidades inteligentes, alicerçados na ciência dos dados e na inteligência artificial, que exploram instalações de supercomputação e utilizam dados públicos e privados para analisar combinações complexas de grandes conjuntos de dados em áreas de interesse público”.

Quando questionado sobre o que distingue o UCD Lab, Castro Neto acredita que a “grande diferença” está no facto de estar a dar “passos concretos para materializar neste projecto a criação de capacidades analíticas preditivas e prescritivas aos municípios”. Para Castro Neto, “importa ir mais longe e tirar partido da ciência dos dados e da inteligência artificial para, numa visão holística da cidade, antecipar necessidades e gerir proactivamente os espaços urbanos”.

Micromobilidade e estacionamento são grandes desafios

Segundo Miguel Castro Neto, doutorado em Engenharia Agronómica eque foi secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza entre 2013 e 2015, a micromobilidade e o estacionamento são “dos maiores desafios que as cidades enfrentam”. “Não apenas pela necessidade imperiosa de reduzirmos as emissões de gases com efeito de estufa, mas também para devolvermos o espaço público ao cidadão, é necessária uma revolução da mobilidade nas cidades”, defende.

Por isso, o UCD Lab vai “desenvolver modelos que identifiquem padrões de comportamento e respectivas causas no sentido de optimizar as infra-estruturas de micromobilidade partilhada, desde a localização das estações de bicicletas partilhadas e locais de estacionamento, até a modelos de balanceamento de meios, por exemplo”.

Aprofundar o conhecimento do estacionamento é outro dos objectivos para “optimizar a sua utilização, não apenas informando o cidadão de onde estacionar, reduzindo assim o denominado trânsito parasita - pessoas à procura de um lugar para estacionar - que se aponta para ser da ordem de 30%, mas também antecipando necessidades e criando modelos que favoreçam a multimodalidade, afastando os carros do centro das cidades”, explica Castro Neto.

Para Miguel Castro Neto, a “construção da inteligência urbana é um processo longo e complexo”, pois causa impacto de “forma transversal” em toda a organização da cidade. Nesta área, Castro Neto considera que Lisboa “tem vindo a fazer um caminho bastante interessante” porque, nos últimos anos, “tem dado passos significativos nesta mudança de paradigma”.

Lisboa possui hoje “uma plataforma de inteligência urbana que já suporta a criação de valor na dimensão operacional da acção do município e cria uma oportunidade única para se explorar o potencial da utilização da ciência dos dados e da inteligência artificial no desenvolvimento de novos produtos e serviços, capazes de impactar positivamente no planeamento e gestão de serviços e infra-estruturas e melhorar a qualidade de vida das pessoas”, considera.

Texto editado por Ana Fernandes