China usa novo porta-aviões para fazer aviso antes das presidenciais de Taiwan
O Shandong, o novo orgulho da marinha chinesa, navegou pelo Estreito de Taiwan, numa manobra vista como tentativa de intimidar os eleitores indecisos a votarem contra a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, nas presidenciais de 11 de Janeiro. Estados Unidos já reagiram.
Os Estados Unidos não gostaram que o mais recente orgulho da marinha chinesa, o porta-aviões Shandong, tivesse na quinta-feira navegado pelo Estreito de Taiwan e enviaram esta sexta-feira uma mensagem de aviso contra “qualquer coerção” chinesa a Taipé quando se aproximam eleições presidenciais taiwanesas, a 11 de Janeiro, que também servirão para definir o futuro do relacionamento entre a China e Taiwan.
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Os Estados Unidos não gostaram que o mais recente orgulho da marinha chinesa, o porta-aviões Shandong, tivesse na quinta-feira navegado pelo Estreito de Taiwan e enviaram esta sexta-feira uma mensagem de aviso contra “qualquer coerção” chinesa a Taipé quando se aproximam eleições presidenciais taiwanesas, a 11 de Janeiro, que também servirão para definir o futuro do relacionamento entre a China e Taiwan.
“Os EUA apelam à China que se abstenha de qualquer coerção que prejudique a segurança, ou o sistema económico e social, do povo de Taiwan”, lê-se numa nota do Departamento de Estado norte-americano. “Os EUA mantêm um interesse profundo e permanente pela paz e estabilidade no estreito. Taiwan é um parceiro confiável, um modelo democrático e uma força para o bem do mundo”, continua a nota, referindo-se à aliança histórica que Washington mantém com o lado derrotado da Guerra Civil Chinesa (1927-1937/1946-49).
O Shandong atravessou o estreito pela primeira vez a 17 de Novembro, para “testes científicos e treinos de rotina”, e nessa altura foi monitorizado de perto pelas Forças Armadas de Taiwan. Os militares de Taipé voltaram a fazê-lo esta quinta-feira, mantendo, no entanto, a distância.
“Ameaças militares como esta apenas fortalecem a determinação de Taiwan em se defender e preservar a paz e estabilidade na região”, disse o ministro, sublinhando que os “eleitores não serão intimidados”.
A ida às urnas em Janeiro é uma das mais importantes dos últimos anos ao estar em causa a escolha entre dois candidatos com posições opostas sobre o futuro do relacionamento entre Taipé e Pequim, o principal tema de campanha. A Presidente e líder do Partido Progressista Democrático, Tsai Ing-wen, defende a independência de Taiwan e tem alertado para os crescentes riscos da ascensão da China, enquanto o seu rival, o líder do nacionalista Kuomintang (KMT), Han Kuo-yu, quer estreitar laços.
Contudo, o candidato mais favorável aos interesses chineses não parece alinhado rumo à vitória. Os protestos de Hong Kong vieram acentuar os riscos da crescente influência chinesa sobre o dia-a-dia e futuro de Taiwan, além disso, a sua campanha viu-se envolvida num escândalo por causa de uma doação de três milhões de dólares feita por alguém suspeito de ser um espião chinês. Tudo isto se juntou ao facto de Han Kuou-yu se ter encontrado com altos representantes chineses.
Pressionado e com receio de perder eleitores devido à sua demasiada proximidade a Pequim, Han teve de suavizar o discurso e sublinhar que nunca concordará com a reunificação sob o principio de “um país, dois sistemas”, à semelhança de Hong Kong e Macau.
No entanto, a garantia não deverá ser suficiente para ganhar a eleição e tudo indica que Tsai cumprirá um segundo mandato presidencial. A manobra intimidatória explica-se pelo receio de Pequim de que os nacionalistas sofram uma dura derrota.
“Ao mostrar a sua força militar, a China está a tentar intimidar os eleitores indecisos”, disse à Reuters um elemento do Governo de Taipé. “Pequim percebe que isto pode ser uma espada de dois gumes, mas está preocupada com a possibilidade de as forças pró-China sofrerem um fiasco nas eleições”, continuou, referindo-se à hipótese de a intimidação dar força a Tsai em vez de a enfraquecer.
As relações entre Taiwan e China sempre foram tensas, mas, a partir de 2008, melhoraram com a assinatura de acordos de comércio e turismo. A eleição de Tsai, em 2016, mudou o panorama. Desde o início que a chefe de Estado alerta para a ameaça e o risco constante que Pequim representa para a soberania de Taiwan, pois o regime chinês não abdica da sua soberania sobre a antiga Formosa, E está disposto a unir o território por meio da força se for preciso e tudo tem feito para a isolar no palco internacional.
O porta-aviões que atravessou o Estreito de Taiwan é o mais recente orgulho da marinha chinesa, que se tem desenvolvido exponencialmente nos últimos anos no âmbito de uma estratégia de afirmação de potência marítima no Pacífico. O novo porta-aviões, lançado às águas em meados de Novembro, é o primeiro construído pela indústria militar chinesa e é o segundo maior da sua armada. Pequim está a construir mais dois iguais, não obstante ter travado a produção do quinto e sexto por causa dos enormes custos financeiros.
Os seis porta-aviões planeados seriam os pilares de três armadas chinesas, com cada uma a ter dois ao seu dispor. Enquanto um porta-aviões navegasse pelas águas do Pacífico, o outro estaria atracado em manutenção, dando uma significativa capacidade militar ao regime chinês numa região que disputa com os Estados Unidos e seus aliados, entre os quais Taiwan. A China detém hoje pelo menos 300 navios e a maior marinha do mundo, segundo o South China Morning Post, e leva a cabo patrulhas marítimas regulares para reafirmar a sua soberania no Mar do Sul da China.