Justin Amash, o conservador do Tea Party que votou para destituir Trump

Foi eleito para a Câmara dos Representantes dos EUA em 2010, na onda do movimento apoiado por nomes como Sarah Palin. Mas a defesa intransigente da Constituição levou-o a sair do Partido Republicano e a votar ao lado dos democratas no impeachment.

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Amash é congressista desde 2010 e vai recandidatar-se em 2020 como independente Reuters/JONATHAN ERNST

Não houve surpresas na forma como os congressistas norte-americanos votaram as duas acusações contra o Presidente Trump, apesar dos receios, no Partido Democrata, de que alguns eleitos em distritos onde Donald Trump foi mais votado do que Hillary Clinton, em 2016, não resistissem ao medo de perder os seus lugares na Câmara dos Representantes e acabassem por apoiar o Partido Republicano.

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Não houve surpresas na forma como os congressistas norte-americanos votaram as duas acusações contra o Presidente Trump, apesar dos receios, no Partido Democrata, de que alguns eleitos em distritos onde Donald Trump foi mais votado do que Hillary Clinton, em 2016, não resistissem ao medo de perder os seus lugares na Câmara dos Representantes e acabassem por apoiar o Partido Republicano.

Apenas dois dos mais de 30 democratas que estavam nessa situação (Collin C. Peterson, do Minnesota, e Jeff Van Drew, de Nova Jérsia) votaram contra os dois artigos de impeachment. E um terceiro (Jared Golden, do Maine) aprovou a acusação de abuso de poder e votou contra a de obstrução do Congresso. A congressista Tulsi Gabbard, do Havai, a que Hillary Clinton se referiu como a preferida da Rússia nas eleições primárias do Partido Democrata, votou “presente” – o que significa, na prática, que não votou nem a favor nem contra as duas acusações.

No Partido Republicano, nenhum congressista votou a favor do impeachment, se excluirmos Justin Amash, um conservador do movimento Tea Party que abandonou o partido em Julho para se tornar independente.

Comparando com o processo de Bill Clinton, em 1998, foi uma rara demonstração de lealdade partidária. Nessa altura, cinco congressistas da maioria do Partido Republicano votaram contra a acusação de perjúrio, 12 votaram contra a acusação de obstrução da Justiça, e dois outros artigos de impeachment (abuso de poder e uma segunda acusação de perjúrio) nem sequer tiveram votos suficientes para serem aprovados.

"Sigo a Constituição"

Na votação de quarta-feira, as atenções estavam viradas para Justin Amash, um ex-republicano, agora independente, que é visto como um candidato perfeito para apresentar a acusação contra o Presidente Trump no julgamento no Senado. Não será fácil questionar as suas credenciais de conservador e de político distante da “esquerda radical” do Partido Democrata, que o Presidente Trump acusa de o querer derrubar.

 A frase que Amash fixou no topo da sua conta na rede social Twitter, e que lá se mantém desde que Trump chegou à Casa Branca, não deixa dúvidas sobre a sua aversão à partidarite aguda que tem afectado a democracia norte-americana: “Deixem-me que vos alerte, da forma mais solene, contra os efeitos perniciosos do facciosismo.”

Amash, um republicano de 39 anos eleito para a Câmara dos Representantes em 2010, na onda do movimento Tea Party, gosta de citar o primeiro Presidente dos Estados Unidos, George Washington, e nunca escondeu do partido, e dos eleitores, que a sua ideia de lealdade cega não está nas bancadas do Congresso.

“Eu sigo um conjunto de princípios. Sigo a Constituição”, disse Amash ao New York Times no início de 2011. “A forma como eu voto rege-se por esses princípios.”

Na noite de quarta-feira, quando subiu ao palanque durante o debate e votação dos artigos de impeachment, já todos sabiam de que forma iria votar – em Julho, abandonou o Partido Republicano para se tornar independente, dizendo que a política actual está “encurralada numa espiral de morte”.

“Sejam quais forem as vossas particularidades, peço-vos que se unam a mim na rejeição das lealdades partidárias e da retórica que nos divide e desumaniza. Peço-vos que acreditem que podemos fazer melhor do que este sistema bipartidário – e que trabalhemos para isso. Se continuarmos a olhar para a América como algo garantido, vamos perdê-la”, escreveu Amash no Washington Post, no dia em que anunciou a saída do Partido Republicano.

Não era segredo para ninguém que Amash defendia a destituição do Presidente Trump desde que foram conhecidas as conclusões do relatório sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016 nos Estados Unidos, em Abril.

Amash, um dos poucos libertários convictos no Congresso norte-americano, defensor intransigente das liberdades individuais e opositor feroz do aumento dos gastos públicos em quase todas as áreas da sociedade, explicou, na quarta-feira, porque razão ia votar ao lado dos congressistas do Partido Democrata: “O Presidente Donald J. Trump abusou e violou a confiança pública ao usar o seu cargo para solicitar ajuda a um país estrangeiro. É nosso dever acusá-lo.”

Há pouco mais de um mês, no Twitter, deixou uma mensagem em forma de aviso aos seus colegas do Partido Republicano, que se mantiveram fiéis ao Presidente Trump até ao último momento. “Este Presidente vai estar no poder por pouco tempo, mas o vosso nome vai ficar manchado para sempre por arranjarem desculpas para o comportamento dele. Peço aos meus amigos republicanos que saiam da bolha dos media e das redes sociais. A História vai ser dura com a defesa dissimulada, frívola e falsa deste homem.”