Cheias fazem 29 mortos em Jacarta e obrigam a retirar dezenas de milhares de pessoas de casa

Precipitação na véspera de Ano Novo bateu um recorde com mais de duas décadas na Indonésia.

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Pelo menos 29 pessoas morreram nas cheias e deslizamentos de terras mais graves dos últimos anos em Jacarta, a capital da Indonésia, e dezenas de milhares de outros habitantes da megacidade do Sudeste asiático estão desalojadas por causa das chuvas intensas que começaram na véspera do Ano Novo, e que devem continuar pelo menos até 7 de Janeiro.

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Pelo menos 29 pessoas morreram nas cheias e deslizamentos de terras mais graves dos últimos anos em Jacarta, a capital da Indonésia, e dezenas de milhares de outros habitantes da megacidade do Sudeste asiático estão desalojadas por causa das chuvas intensas que começaram na véspera do Ano Novo, e que devem continuar pelo menos até 7 de Janeiro.

Mais de 62 mil pessoas foram tiradas de suas casas na maior cidade do Sudeste asiático, disse à Reuters o porta-voz da Agência Nacional de Gestão de Desastres, Agus Wibowo - o dobro das que foram retiradas no dia anterior. Milhares de cabeças de gado estão dadas como desaparecidas e milhares de habitações foram danificadas nas províncias vizinhas de Banten, relatam os media indonésios.

Há casas alagadas e carros afogados em águas lamacentas em toda a cidade, e algumas pessoas deslocam-se em pequenos barcos de borracha, remando pelas ruas. Ou então usam pneus como se fossem barcos pneumáticos, relata a agência AFP.

As equipas de emergência usam igualmente barcos de borracha para fazer salvamentos de pessoas encurraladas pelas águas, incluindo idosos e crianças. A televisão indonésia mostrou um salvamento dramático de um bebé por bombeiros que se aventuraram numa casa com água até ao pescoço, para retirarem a criança dali, num pequeno tubo de plástico, relata a agência noticiosa francesa. “Temos salvo recém-nascidos, mães que acabaram de dar à luz e bebés presos em casas sem comida”, disse Yusuf Latif, outro porta-vozz da Agência Nacional de Gestão de Desastres, citado pela AFP. “Em alguns locais é muito difícil, a água atinge grandes profundidades e tem uma corrente forte.”

A precipitação registada nos últimos dias foi de 377 milímetros em apenas 24 horas, o valor mais elevado desde 1996, o ano em que se iniciaram as contabilizações, diz a BBC. As chuvas torrenciais e a subida dos rios submergiram pelo menos 169 bairros e causaram deslizamentos de terra nos distritos de Bogor e Depok, nos arredores de Jacarta, de acordo com Agus Wibowo.

Imagens divulgadas pela agência mostram militares e socorristas em barcos de borracha a tentar resgatar pessoas que foram forçadas a subir aos telhados das suas casas inundadas. Mais de 31 mil pessoas foram para abrigos temporários após as inundações terem atingido, em algumas áreas, até 2,5 metros de altura, acrescentou o mesmo responsável.

O governador de Jacarta, Anies Baswedan, disse que as chuvas torrenciais registadas na capital e nas áreas montanhosas de Java Ocidental causaram o transbordo dos rios Ciliwung e Cisadane.

O Presidente da Indonésia, Joko Widodo, disse à imprensa que os procedimentos de segurança e de evacuação das populações devem ter prioridade. No Twitter, atribuiu a culpa a estas inundações com consequências catastróficas aos atrasos na construção de infra-estruturas de controlo de cheias por causa de problemas na expropriação de terrenos.

Widodo quer mudar a capital da Indonésia, quarto país mais populoso do mundo, transferindo-a de Jacarta, na ilha de Java, para a ilha de Bornéu. Vai ser construída na província de Kalimantan e a mudança foi estimada em 33 mil milhões de dólares.

Só Jacarta tem mais de dez milhões de habitantes, e cerca de três vezes mais pessoas moram nos seus arredores. Os problemas de trânsito representam um custo significativo para a economia. Um estudo de 2016 citado pela BBC indicava que Jacarta tinha o pior nível de congestionamento de trânsito do mundo, obrigando os membros do Governo a serem escoltados pela polícia para conseguirem chegar a horas às reuniões.

A Indonésia tem cerca de 260 milhões de habitantes. É a quarta nação mais populosa do mundo, atrás da China, da Índia e dos Estados Unidos. Quase 60% da população vive na ilha de Java, o que implica uma concentração desproporcional das actividades económicas, factor que pesou na decisão de tirar a capital desta ilha. Para além do trânsito, Jacarta foi erigida num terreno propenso a inundações e está a afundar-se progressivamente, em resultado da excessiva extracção de água subterrânea. De acordo com investigadores citados pela BBC, várias partes de Jacarta podem ficar totalmente submersas até 2050 e metade do território já se encontra abaixo do nível do mar.