No Bairro Alto, o britânico Shay abriu o Queimado a pensar nos portugueses
Shay passou por supper clubs e restaurantes pop-up, colaborou com Jamie Oliver, teve projectos em Londres, Paris e Berlim. Agora, aposta tudo em Lisboa e num bar-restaurante onde se consomem produtos portugueses com o toque do fogo. Uma das propostas é até capaz de ganhar alguma fama: que tal um “F**k Brunch”?
Não é um cozinheiro daqueles famosos, com estrelas Michelin, mas tem “experiências incríveis” nas cozinhas de outros chefs. Shay Ola senta-se à mesa do seu restaurante, no Bairro Alto, em Lisboa, com a Fugas, e o que recorda são os barbecues que fazia, em Londres, para os amigos e vizinhos. Na rua, descontraídos. Foi aí que começou a usar o carvão com mestria, tal como faz agora no Queimado. É assim que se chama o espaço que abriu no Verão.
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Não é um cozinheiro daqueles famosos, com estrelas Michelin, mas tem “experiências incríveis” nas cozinhas de outros chefs. Shay Ola senta-se à mesa do seu restaurante, no Bairro Alto, em Lisboa, com a Fugas, e o que recorda são os barbecues que fazia, em Londres, para os amigos e vizinhos. Na rua, descontraídos. Foi aí que começou a usar o carvão com mestria, tal como faz agora no Queimado. É assim que se chama o espaço que abriu no Verão.
Formado em design, não era nessa área que se sentia realizado, conta, mas sim nas experiências gastronómicas que ia fazendo. Ora nos barbecues, ora nos supper clubs, ora em restaurantes pop-up (foi fundador da The Rebel Dining Society, especialista nesse tipo de eventos com inúmeras marcas de bebidas e de lifestyle). Conheceu Nuno Mendes — o chef português que tem uma estrela Michelin em Londres —, colaborou com Jamie Oliver. Também teve projectos próprios, restaurantes em Londres, Paris e Berlim, mas nem tudo correu bem, confessa. Até que descobriu Lisboa.
Na verdade, já conhecia a cidade, já a tinha visitado mas sentiu-a diferente da última vez e decidiu arriscar. E quando começou a imaginar o projecto, não pensou propriamente nos turistas, mas sim em devolver a cidade aos seus habitantes. O turismo é bom, mas preocupa-o a descaracterização, o ter uma cidade igual a tantas outras. Sentados à mesa, ao aperceber-se que ao nosso lado estão turistas faz uma careta porque o que gostaria mesmo era de ter os 24 lugares preenchidos com portugueses. “Devolver-lhes o Bairro Alto”, resume.
Pratos para partilhar
Por isso, os seus preços não são proibitivos para as bolsas nacionais — começam nos 6 euros e os pratos são para partilhar. E, por isso também tem uma “Very Happy Hour”, de 3.ª a domingo, das 23h às 0h, os cocktails custam cinco euros. A ideia é promover amizades e criar uma comunidade que use o Queimado como pouso no Bairro Alto. Pensado para aquelas pessoas que, terminado o jantar, ficam a decidir o que vão fazer a seguir. “Não precisam, ficam aqui”, diz, rindo alto. E como para ficar é preciso música, Shay Ola convida DJ's para tocar às sextas e sábados, das 22h às 2h.
Shay “odeia” brunchs, por isso, tem uma oferta que serve também para criar comunidade: o “F**k Brunch”, das 16h à meia-noite, para aquelas pessoas que, ao sábado, ficam até mais tarde na cama e já não saem de casa a horas de fazer essa refeição que não é o pequeno-almoço, nem almoço. Não há panquecas nem croissants, avisa, divertido. E esta é uma oferta à qual é preciso estar atento, já que acontece esporadicamente.
Foi tirado o máximo partido do espaço, graças às mesas corridas, aos bancos de madeira e a um balcão virado para a parede, mas com espelhos que permitem viver o ambiente, mesmo que de costas voltadas para o bar e para a cozinha aberta, onde tudo se confecciona à vista do cliente. Lá está a grelha que, durante todo o jantar, não se sente, nem se cheira, mas todos os pratos são quentes e com o toque do carvão.
Escolhemos quatro pratos, que chegam à mesa pela ordem que a cozinha decide: mexilhões com migalhas de pão frito (8 euros), batata doce na brasa com creme fraiche fumado e morcela (7 euros), BBQ de cogumelo, ostra adobo de três chilis e aioli de lima grelhada (7 euros) e codorniz com glaze de ameixa fermentada e arroz selvagem estufado (8 euros). Cada prato é uma surpresa, pelo sabor diferente que o carvão lhes confere. Para fechar, partilhamos uma das duas sobremesas existentes na carta — esta é pequena e muda conforme a estação, havendo pratos que permanecem como a codorniz, embora possa ser servida com outro fruto que não a ameixa. A nossa escolha recai num mil folhas de castanha e cogumelos shitake (6 euros).
Apesar de estarmos sentados em bancos de madeira, sem encosto, há algumas horas, não sentimos qualquer desconforto e partilhamos essa informação com Shay, que fica contente por sabê-lo e elogia o espaço, pensado em conjunto com a arquitecta suíça Hannah Reusser, que também é sua namorada. Entretanto, Hannah chega e revela que também ela se apaixonou pela cidade, onde vive, não deixando de continuar a trabalhar com um atelier no seu país. Os dois pensaram nas cores que os fazia lembrar Lisboa e não foi o azul do Tejo, mas o salmão dos prédios da cidade e o verde dos parques. São essas que decoram o Queimado.
A Fugas jantou a convite do Queimado