Rui Pinto: “Benfica é um polvo de influência entre a elite do país”

Responsável pelo Football Leaks concede a primeira entrevista atrás das grades.

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LUSA/RODRIGO ANTUNES

Pela primeira vez desde que deu entrada no anexo prisional da sede da Polícia Judiciária em Lisboa, Rui Pinto concedeu uma entrevista a um órgão de comunicação social. Em declarações à revista alemã Spiegel, o responsável pelo site de denúncias Football Leaks afirma que o futebol é “intocável” perante a justiça, acusando as autoridades de não investigarem a indústria devido ao “alto interesse público” da mesma. E fez questão de apontar o dedo ao clube da Luz.

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Pela primeira vez desde que deu entrada no anexo prisional da sede da Polícia Judiciária em Lisboa, Rui Pinto concedeu uma entrevista a um órgão de comunicação social. Em declarações à revista alemã Spiegel, o responsável pelo site de denúncias Football Leaks afirma que o futebol é “intocável” perante a justiça, acusando as autoridades de não investigarem a indústria devido ao “alto interesse público” da mesma. E fez questão de apontar o dedo ao clube da Luz.

“Se olharem para o Benfica, o clube mais importante em Portugal, conseguem ver que é como um polvo de influência entre a elite. O clube tem muito boas ligações com a polícia, e entrega frequentemente aos procuradores e políticos bilhetes VIP gratuitos para os jogos. Seria um enorme conflito de interesses se alguma vez tivessem que investigar o Benfica”, relata.

Rui Pinto aguarda julgamento por 147 crimes de acesso ilegítimo, violação de correspondência, sabotagem informática e tentativa de extorsão.

Foi a 22 de Março que foi decretada ao hacker a medida de coacção mais gravosa, após ter sido entregue às autoridades portuguesas pelas congéneres húngaras. Passou os primeiros tempos de prisão às voltas na cela, diz, escrevendo apontamentos num bloco — que seria posteriormente apreendido pelas autoridades. Tal como já tinha afirmado no Twitter, Rui Pinto diz que passou os primeiros seis meses em isolamento total, admitindo que esses tempos foram particularmente difíceis.

“Ao início foi muito difícil. Somos todos seres humanos e precisamos de contacto com outras pessoas. Mas tive de aceitar a decisão e adaptar-me. Era muito importante para mim não perder atenção das coisas”, revelou o hacker.

Antes de ser extraditado para Portugal, Rui Pinto admitiu recear ser alvo de violência nas cadeias portuguesas. Mas, até agora, esse medo não veio a confirmar-se, com o pirata informático a revelar que os guardas são “muito simpáticos” e que “nunca experienciou quaisquer comportamentos violentos” na prisão. “[Os guardas prisionais] dizem que a prisão não é o lugar para mim  e que o país precisa de mais pessoas como eu, dispostas a lutar contra a corrupção e conflitos de interesse”, acrescenta. 

Mas sente que valeu a pena? “Existiram alguns resultados. Tivemos os casos de impostos contra estrelas do futebol como Cristiano Ronaldo, José Mourinho, Radamel Falcão e Dí María. Estas investigações são na Bélgica e na França. No final de contas, temos de ser pacientes e julgar se tudo valeu a pena”, afirmou à Der Spiegel.

Sempre manteve a narrativa de que não era o único responsável pela recolha da informação revelada no Football Leaks. Confrontado com o “silêncio” da plataforma desde a sua detenção, Rui Pinto diz que será necessário esperar pelo “futuro próximo”, não colocando de parte a publicação de mais informação que, adianta, não é exclusiva ao mundo do futebol.