Obra de “relojoaria” do Mercado do Bolhão atrasa-se um ano
Mercado deverá estar pronto em Maio de 2021, com um aumento de menos de 3% do preço final. Projecto mantém-se, mas a métodologia construtiva da empreitada vai ser alterada.
Os níveis freáticos do terreno onde há mais de cem anos foi construído o Mercado do Bolhão “continuam a ser mais elevados do que aquilo que se pensou ser tecnicamente possível” e o “estado de degradação das galerias superiores revelou-se, afinal, “bastante mais grave” do que aquilo que os estudos preliminares da empreitada de restauro previram. Por isso, a reabertura do Bolhão vai ser adiada por um ano: o Porto voltará a ter o seu mercado em Maio de 2021. Mas sem uma derrapagem significativa do preço previsto, de 22,4 milhões de euros: o desvio estimado, disse Rui Moreira, “não chega aos 3%”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Os níveis freáticos do terreno onde há mais de cem anos foi construído o Mercado do Bolhão “continuam a ser mais elevados do que aquilo que se pensou ser tecnicamente possível” e o “estado de degradação das galerias superiores revelou-se, afinal, “bastante mais grave” do que aquilo que os estudos preliminares da empreitada de restauro previram. Por isso, a reabertura do Bolhão vai ser adiada por um ano: o Porto voltará a ter o seu mercado em Maio de 2021. Mas sem uma derrapagem significativa do preço previsto, de 22,4 milhões de euros: o desvio estimado, disse Rui Moreira, “não chega aos 3%”.
O atraso não significa nenhuma alteração no projecto já conhecido, mas antes no método construtivo na “contenção e construção da cave” e na reconstrução da totalidade da galeria. “No seu âmago, finalidade e resultado final”, o projecto mantém-se “inalterado”, estando garantida a preservação da traça do edifício e das suas características, garantiu Rui Moreira numa conferência de imprensa esta sexta-feira à tarde.
E existirão indemnizações do consórcio responsável pela obra por causa do atraso? “O empreiteiro apresentou um estudo da Universidade de Coimbra relativamente à instabilidade do terreno”, revelou Rui Moreira, mas só numa fase mais avançada será possível perceber se tem um não responsabilidade pelo ocorrido. As penalizações serão aplicadas caso haja incumprimentos injustificados.
Horas antes do encontro com os jornalistas, o autarca tinha visitado o mercado temporário, no centro comercial La Vie, para comunicar pessoalmente aos comerciantes este atraso. Uma notícia algo esperada, tendo em conta aquilo que se vai avistando do exterior da obra, mas ainda assim triste para quem anseia o regresso a “casa”. “Os comerciantes têm saudades do Bolhão, como nós temos”, comentou Rui Moreira: “Tiveram a reacção que eu esperava. Não ficaram muito surpreendidos.”
A contestação maior tem sido feita, na verdade, pelos comerciantes das ruas junto ao mercado original, que esta semana reclamaram ter sabido pela comunicação social quais os valores das indemnizações previstas pelos prejuízos nos negócios. A obra do túnel de acesso à cave do Bolhão, iniciada a 20 de Agosto, obrigou ao corte das ruas Formosa e Alexandre Braga e a inconvenientes óbvios para quem ali trabalha. E os valores propostos pela autarquia para compensar estes trabalhadores, que serão votados em reunião de câmara na segunda-feira, após terem sido burilados com base num estudo externo, soam-lhes insuficientes.
Rui Moreira preferiu deixar o debate para o hemiciclo dos paços do concelho, mas sublinhou o cumprimento dos prazos desta empreitada. O trânsito pedonal na Rua Formosa deve ser retomado em Fevereiro e a circulação automóvel em Setembro.
A complexidade da obra de “relojoaria” feita no Bolhão, em cima de um pântano (o nome Bolhão vem precisamente daí e significa “bolha grande”), não se restringem às condições de um edifício centenário e identificado, “pelo menos desde os anos 80”, como local a necessitar de intervenção. O processo, recorda a autarquia, inclui logo no início uma obra de desvio do curso da água que alimentava o antigo pântano. Mas não foi suficiente.
Numa comunicação lida aos jornalistas, o presidente da câmara revisitou a história do monumental edifício portuense, projectado pelo arquitecto Correia da Silva. E algumas das suas amarguras decorrentes do local onde foi erguido. “ Há mesmo registos e relatos de que as torções e danos nas paredes e estruturas do edifício datam da sua construção” e terá mesmo sido por medo de que o mercado “afundasse” que não se colocou o telhado em ferro, previsto para a cobertura.
A opção agora tomada pela demolição e posterior reconstrução das galerias, algo que não estava inicialmente previsto, permitirá que a obra decorra com mais celeridade no momento seguinte, explicou o autarca. Manter as galerias não só impossibilitava a abordagem agora proposta como tornaria a obra mais cara e mais demorada, atirando a conclusão para Dezembro de 2021, estima a câmara.
O Bolhão, em obras desde Maio de 2018, foi idealizado como um mercado dedicado aos frescos no piso térreo e com restaurantes e zonas polivalentes no piso superior, com acesso directo à estação de metro, elevadores e uma nova zona técnica no subsolo.