Cair de uma bicicleta eléctrica pode ser mais perigoso do que de uma tradicional
Quem anda de bicicleta eléctrica é mais propenso a sofrer lesões internas e ser hospitalizado em comparação com utilizadores de outros veículos.
Elas aí estão, espalhadas pelas cidades, ou poderão ter chegado agora a sua casa em forma de presente de Natal. As bicicletas eléctricas são cada vez mais populares, mas, atenção, as bicicletas motorizadas têm um risco maior de lesões graves do que as bicicletas tradicionais, diz um estudo norte-americano.
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Elas aí estão, espalhadas pelas cidades, ou poderão ter chegado agora a sua casa em forma de presente de Natal. As bicicletas eléctricas são cada vez mais populares, mas, atenção, as bicicletas motorizadas têm um risco maior de lesões graves do que as bicicletas tradicionais, diz um estudo norte-americano.
Os autores, da Faculdade de Medicina da Universidade de Nova Iorque (NYU, sigla em inglês), analisaram os dados do Sistema Nacional de Vigilância de Lesões Electrónicas (NEISS) da Comissão de Segurança de Produtos de Consumo dos Estados Unidos, de 2000 a 2017, sobre lesões envolvendo os três tipos de veículos: bicicletas tradicionais, bicicletas eléctricas e trotinetes.
Enquanto as pessoas que andavam de bicicleta eléctrica eram mais propensas a sofrer lesões internas e serem hospitalizadas em comparação com utilizadores de outros veículos; os usuários de trotinetes motorizadas tinham taxas mais altas de concussão. Os ferimentos em bicicletas eléctricas também tiveram mais de três vezes a probabilidade de envolver uma colisão com um peão do que os ferimentos com trotinete ou bicicleta tradicional.
O estudo constatou que as lesões com bicicletas eléctricas em particular eram mais graves, disse Charles DiMaggio, o principal autor do estudo e responsável pelo programa de investigação sobre lesões, da divisão de trauma e cuidados críticos cirúrgicos na NYU Langone Health, em Nova Iorque.
Dos mais de 245 milhões de feridos assinalados durante o período do estudo, 130.797 envolveram acidentes com motoretas, representando 5,3 por 10.000 feridos nos departamentos de emergência dos EUA. Houve 3075 lesões com bicicletas eléctricas, ou seja, 0,13 por 10.000. Cerca de 9,4 milhões de lesões com bicicletas de pedal representaram 385,4 por 10.000 de todas as lesões no departamento de emergência.
As pessoas feridas com bicicletas eléctricas eram mais velhas, com média de 31,9 anos em comparação com 29,4 anos com trotinetes motorizadas e 25,2 anos com bicicletas tradicionais. Mas a maior proporção de pessoas envolvidas em acidentes com bicicletas eléctricas estava na faixa etária dos 18 aos 44 e dos 45 aos 64 anos, observam os autores. Crianças de 10 a 14 anos compunham o maior grupo de feridos com trotinetes motorizadas.
Em geral, os homens têm mais acidentes do que as mulheres: 83,3% dos acidentes com bicicletas eléctricas, 60% com trotinetes motorizadas e 72,4% com bicicletas a pedais.
Os acidentes com trotinetes motorizadas tiveram quase três vezes maior probabilidades de se traduzir em concussões e em fracturas do que lesões com bicicletas eléctricas. No entanto, 17% das vítimas de acidentes com bicicletas eléctricas sofreram lesões internas, em comparação com cerca de 7,5% nas trotinetes e nas bicicletas tradicionais.
“As bicicletas electrónicas são capazes de atingir velocidades superiores a 30 quilómetros por hora”, justifica DiMaggio. “As velocidades médias para bicicletas mais tradicionais, como as Citi Bikes da cidade de Nova Iorque (que podem ser alugadas), são inferiores a 16 quilómetros por hora. Essa quase duplicação de velocidades em potencial pode ser o motivo pelo qual as lesões com bicicletas eléctricas podem ser mais graves”, exemplifica.
Isso e a falta de infra-estruturas adequadas ao ciclismo, que também podem contribuir para os acidentes. Anne Lusk, investigadora da Escola de Saúde Pública de Harvard, em Boston, que trabalha em ambientes para bicicletas há 38 anos, defende que os resultados deste estudo podem ser usados para projectar ambientes que tenham em conta a segurança de quem usa veículos de duas rodas, mas também os peões e automobilistas.
“As mudanças climáticas foram elevadas ao estatuto de emergência, e as soluções incluem incentivar as pessoas a andar de bicicleta. No entanto, o ambiente para andar de bicicleta não é seguro”, alerta Lusk, lembrando que muitos utilizadores, na ausência de ciclovias, optam pelo passeio.
DiMaggio concorda. Com este potencial de alternativas mais ecológicas ao transporte tradicional, surge a necessidade de apresentá-las de “maneira segura e responsável”, fazendo sugestões como a criação de projectos urbanos, a introdução de parqueamento para as bicicletas ou faixas dedicadas exclusivamente às mesmas; e mudanças nas políticas, como a obrigatoriedade do uso de capacetes; além de iniciativas educacionais, enumera.
Notícia corrigida às 13h30, de dia 26/12/2019: a palavra “scooter” foi substituída por “trotinete”.