Em Monchique, há quem transforme árvores ardidas em figuras do presépio
Escultor Nelson Ramos transforma troncos de árvores em figuras do presépio. Peças estão a ser esculpidas ao vivo no centro da vila de Monchique.
Árvores ardidas ou “doentes” da serra de Monchique, no Algarve, ganham vida durante a quadra de Natal nas mãos do escultor Nelson Ramos, ao transformar com motosserras os troncos em figuras do presépio.
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Árvores ardidas ou “doentes” da serra de Monchique, no Algarve, ganham vida durante a quadra de Natal nas mãos do escultor Nelson Ramos, ao transformar com motosserras os troncos em figuras do presépio.
As peças de grandes dimensões dos três Reis Magos estão a ser esculpidas ao vivo em pleno Largo dos Chorões, no centro da vila, local onde vai ficar instalado o presépio. Um projecto iniciado em 2017 com as figuras de José, Maria e do Menino Jesus, ao qual foram acrescentados a vaca, a ovelha e o burro, em 2018.
“O presépio não fica terminado este ano, pois falta acrescentar o anjo e o pastor, trabalhos que, em princípio, devem ser concretizados no próximo ano”, disse à reportagem da Lusa o escultor.
Natural do Algarve, mas residente no Alentejo, Nelson Ramos, entalhador de profissão, começou a esculpir com motosserras há cerca de cinco anos, depois de ter sido convidado para fazer 11 figuras para o presépio do município de Castelo de Vide, distrito de Portalegre. “Depois desse projecto, começaram a surgir convites de outros municípios, entre eles o de Monchique”, indicou.
Numa tenda instalada no centro da vila algarvia, Nelson Ramos ultima um dos três reis magos, ao dar vida ao tronco de um velho pinheiro centenário atingido pelo incêndio de 2018: “As esculturas servem para dar vida a uma árvore que foi abatida, ao preservar a sua memória e a sua história”.
A transformação dos troncos em peças de arte de grandes dimensões é efectuada apenas com recurso a motosserras, cada uma com funções específicas, tarefa que, para o escultor, “não é a principal dificuldade”. Segundo Nelson Ramos, embora não seja fácil manusear as motosserras, “a maior dificuldade é trabalhar as madeiras, algumas ocas, apodrecidas, queimadas ou muito afectadas pelo bicho da madeira”.
“O trabalho é sempre mais difícil em madeira de árvores abatidas, mas recuso fazer qualquer escultura em árvores vivas. Tenho uma regra que é nunca sacrificar árvores, mas apenas trabalhar com as que tenham sido abatidas por motivos de segurança, doença ou queimadas”, explicou. De acordo com o escultor, o seu trabalho “está sempre condicionado” ao estado em que se encontra a madeira: “Costumo dizer não sou eu a fazer a escultura que imagino, mas sim aquela que a madeira me deixa fazer”.
O artista demora em média quatro a cinco dias para concretizar cada uma das peças do presépio, que podem ser perpetuadas no tempo: “Depois de serem eliminadas as pragas da madeira e sujeitas a tratamento próprio de acabamento, com ceras e óleos, para a sua preservação ao longo dos tempos”.