A politização do clima
É fundamental atingir a meta de Paris de 1.5º C. Como? Eis o grande desafio.
Definitivamente, 2019 foi o ano do clima. António Guterres saiu na capa da Time mergulhado nas ondas até ao joelho, para chamar a atenção para o perigo da subida dos oceanos. Greta Thunberg faltou à escola, todas as sextas-feiras, em greve pelo clima. E atravessou o Atlântico em barco à vela, para chamar a atenção para o perigo das emissões de Co2. As Nações Unidas fizeram das alterações climáticas a prioridade das prioridades. E a exemplo de Greta, o ativismo climático invadiu as ruas de todo o mundo. Diz-se que foram mais de 4 milhões de pessoas em mais de 150 cidades, na greve climática de 20 de Setembro. A luta contra as alterações climáticas transformou-se num movimento social e entrou para o topo agenda política. É a politização do clima.
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Definitivamente, 2019 foi o ano do clima. António Guterres saiu na capa da Time mergulhado nas ondas até ao joelho, para chamar a atenção para o perigo da subida dos oceanos. Greta Thunberg faltou à escola, todas as sextas-feiras, em greve pelo clima. E atravessou o Atlântico em barco à vela, para chamar a atenção para o perigo das emissões de Co2. As Nações Unidas fizeram das alterações climáticas a prioridade das prioridades. E a exemplo de Greta, o ativismo climático invadiu as ruas de todo o mundo. Diz-se que foram mais de 4 milhões de pessoas em mais de 150 cidades, na greve climática de 20 de Setembro. A luta contra as alterações climáticas transformou-se num movimento social e entrou para o topo agenda política. É a politização do clima.
A União Europeia, num último assomo de potência normativa decidiu ser o ser líder mundial da luta contra a mudança climática. Fez bem. A nova Comissão apresentou a questão do clima como uma prioridade europeia e anunciou um Green Deal que prevê uma Europa, totalmente, descarbonizada até 2050. As outras potências que não precisam de ser normativas reagiram, precisamente, ao contrário. E estão entre os maiores poluidores. Trump anunciou já a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris de 2015, que se tornará efetiva a partir de 4 de Novembro de 2020. A sua reeleição, ou não, será decisiva para saber a futura posição norte americana. Mas, mesmo os que não assumiram uma rutura aberta com o Tratado não estão a cumprir os seus compromissos: a China, a Índia, a Rússia e o Brasil.
Tudo isto ficou claro no fracasso da última Cimeira do Clima em Madrid. O objetivo de reforço do compromisso decidido e quantificado no Acordo de Paris não foi alcançado. Falhou e o único compromisso possível foi adiar a questão para a Cimeira de Glasgow daqui a um ano. Ou seja, existe, hoje, uma contradição evidente entre a consciência global e a mobilização sem precedentes das sociedades civis em favor da urgência climática e a resistência ou, mesmo, a oposição declarada de alguns Estados e organizações internacionais ligadas ao lobby petrolífero como a OPEP.
Mas sob o ruído mediático da politização do clima, o que é que está realmente em causa quando falamos da mudança climática? É simples, é sério e os cientistas há muito que o explicaram. Desde a era pré-industrial aos dias de hoje, a ação humana sobre a natureza, ou seja, o nosso modelo de desenvolvimento, provocou um aquecimento global da ordem de 1º centígrado (C). Até agora, as metas decididas em Paris (1.5º C) estão longe de ser atingidas. E de e agora em diante, se nada for feito e se se mantiver intacto o nosso modelo de desenvolvimento e as políticas publicas que o sustentam, as estimativas apontam para um aquecimento global de 1.5º C em meados da década de 30, 2º C em meados da década de 50, e 3.2º C em 2100.
Para quem tivesse dúvidas, o degelo da calota polar, a acidificação dos oceanos, a subida do nível médio dos mares ou a frequência e a violência dos fenómenos climáticos extremos, como as grandes secas, as grandes inundações, os incêndios descontrolados, ou as tempestades tropicais, aí estão para nos lembrar que esse processo já começou. E é motivo de alarme.
Mas se atendermos ao que dizem os cientistas, mais alarmados ficaremos. Um aquecimento global da ordem dos 2º C aproximaria a biosfera de um ponto crítico no efeito de estufa, com todas as suas consequências. E um aumento da ordem dos 3º C significaria um nível potencialmente catastrófico de mudança climática que comprometeria a vida normal no planeta Terra. Estaria em causa a segurança alimentar e a extinção significativa de espécies com efeito em cascata sobre o funcionamento do ecossistema pondo em risco a sustentabilidade da vida humana. É por isso que é fundamental atingir a meta de Paris de 1.5º C. Como? Eis o grande desafio.
Reduzir drasticamente a população mundial? Seria possível, mas não é provável. Regredir drasticamente nos padrões de vida das nossas sociedades? Também seria possível, mas estaremos dispostos a isso? Senão, resta-nos a transição energética. E a tecnologia. Mas será possível manter os padrões de vida atuais, só com as energias renováveis? Poderá a tecnologia conseguir isso em tempo útil? E se não conseguir, deverá a energia nuclear ser uma possibilidade, como defendem os ecomodernistas? Não sei. Mas sei que é fundamental limitar o aquecimento global a 1.5º C. Fundamental e urgente.