Sete décadas depois, o que mudou nos campos de refugiados palestinianos?
Há electricidade e água, mas o problema persiste. Em Beach Camp, na Faixa de Gaza, a população de refugiados palestinianos cresceu de 23 mil para 85 mil em cerca de 70 anos. As imagens mostram como lá se vivia antes — e como se vive agora.
“Eles puseram electricidade e água dentro das casas, mas as coisas estão muito piores do que eram. Antes, éramos mais unidos, mais próximos.” Najah Abu Reyala viveu toda a vida em Beach Camp, o terceiro maior dos oito campos de refugiados que existem na Faixa de Gaza. Agora, com 61 anos, recorda-se das condições rudimentares em que viveu naquele campo, onde a população cresceu de 23 mil para mais de 85 mil refugiados.
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“Eles puseram electricidade e água dentro das casas, mas as coisas estão muito piores do que eram. Antes, éramos mais unidos, mais próximos.” Najah Abu Reyala viveu toda a vida em Beach Camp, o terceiro maior dos oito campos de refugiados que existem na Faixa de Gaza. Agora, com 61 anos, recorda-se das condições rudimentares em que viveu naquele campo, onde a população cresceu de 23 mil para mais de 85 mil refugiados.
“As ruas não eram pavimentadas, eram poeirentas e em areia”, refere à Reuters. Mas, apesar de o tempo ter trazido mais condições, também trouxe mais tensão, divisão e desespero.
Chegaram em meados do século passado, à procura de refúgio por algum tempo, mas acabaram por lá ficar a vida toda. Entre conflitos, paz, e conflitos outra vez, tem sido pouco o movimento dos refugiados palestinianos nas últimas décadas — restam as memórias das terras perdidas.
Os campos, espalhados pelo Líbano, Jordânia, Síria, Cisjordânia, Jerusalém e Gaza, foram visitados por fotógrafos em diferentes décadas. As mudanças são visíveis, mas a ambição é limitada: as tendas foram substituídas por blocos de cimento; as praias transformaram-se em becos escuros.
E se, na década de 50 do século XX, as mulheres equilibravam jarros de água nas suas cabeças, agora têm torneiras nas suas “casas”. O que não invalida que tenham na mesma de percorrer longas distâncias à procura de água engarrafada, mais própria para consumo.
A UNRWA, a agência da ONU para os refugiados, continua a ser uma presença constante nestes campos, dando protecção e ajuda a mais de 5,5 milhões de palestinianos refugiados. As imagens mostram crianças em fila para recolher os alimentos disponibilizados pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla inglesa) — primeiro em 1988, depois em Setembro de 2019, desta vez captadas pelos fotógrafos da Reuters.
Esta agência foi criada pela Assembleia Geral da ONU há 70 anos, para lidar com as centenas de milhares que refugiados palestinianos que foram expulsos das suas casas ou fugiram ao conflito que espoletou depois de 1948, com o nascimento do estado de Israel.
Mas a organização humanitária é vista pelos israelitas com desconfiança. Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita, disse, em 2017, que a existência da UNRWA devia ser examinada — e que a sua existência apenas perpetuava, em vez de resolver, o problema dos refugiados.
Em Novembro último, a Assembleia Geral da ONU aprovou o prolongamento da agência até 2023. Apenas Israel e os Estados Unidos votaram contra.
“Os detractores da UNRWA querem uma solução para os refugiados sem um acordo político”, disse Elizabeth Campbell, uma representante da agência em Washington, citada pela Reuters. “E isso é muito difícil de conseguir.”