Portugueses produzem uma média de 508 quilogramas de lixo por ano

Estatísticas do Ambiente de 2018, divulgadas esta sexta-feira pelo INE, mostram “sinais contraditórios”. A qualidade do ar e da água melhoraram mas temos cada vez mais carros na estrada e fazemos (ainda) mais lixo.

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INE calcula que cada habitante produz 1,4 quilogramas de lixo por dia Enric Vives-Rubio

Apesar de todos os esforços que o país possa estar a fazer, os dados divulgados esta sexta-feira nas Estatísticas do Ambiente de 2018 provam que ainda estamos muito longe de fazer o suficiente. Há indicadores que mostram uma evolução favorável na qualidade do ar e da água, por exemplo, mas depois derrapamos no parque automóvel e na produção de resíduos. No que se refere ao lixo, cada português gerou uma média de 507, 8 quilogramas de lixo por ano, mais 21 quilos do que em 2017.

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Apesar de todos os esforços que o país possa estar a fazer, os dados divulgados esta sexta-feira nas Estatísticas do Ambiente de 2018 provam que ainda estamos muito longe de fazer o suficiente. Há indicadores que mostram uma evolução favorável na qualidade do ar e da água, por exemplo, mas depois derrapamos no parque automóvel e na produção de resíduos. No que se refere ao lixo, cada português gerou uma média de 507, 8 quilogramas de lixo por ano, mais 21 quilos do que em 2017.

“Há duas questões-chave em que estamos claramente a falhar: num dos importantes “R” que é a redução e na eficiência dos recursos”, resume Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero. Diz o INE que a evolução do ambiente “apresenta sinais contraditórios”. Em 2018 houve mais carros em circulação e mais velhos do que no ano anterior (ver caixa). E registou-se também um “novo aumento da deposição de resíduos urbanos biodegradáveis em aterro” que “compromete a meta traçada para 2020”. Em vez de estarmos a diminuir para chegar a 2020 com 35% dos resíduos produzidos em 1995 (valor de referência) enviados para aterro, em 2018 “acentuou-se a divergência com o objectivo, dado que a deposição de resíduos urbanos em aterro registou um novo acréscimo, atingindo 46%, ou seja, mais 3 pontos percentuais face a 2017”.

Ainda no mau capítulo do lixo, os dados preliminares sobre 2018 indicam que foram recolhidas em Portugal 5,2 milhões de toneladas de resíduos urbanos (+4,2% relativamente a 2017), o que se traduz num rácio de 507,8 quilogramas de resíduos gerados por habitante. “O que corresponde a uma geração diária por habitante de 1,4 quilogramas”, destaca o relatório do INE.

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Nelson Garrido

Sobre a reciclagem, os dados mostram uma evolução positiva mas, de novo, aquém do desejado. “Uma das metas convencionada é a de aumentar de 24% para 50% a taxa de preparação de resíduos para reutilização e reciclagem. Em 2018 este indicador de preparação para a reutilização e reciclagem aumentou 2 pontos percentuais fixando-se nos 40%.”

Gasta-se muita água em Portugal

Não só estamos a fazer mais lixo, como também estamos a gastar mais água. De acordo com a ONU, cada pessoa necessita de cerca de 110 litros de água por dia para atender as necessidades elementares de alimentação e higiene, o que já parece ser muita água. No entanto, por cá, estamos ainda acima disso. Diz o INE, que “no território continental, a água distribuída pelas entidades gestoras de serviços públicos urbanos de abastecimento de água atingiu em 2017 um volume de 64,5 m3 /habitante/ano, o que equivale aproximadamente a 176,7 l/habitante/dia”.

Onde se gasta mais água? Em termos globais, na Área Metropolitana de Lisboa e no Norte, no entanto a relativização pela população média residente coloca “o Algarve (média de 356,7 l/habitante/dia) e a Região Autónoma da Madeira (média de 286,0 l/habitante/ano) como as regiões mais consumidoras de água, o que é essencialmente justificado pela pressão exercida pela actividade turística nestas regiões”. O Norte, em contrapartida, regista os valores mais baixos de consumo por habitante, posicionando-se em 2017 num patamar mais próximo do recomendado pela ONU (123,0 l/habitante/dia).

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Qualidade do ar melhora

Na lista de “aspectos positivos” o INE destaca o registo de menos incêndios, da melhoria da qualidade do ar e das águas balneares. De acordo com as Estatísticas do Ambiente 2018, publicadas esta sexta-feira, houve um aumento de quatro pontos percentuais no número de dias com qualidade do ar classificados com “Bom” e a concentração de partículas inaláveis também melhorou face a 2017. O relatório salienta que 2018, em Portugal Continental, “foi um ano normal para a temperatura e precipitação”.

Outra nota positiva vai para a qualidade das águas balneares. “Em 2018 foram monitorizadas 608 zonas de águas balneares (603 em 2017), das quais, 554 (91,1%) atingiram um nível de qualidade ‘Excelente’ (529 em 2017, 87,7% do total).” No ano passado 352 praias receberam a Bandeira Azul.

No que se refere à energia eléctrica produzida a partir de fontes renováveis em 2018, o INE regista um aumento especificando que representou 51,4% do total de electricidade produzida em Portugal (era 40,9% em 2017).

O ano passado também foi melhor em termos de incêndios, com menos ocorrências e área ardida do que em 2017, um ano especialmente devastador. Segundo o INE, arderam 44,6 mil hectares de área rural num total de 12.273 ocorrências. Contas feitas, menos 495,3 mil hectares ardidos e menos 8733 ocorrências.

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REUTERS/Michael Dalder

Não é apenas no capítulo dos incêndios que Francisco Ferreira alerta para o risco de uma leitura favorável do dados de 2018 que se deve em muito ao facto de 2017 ter sido um ano “particularmente mau” em muitos indicadores.

Já o consumo de energia primária diminuiu 2,8% em 2018, graças ao decréscimo do consumo de carvão e gás natural para a produção de electricidade e ao aumento da quota das fontes de energia renováveis para este fim.

O relatório refere ainda que as despesas em ambiente e receitas provenientes de impostos ambientais atingiram “novos máximos”. No ano passado o Estado arrecadou 5,3 mil milhões de euros em impostos ambientais. Já as empresas industriais “investiram 153 milhões de euros nas actividades destinadas à prevenção, redução e eliminação da poluição”.

“As apostas que estamos a conseguir ganhar são, no fundo, apostas de segunda linha. Não são as apostas verdadeiramente cruciais”, conclui Francisco Ferreira. Sobre 2019, o presidente da associação ambientalista arrisca uma moderada dose de optimismo. “Acho que somos capazes de ter melhorado em 2019. Por exemplo, estamos com muito menos uso das centrais a carvão, por isso, devemos ter menos emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE)”, diz. Neste relatório o INE apresenta os dados de 2017 falando num aumento em 7% das emissões nacionais dos GEE. Assim, Francisco Ferreira espera uma melhoria nas próximas estatísticas do ambiente mas avisa que “não é o suficiente porque ainda estamos muito longe das metas desejadas e da credibilidade e transparência de dados”.