Carlos Ghosn terá fugido do Japão dentro de caixa de instrumentos musicais
A fuga só terá sido consumada graças à coordenação da sua mulher, que vive no Líbano, e à ajuda de uma banda e de um grupo de ex-militares das forças especiais, que levaram a cabo o plano de fuga.
Carlos Ghosn, ex-patrão da Renault-Nissan, conseguiu sair do Japão, onde aguardava julgamento por alegadamente ter desviado milhões de euros da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, sem que as autoridades nipónicas se tivessem apercebido: afinal, fê-lo escondido dentro de uma caixa de instrumentos de uma banda convidada a participar num jantar. A história é relatada nesta terça-feira pelo canal noticioso libanês MTV.
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Carlos Ghosn, ex-patrão da Renault-Nissan, conseguiu sair do Japão, onde aguardava julgamento por alegadamente ter desviado milhões de euros da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, sem que as autoridades nipónicas se tivessem apercebido: afinal, fê-lo escondido dentro de uma caixa de instrumentos de uma banda convidada a participar num jantar. A história é relatada nesta terça-feira pelo canal noticioso libanês MTV.
Tudo começou com um concerto privado, na casa onde o ex-patrão da Renault-Nissan estava em detenção domiciliária, em Tóquio. Apesar da apertada vigilância policial, a banda teve autorização para entrar e para sair – com o gestor escondido numa das maiores caixas dos instrumentos musicais. Já dentro da caixa, Ghosn terá seguido para um aeroporto secundário, onde o esperava um avião particular com destino a Istambul, na Turquia.
A partir daí, terá apanhado outro avião privado para o Líbano, onde chegou antes do amanhecer de segunda-feira — e sem que os radares dessem conta da sua chegada. De acordo com o site Flight Scanner, o sinal do voo privado onde seguia perdeu-se antes de aterrar.
A notícia da fuga de Carlos Ghosn apanhou de surpresa as autoridades nipónicas. De acordo com as informações recolhidas na manhã desta terça-feira, os serviços de estrangeiros e fronteiras não tinham qualquer informação sobre a saída de Ghosn e não estava afastada a hipótese de o gestor se ter evadido usado uma identidade falsa.
Isto porque os três passaportes do gestor — que tem nacionalidade francesa e libanesa e nasceu no Brasil — estão apreendidos. A apreensão dos passaportes e a impossibilidade de sair do Japão eram apenas duas das fortes medidas de coacção a que Carlos Ghosn estava sujeito em Tóquio desde 2018.
Apesar disso, um representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros libanês disse à agência Reuters que Ghosn entrou no país na posse de um passaporte francês legal e com a sua identificação nacional libanesa, tendo cumprido com os procedimentos de segurança normais. O ministério dos Negócios Estrangeiros francês não quis prestar declarações sobre o assunto, escreve o britânico The Guardian.
Plano pensado pela mulher
Carlos Ghosn está neste momento em Beirute, numa casa de família, na companhia da sua mulher, Carole, de origem libanesa. O edifício está a ser guardado por vários seguranças privados.
O plano terá sido orquestrado pela mulher, Carole, e levado a cabo apesar da proibição de ver ou contactar o marido sem autorização do Tribunal, com a ajuda de uma equipa de ex-militares das forças especiais. O casal terá cortado o contacto durante pelo menos sete meses.
Para o seu advogado, Junichiro Hironaka, que na manhã de terça-feira admitiu não saber nada sobre a fuga do seu cliente, a evasão constitui uma “violação do sistema de justiça japonês”, afirmou, numa conferência de imprensa algumas horas depois de a fuga se ter tornado conhecida.
“Se de facto for verdade [que o plano foi construído pela mulher] então teremos de olhar para isto como uma violação das condições da sua detenção”, disse Hironaka. “O seu acto é indesculpável e uma violação do sistema de justiça japonês.”
Carlos Ghosn afirma que saiu do país porque não quer ser “mantido refém pelo sistema de justiça japonês parcial onde se presume a culpa” dos suspeitos, em violação dos "direitos mais básicos do Homem”, disse, em comunicado.
O gestor foi detido em Tóquio em Novembro de 2018, acusado de apropriação indevida de fundos e bens da aliança automóvel que dirigia e de crimes fiscais. Era a queda de um dos mais prestigiados empresários do mundo automóvel – no Japão, até esse momento, era venerado por ter salvado a Nissan, enquanto em França era elogiado por ter dado a volta à Renault. E a detenção era também um terramoto para o grupo automóvel e para os seus diversos accionistas, de Tóquio e Paris.
Depois de ter passado 108 dias numa prisão em Tóquio, Ghosn foi colocado em liberdade condicional em Março deste ano, mediante um pagamento de uma fiança de mais de oito milhões de euros – mas proibido de sair do Japão, bem como de utilizar a internet ou de contactar outras partes do processo. Nem um mês depois, em Abril, foi novamente levado para a prisão e posteriormente colocado num regime próximo de uma detenção domiciliária, depois de ter tentado organizar uma conferência de imprensa em sua defesa e de ser confrontado com novas acusações, como um alegado desvio de cerca de cinco milhões de euros através de um distribuidor da Renault em Omã. Foi então imposta uma nova fiança de quatro milhões de euros.
Ghosn e a sua equipa de advogados têm alegado que não esperam um julgamento justo e imparcial no Japão, acusando o governo de Tóquio de patrocinar um processo com motivações políticas e implicando outros gestores do grupo automóvel num “golpe” contra si.