Pelo menos 90 mortos em explosão de carro armadilhado na Somália

Nenhum grupo terrorista reivindicou a autoria do ataque, mas suspeitas recaem nos extremistas das Al-Shabab.

Foto
Carro explodiu na intercecção que liga a capital somali à localidade de Afgoye Reuters/FEISAL OMAR

Pelo menos 90 pessoas morreram e várias dezenas ficaram feridas este sábado num dos mais violentos atentados na Somália nos últimos anos. Ataque não foi reivindicado, mas as suspeitas recaem nas Al-Shabab.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Pelo menos 90 pessoas morreram e várias dezenas ficaram feridas este sábado num dos mais violentos atentados na Somália nos últimos anos. Ataque não foi reivindicado, mas as suspeitas recaem nas Al-Shabab.

Um carro armadilhado explodiu às primeiras horas da manhã nas proximidades de um posto de controlo rodoviário numa intercecção que liga Mogadíscio à cidade de Afgoye. Àquela hora, o movimento de pessoas e veículos era intenso e mais de uma centena de pessoas foram imediatamente levadas para hospitais da capital somali.

“Tudo o que conseguia ver eram cadáveres espalhados, alguns dos quais tão queimados que era impossível reconhecê-los”, descreveu à BBC Sakariye Abdukadir, que estava perto do local do ataque.

Entre as vítimas estão dois cidadãos turcos que trabalhavam no país como engenheiros, de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros somali, e dezenas de estudantes universitários. Também houve polícias mortos. A equipa de engenheiros turcos estava envolvida na construção de uma estrada entre o checkpoint e Mogadíscio.

O atentado não foi reivindicado durante o dia, mas o recurso a carros armadilhados é um dos métodos mais utilizados pelo grupo terrorista Al-Shabab, que permanece muito activo na região de Mogadíscio. A organização fundamentalista foi expulsa da capital em 2011, mas continua a controlar várias áreas do país.

As Al-Shabab já tinham manifestado a sua oposição à construção da estrada onde ocorreu o atentado. Porém, nem sempre os seus atentados são reivindicados, tal como aconteceu com um ataque suicida durante uma cerimónia de graduação de estudantes de medicina em 2009, lembra a Reuters.

Apesar de a Somália ser um palco frequente de atentados terroristas, o deste sábado é um dos mais sangrentos dos últimos anos. Em Outubro de 2017, a explosão de um camião que transportava gasolina matou quase 600 pessoas. Na altura, este ataque também não foi reivindicado. Já este ano, em Julho, um ataque a um hotel de Mogadíscio fez 26 mortos e mais de 50 feridos.

O Presidente somali, Abdullahi Farmaajo, condenou o ataque que atribuiu à “vontade destrutiva do terrorismo internacional”. “Eles nunca fizeram nada de positivo pelo nosso país, não construíram uma estrada, nunca construíram hospitais nem centros educacionais”, afirmou o chefe de Estado, citado pela agência estatal SONNA.

Fragilidade institucional

O ataque vem confirmar a força que as Al-Shabab mantêm, apesar de terem perdido território nos últimos tempos por conta das operações militares das forças da União Africana estacionadas na Somália. O grupo islamista tem perpetrado pequenos ataques a edifícios públicos, hotéis no centro de Mogadíscio e zonas comerciais. Há duas semanas, militantes cercaram um hotel durante várias horas e mataram cinco pessoas.

O facto de o ataque ter ocorrido perto de um checkpoint, onde se espera uma maior vigilância das forças de segurança, também reforça as suspeitas de que as Al-Shabab possam ter elementos infiltrados nas polícias estatais, observa o correspondente da BBC, Andrew Harding. O grupo terrorista, escreve o jornalista, “conseguiu explorar a fragilidade das frágeis instituições governamentais da Somália e os interesses centrífugos regionais e dos clãs, que continuam a debilitar a segurança e a unidade do país”.

Desde o derrube do ditador Siad Barré, em 1991, que a Somália é um país ingovernável, dominado por lutas entre grupos terroristas, senhores de guerra rivais e clãs regionais, cada um reivindicando parte do território. O Governo reconhecido internacionalmente controla parcialmente o país e apenas com o apoio fundamental da União Africana.

No próximo ano, a missão de 20 mil soldados da União Africana deverá iniciar a sua saída gradual do país, para ser substituída pelo novo Exército somali.

Para 2020 também estão marcadas importantes eleições universais – pela primeira vez em décadas – mas que têm potencial para serem mais um alvo de violência.