França enfrenta nova greve geral contra a reforma do sistema de pensões
Impacto volta a fazer-se sentir sobretudo nos transportes públicos, mas também na saúde e nas escolas.
Marselha, Toulouse e Bordéus tiveram grandes manifestações de protesto contra a mudança do sistema de pensões em França, além de Paris, a capital, onde o desfile da terceira greve geral desde 5 de Dezembro mobilizou 350 mil pessoas – segundo a central sindical CGT – ou apenas 76 mil, segundo o Ministério do Interior.
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Marselha, Toulouse e Bordéus tiveram grandes manifestações de protesto contra a mudança do sistema de pensões em França, além de Paris, a capital, onde o desfile da terceira greve geral desde 5 de Dezembro mobilizou 350 mil pessoas – segundo a central sindical CGT – ou apenas 76 mil, segundo o Ministério do Interior.
Durante o dia, as manifestações decorreram de forma essencialmente pacífica, embora ao fim da tarde a polícia tenha usado gás lacrimogéneo para tentar fazer dispersar os manifestantes que se acumulavam na Praça da Nação, em Paris. Segundo o Ministério do Interior, avançados pelas 17h de Lisboa, manifestaram-se 360 mil pessoas em mais de 80 cidades franceses. Mas a discrepância de números relativamente aos das centrais sindicais é demasiado grande.
Desta vez, todas as centrais sindicais se mobilizaram, incluindo a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT). Professores, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, advogados, magistrados e trabalhadores do sector dos transportes e outros funcionários públicos aderiram à greve convocada por todos os sindicatos para contestar o novo sistema universal de pensões, que pretende substituir os 42 subsistemas actuais, e que, entre outras medidas, incentivará o aumento da idade de reforma dos franceses. Embora mantenha a idade legal de reforma nos 62 anos, estabelece uma majoração para quem deixar o trabalho mais tarde, e penalizações para quem sair mais cedo, estabelecendo a chamada “idade de equilíbrio” aos 64 anos.
Segundo uma sondagem da empresa Harris Interactive, 62 % dos franceses apoiam a greve, ainda que 69% dissessem que seria bom haver uma trégua para o período de Natal. Isto porque o sector mais afectado são os transportes públicos, sobretudo os caminhos-de-ferro e o Metro. Segundo os sindicatos, um terço dos trabalhadores dos caminhos-de-ferro e 75% dos maquinistas aderiram à greve desta terça-feira, e há oito linhas de Metro paradas em Paris. São números inferiores aos registados no primeiro dia da greve, a 5 de Dezembro, diz o Le Monde, mas é já 13.º dia de greve dos transportes, que ameaça durar até ao final do ano, sem pausas para o Natal ou passagem de ano.
Entre os professores 24% fizeram greve, de acordo com o Ministério da Educação. Muitos médicos juntaram-se ao movimento de protesto, porque os hospitais enfrentam uma enorme crise de falta de fundos - estima-se que faltem 1300 milhões de euros para que os hospitais possam funcionar em 2020, quando o Orçamento de Estado apenas destina 300 milhões suplementares, escrevem 600 médicos numa carta de protesto tornada pública na segunda-feira.
Na segunda-feira, o alto-comissário francês que idealizou a reforma do sistema, Jean-Paul Delevoye, demitiu-se na sequência de acusações de conflito de interesses por ter omitido outras funções que acumulava.
De acordo com a imprensa francesa, Delevoye “esqueceu-se” de incluir na sua declaração de interesses apresentada à Alta Autoridade para a Transparência da Vida Política que é administrador do principal Instituto de Formação na área das seguradoras, sector que elogiou a reforma das pensões por si arquitectada.
A reforma do sistema de pensões tornou-se um projecto-emblema de Macron, apesar de criticada pelos sindicatos de todos os sectores.
A reforma baseia-se no relatório apresentado por Delevoye em Julho deste ano e como princípio orientador criar um sistema universal de pensões, já que existem actualmente 42 sistemas diferentes, vários dos quais representam regimes especiais que permitem, por exemplo, deixar de trabalhar mais cedo.
Estes regimes incluem os trabalhadores dos sectores dos transportes como a SNCF, empresa ferroviária, ou a RATP, empresa de transportes da região de Paris, mas não só, o que levou outros sectores a juntarem-se aos protestos.