Em Macau, Xi Jinping elogia o bom aluno e diz que não admite interferências externas
O Presidente chinês participou na cerimónia que assinalou os 20 anos da transferência de soberania e na tomada de posse do novo governo. Com Carrie Lam a ouvir, deixou recados a Hong Kong.
Macau é o exemplo sucesso do princípio “um país, dois sistemas” e Pequim não vai tolerar interferências nas suas regiões especiais. Foram estas as mensagens do Presidente chinês, Xi Jinping, nas cerimónias que marcaram os 20 anos da transferência de soberania de Macau para a China e de tomada de posse do novo Governo da antiga colónia portuguesa.
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Macau é o exemplo sucesso do princípio “um país, dois sistemas” e Pequim não vai tolerar interferências nas suas regiões especiais. Foram estas as mensagens do Presidente chinês, Xi Jinping, nas cerimónias que marcaram os 20 anos da transferência de soberania de Macau para a China e de tomada de posse do novo Governo da antiga colónia portuguesa.
“O sucesso de Macau diz-nos que enquanto estivermos confiantes no principio de ‘um país, dois sistemas’, a sua pujança e superioridade vão manifestar-se”, disse Xi esta sexta-feira em Macau. “Também nos diz que o princípio apenas pode ser duradouro quando garantimos que não é distorcido”.
As palavras do chefe de Estado chinês foram uma clara referência aos seis meses de contestação nas ruas da vizinha Hong Kong contra a crescente influência chinesa nas várias vertentes da sociedades, do sistema judicial aos sindicatos, passando pela polícia e imprensa. Pequim acusa os manifestantes de porem em causa a soberania chinesa em Hong Kong, enquanto quem protesta acusa a China de desvirtuar o sistema.
Pequim olha para Macau como o bom exemplo, em contraste com Hong Kong, onde os protestos se transformaram numa das suas principais dores de cabeça nos últimos meses. Para a China, os protestos nas ruas da antiga colónia britânica são fomentados por potências estrangeiras que o desejam enfraquecer e prejudicar a sua imagem no mundo, apontando o dedo aos Estados Unidos.
“Gostaria de sublinhar que os assuntos [de Macau e Hong Kong] são um assunto interno chinês, não há necessidade de nenhuma força estrangeira nos ditar coisas. Nunca iremos tolerar qualquer interferência externa”, avisou Xi.
Dos avisos ao exterior, Xi passou aos alertas para os seus compatriotas louvando o novo executivo de Macau, chefiado pelo empresário Ho Iat-seng, que sucede a Fernando Chui Sai-on. Os elogios podem ser lidos como um puxão de orelhas indirecto ao governo de Hong Kong, chefiado por Carrie Lam, por Pequim a responsabilizar pelas contestação e lhe ter ordenado que lhes pusesse termo, e com mão dura se tivesse que ser. Mas Lam, que esteve em Macau nas duas cerimónias, não o tem conseguido fazer, seja nas ruas ou nas urnas.
“Os compatriotas de Macau têm uma tradição de patriotismo. Têm considerado os temas na base do interesse da nação e de Macau”, continuou o Presidente chinês. “As autoridades têm sido constituídas apenas por patriotas. A educação patriótica tem sido implementada nos vários tipos de escolas e o sentido de identidade nacional tem criado raízes nos corações dos jovens”.
Com uma população de 620 mil pessoas, Macau detém hoje o terceiro maior PIB per capita no mundo, ficando apenas atrás do Luxemburgo e da Suíça, e a sua estrutura económica mudou radicalmente nos últimos anos: é hoje um dos principais pólos do jogo no Oriente, com os casinos a serem a sua principal fonte de receita.
O território é um dos principais argumentos de Pequim para defender o princípio “um país, dois sistemas” contra quem diz que falhou usando o caso de Hong Kong como exemplo. “Xi disse a Hong Kong o quão bom exemplo deveria ser e que, se fizer tudo o que Macau fez, então ele vai considerá-lo um bom exemplo”, disse ao South China Morning Post Larry So Man-yum, comentador político sediado em Macau.
Os protestos de Hong Kong não se espalharam a Macau por, diz Jason Chao, activista político e antigo presidente da Associação Nova Macau, não haver dissidência, uma vez que a maioria da população é pró-China. “Uma grande diferença entre Hong Kong e Macau é o desejo de autonomia. As pessoas de Hong Kong querem autonomia, liberdade e direitos e estão a lutar por eles. Isto não se aplica a Macau, onde a maioria da população é pró-China”, explicou, citado pela BBC. “[As pessoas] têm uma vida muito confortável. Isto faz com que o activismo pró-democracia e direitos humanos seja muito difícil em Macau”.
Uma situação que se deve em larga medida por mais de metade da população de Macau ter imigrado da China depois da transferência de soberania, em 1999.
“Macau, antes o primo pobre de Hong Kong em termos económicos, beneficia agora de um PIB per capita superior ao de Hong Kong”, disse à BBC Steve Tsang, director do Instituto da China da Universidade SOAS, em Londres. “Quase metade da população de Macau veio como imigrante da China”.
Portugal colonizou Macau em 1557 e quatro séculos depois, em 1987, Lisboa e Pequim assinaram o acordo em que se previa a transferência da soberania sob o principio “um país, dois sistemas”. A bandeira portuguesa foi arriada em Macau pela última vez a 20 de Dezembro de 1999.