Argélia tem novo Presidente mas movimento de protesto não parou
Abdelmadjid Tebboune foi eleito numa votação em que a participação foi de apenas 40%. Pouco depois de divulgados os resultados, uma multidão saiu de novo à rua.
A Argélia tem um novo Presidente depois de uma eleição para escolher o sucessor de Abdelaziz Bouteflika, que esteve 20 anos no cargo e saiu por pressão de um movimento popular exigindo a retirada da candidatura do “Presidente-múmia” - como lhe chamavam por este não se mexer nem ser visto a falar há anos - a um quinto mandato. O movimento não aceita a legitimidade das presidenciais, e voltou a protestar esta sexta-feira, depois de ser anunciado o resultado.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Argélia tem um novo Presidente depois de uma eleição para escolher o sucessor de Abdelaziz Bouteflika, que esteve 20 anos no cargo e saiu por pressão de um movimento popular exigindo a retirada da candidatura do “Presidente-múmia” - como lhe chamavam por este não se mexer nem ser visto a falar há anos - a um quinto mandato. O movimento não aceita a legitimidade das presidenciais, e voltou a protestar esta sexta-feira, depois de ser anunciado o resultado.
O Presidente eleito, com 58% dos votos e por isso logo à primeira volta, foi Abdelmadjid Tebboune, de 74 anos, que antes fora ministro (da Habitação e da Informação) de Bouteflika e, por um curto espaço de tempo, primeiro-ministro, antes de se desentender com empresários do círculo do antigo Presidente e sair do cargo.
Era visto como “o escolhido”, por ser próximo do general Ahmed Gaid Salah, o chefe do exército que lidera na prática o país. Os outros quarto candidatos tinham todos ligações ao antigo Presidente: havia outro antigo primeiro-ministro, dois antigos ministros e um antigo membro do comité central do partido no poder, enumera a agência Reuters.
As eleições tiveram uma participação de apenas 40%, mas os media públicos comentaram que era suficiente para se considerar a eleição válida e legítima apesar de um boicote.
Saída da velha geração
Muitos argelinos tinham prometido não votar nas eleições, e antes da votação dezenas de milhares de pessoas saíram à rua com cartazes dizendo “não é preciso preparar as mesas de voto” e “o povo está farto”.
O movimento de protesto começou em Fevereiro e trouxe centenas de milhares de pessoas para as ruas. Semana após semana, manifestam-se para pedir a saída da velha geração no poder, sem terem ainda, no entanto, um líder que os represente. Como vêem esta votação como um esquema ilegítimo para manter a antiga elite no poder, prometem não parar.
“Derrubámos Bouteflika, e vamos derrubar todos os homens do sistema. Não vamos desistir”, dizia antes da votação, na quinta-feira, Riad Mekersi, 24 anos, no protesto contra as eleições, à Reuters. E saíram para a rua, de novo, esta sexta-feira. “Este é o sinal máximo que o movimento não vai diminuir”, reagiu no Twitter a analista Dalia Ghanem, do Carnegie Middle East Center em Beirute, que esteve na Argélia em vésperas das eleições.
Alguns dos que votaram, diz, fizeram-no com esperança de que a eleição marcasse um ponto de viragem. Ghanem conta o que uma mulher de 40 anos, funcionária na empresa de telecomunicação do Estado, lhe disse: “Não podemos continuar assim indefinidamente. Vou votar porque quero que esta situação acabe, e acredito que o novo Presidente vá negociar connosco”. “Se não, claro que vamos voltar à rua.”
O regime tem agora três opções, considera Dalia Ghanem: “Continuar a ignorar as reivindicações das pessoas e apostar no cansaço do movimento; usar medidas coercivas e reprimir os protestos com força, ou começar um processo de negociação com o movimento de protesto.”