O Orçamento para lá de Costa e Centeno
Nem Centeno nem Costa parecem ter qualquer razão para abdicar do activo que é o guardião das “contas certas”, nem que se possa adivinhar o incómodo de alguns ministros em tempo de negociação orçamental.
Durante quatro anos, um dos passatempos à direita foi encontrar as brechas na “geringonça”. A qualquer espirro do Bloco de Esquerda, a qualquer encontrão do PCP, havia quem divisasse um mal-estar crescendo que mais tarde ou mais cedo redundaria em quebra e na falta de apoio parlamentar ao Governo socialista. Cumprida a legislatura, foi o que se viu. Os desejos, alimentados por elaboradas análises, nunca se cumpriram.
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Durante quatro anos, um dos passatempos à direita foi encontrar as brechas na “geringonça”. A qualquer espirro do Bloco de Esquerda, a qualquer encontrão do PCP, havia quem divisasse um mal-estar crescendo que mais tarde ou mais cedo redundaria em quebra e na falta de apoio parlamentar ao Governo socialista. Cumprida a legislatura, foi o que se viu. Os desejos, alimentados por elaboradas análises, nunca se cumpriram.
A inédita solução política resistiu a este tempo de atitudes políticas polarizadas e à falta de uma cultura de compromisso, em que a manifestação pública de desavenças não tem de significar necessariamente incapacidade para o diálogo, mas antes o jogo necessário para que os envolvidos possam manter a face politicamente, reivindicando ganhos no final do processo.
Ontem, como hoje, a falta de uma oposição que possa afirmar-se claramente aos olhos dos portugueses como uma alternativa faz com que, mais do que proclamar os seus pontos fortes, a direita se veja remetida a tentar encontrar os pontos fracos do adversário. E se ontem era a relação entre os partidos da aliança parlamentar que estava sob escrutínio, hoje parece ser a relação entre o primeiro-ministro, António Costa, e o seu ministro das Finanças que melhor serve este propósito. Mas é duvidoso que as divergências, naturais quando se pensa no trabalho supranacional que Centeno tem de fazer no Eurogrupo, se traduzam em qualquer coisa de substantivo na frente política interna, como, aliás, explicou ontem o Presidente da República.
Mesmo que as coisas não estejam bem como antigamente, nem Centeno nem Costa parecem ter qualquer razão para abdicar do activo que é o guardião das “contas certas”, nem que se possa adivinhar o incómodo de alguns ministros em tempo de negociação orçamental.
O nosso olhar deve estar mais focado na forma como se desenhará a aprovação do Orçamento do Estado, que não estando em dúvida, até pelo número de possibilidades apresentadas, será determinante para o futuro político próximo. É, por exemplo, totalmente diferente prosseguir a fórmula da “geringonça” ou ter de encontrar uma solução do tipo “queijo limiano”, com o PSD-Madeira e mais uns companheiros de ocasião. Ambas poderão resultar na aprovação do Orçamento, mas marcarão muito mais a forma como os portugueses olharão para esta legislatura do que as supostas desavenças entre Costa e Centeno.