Polícia faz buscas na fundação do líder da oposição a Putin
Um dia depois de ter denunciado o rapto de um colaborador da fundação, Navalni acusa o regime russo de o querer impedir de gravar outro vídeo a denunciar a corrupção do poder.
As autoridades russas arrastaram esta quinta-feira Alexei Navalni, o principal opositor ao Presidente russo, Vladimir Putin, para fora da sua Fundação Anti-Corrupção (FBK), em Moscovo. As autoridades levaram a cabo buscas às instalações numa altura em que Navalni se preparava para gravar mais um episódio da série de YouTube em que denuncia casos de corrupção dentro do regime russo.
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As autoridades russas arrastaram esta quinta-feira Alexei Navalni, o principal opositor ao Presidente russo, Vladimir Putin, para fora da sua Fundação Anti-Corrupção (FBK), em Moscovo. As autoridades levaram a cabo buscas às instalações numa altura em que Navalni se preparava para gravar mais um episódio da série de YouTube em que denuncia casos de corrupção dentro do regime russo.
Os agentes federais, alguns vestidos de preto e com máscaras, usaram ferramentas eléctricas para forçar a entrada na instituição, antes de arrastarem Navalni à força e apreenderem material técnico, entre os quais computadores portáteis, de acordo com imagens do sistema de vigilância vistas pela agência Reuters. Um dos agentes chegou mesmo a tapar uma câmara de vigilância com fita adesiva enquanto os funcionários da fundação eram encostados à parede.
As buscas aconteceram um dia depois de Navalni ter denunciado que um dos seus colaboradores, Ruslan Shaveddinov, tinha sido vítima de rapto e prisão ilegal pelas autoridades ao ser enviado para uma base militar no Ártico, para cumprir o serviço militar obrigatório.
Navalni acusa o regime russo de usar o serviço militar obrigatório como instrumento para silenciar os críticos. “Servir no exército transformou-se numa forma de prender as pessoas”, escreveu o opositor russo nas redes sociais.
No entanto, a grande motivação parece ser o sucesso do programa de Navalni no YouTube, Navalni em directo, onde denuncia a corrupção do regime russo, diz a porta-voz da fundação, Kira Yarmish. “O Alexei foi detido e levado à força. Não resistiu. Os advogados continuam na FBK e as buscas continuam”, escreveu na rede social Twitter.
“Não há detidos. Pura e simplesmente arrastaram-me para fora do escritório. O dia foi, obviamente, escolhido a dedo”, escreveu no Twitter Navalni, depois de a situação no escritório se ter acalmado.
Os agentes entraram nas instalações da fundação momentos antes de Navalni gravar o programa, para que “não pudesse haver episódio”, continuou Yarmysh, agora em declarações à Deutsche Welle. “Não gostam do seu sucesso”, disse à emissora alemã, referindo que o episódio da semana passada teve mais de 1,4 milhões de visualizações. “Se fazem buscas nos nossos escritórios e apreendem o nosso material técnico, não pode haver episódio”.
As autoridades russas explicam que a operação policial decorreu no âmbito de uma investigação criminal à Fundação Anti-Corrupção, sem, no entanto, avançarem quais os crimes em causa. Também garantiram não ter feito detenções, negando as declarações de quem viu Navalni ser detido.
Em Agosto, quando uma nova ronda de protestos de rua contra Putin eclodiu, convocada por Navalni, as autoridades russas abriram uma investigação à Fundação por lavagem de dinheiro, sem darem mais pormenores.
A série de YouTube de Navalni parece ser uma grande dor de cabeça para os próximos de Putin. Em Março de 2017, o opositor publicou um vídeo de investigação sobre corrupção que visava o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, ligando-o ao milionário russo Alisher Usmanov. A investigação fez com que as acusações de corrupção contra Medvedev subissem de tom, apesar de este negar ter cometido qualquer ilegalidade.
Por seu lado, o milionário Usmanov, declarando-se inocente, processou Navalni por difamação em 2017. O tribunal deu-lhe razão e deliberou que Navalni era obrigado a apagar o vídeo no YouTube, que já conta com mais de 32 milhões de visualizações. O líder da Fundação Anti-Corrupção não aceitou a decisão e disse esta terça-feira não ter intenção de cumprir a ordem judicial.
A operação policial desta quinta-feira é mais um episódio na escalada de tensão entre o regime de Putin e a fundação, com os críticos do Presidente russo a acusarem-no de levar a cabo mais uma ronda de repressão para se consolidar no poder. Em Outubro, as autoridades russas declararam a fundação como “agente estrangeiro”, permitindo-lhes exercer um controlo burocrático muito maior sobre ela e limitando-lhe a capacidade de acção.