Tempestades com nomes são história antiga no Pacífico, mas em Portugal só chegaram há três anos
Nos Estados Unidos os furacões começaram por ter apenas nomes de mulheres até que o movimento feminista se rebelou. Estudo adiantou que tempestades com nomes femininos são tidas como menos ameaçadoras para as pessoas.
Ainda o Fabien está a chegar e já são conhecidos os nomes das tempestades que vão continuar a atingir a Europa nas próximas semanas, embora sobre estas nada se saiba ainda. A lista nominal dos vendavais que nos esperam foi divulgada nesta sexta-feira pela rádio espanhola COPE — entretanto disponível no site da AEMET. E alguns dos nomes que poderão vir a ser utilizados são estes: Herve, Inês, Jorge, Karine, Leon, Myriam, Odette, Prosper, Raquel, Simon, Teresa e Valentin. Isto depois de já termos apanhado com as depressões Cecília, Daniel e Elsa, que se está agora a desvanecer.
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Ainda o Fabien está a chegar e já são conhecidos os nomes das tempestades que vão continuar a atingir a Europa nas próximas semanas, embora sobre estas nada se saiba ainda. A lista nominal dos vendavais que nos esperam foi divulgada nesta sexta-feira pela rádio espanhola COPE — entretanto disponível no site da AEMET. E alguns dos nomes que poderão vir a ser utilizados são estes: Herve, Inês, Jorge, Karine, Leon, Myriam, Odette, Prosper, Raquel, Simon, Teresa e Valentin. Isto depois de já termos apanhado com as depressões Cecília, Daniel e Elsa, que se está agora a desvanecer.
Ao contrário do que sucede nos EUA e no Pacífico, onde os furacões têm nomes humanos desde há muito, em Portugal a primeira tempestade a ser baptizada data de 2017. Chamou-se Ana. E desde então esta prática manteve-se, devido a um projecto conjunto de Portugal (através do Instituto Português do Mar e Atmosfera, IPMA), de Espanha (AEMET) e de França (MéteoFrance),
Ficou convencionado que o primeiro dos três países a accionar um alerta laranja ou vermelho unicamente em relação ao vento, dá o nome à tempestade. O primeiro baptismo coube a Espanha. O alerta vermelho em relação ao vento só é accionado quando há ventos superiores a 130 quilómetros por hora.
Antes da estreia do trio Portugal/Espanha/França, as tempestades na Europa já tinham nomes que lhes eram atribuídos pelos serviços meteorológicos do Reino Unido, Holanda e Irlanda. Actualmente, os dois grupos de países trabalham juntos nesta tarefa com base em duas listas de nomes que são organizadas por ordem alfabética, alternando nomes masculinos e femininos. Mantém-se o princípio de que a escolha compete a quem sentir primeiro os efeitos da tempestade.
Políticos e mulheres em primeiro lugar
Mas a ideia de dar nome aos furacões é bem mais antiga. No final do século XIX, um meteorologista australiano chamava aos furacões o nome de políticos de que não gostava. Até ao princípio do século XX, em algumas ilhas das Caraíbas, os ciclones recebiam nomes de santos — do dia em que a tempestade era identificada.
A partir de 1953, os serviços meteorológicos norte-americanos começaram a utilizar nomes de mulher. A escolha tinha um objectivo estratégico: empregar designações curtas, familiares a toda a gente, de modo a facilitar a comunicação com o público. Na década de 1970, com o movimento feminista a considerar sexista dizer que todos os furacões eram mulheres, passaram-se também a usar nomes masculinos.
Os furacões do Atlântico tiveram o seu primeiro nome de homem em 1979 – Bob. O mesmo aconteceu nessa década para os tufões no Pacífico.
Desde então, como agora acontece na Europa, a escolha passou a ser feita de forma alternada, a partir de uma listagem de nomes masculinos e femininos. Um estudo publicado há alguns anos na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences acabou por “mostrar que os furacões com nomes femininos causam significativamente mais mortes do que os furacões com nomes masculinos”. E esta maior mortalidade pode ser ditada pelo “simples” facto de os furacões com nomes femininos serem entendidos pela população como menos ameaçadores. “Demonstrámos que um desastre natural, apenas por ser associado simbolicamente a um determinado género pelo nome que se lhe atribuiu, pode ser julgado de acordo com os papéis e as expectativas sociais correspondentes a esse género”, conclui o artigo.
Mas um dos seus autores, Kiju Jung, deixou este alerta: “Se as pessoas que estão no trajecto de uma tempestade grave avaliam o risco com base no nome da tempestade, então isto é potencialmente muito perigoso.”
Apesar do aviso, continua a existir uma lista pré-definida de nomes femininos e masculinos para todas as regiões do mundo onde ocorrem tempestades tropicais, ciclones, furacões e tufões. Quando um furacão é particularmente mortífero é retirado da lista para sempre. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o Katrina.
Mas nesta coisa de dar nomes a tempestades e furacões existem também pequenas guerras. Como a que sucedeu em 2013 apo causa da tempestade Nemo e que opôs o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA ao canal de televisão The Weather Channel (TWC), responsável pela escolha daquele nome. Muitos meteorologistas opuseram-se publicamente à ideia de ter um canal privado a dar nome às tempestades de Inverno, justificando que isso poderia aumentar a confusão.