Polanski reage: “Tentam fazer de mim um monstro”

Numa entrevista exclusiva à Paris Match, o cineasta nega ter violado há 44 anos a fotógrafa e actriz Valentine Monnier, uma acusação que veio ensombrar o sucesso do seu último filme, J’Accuse, que tem esgotado lotações nas salas de cinema.

Foto
Christian Hartmann

Roman Polanski garante, numa entrevista exclusiva à Paris Match, que são falsas as acusações de Valentine Monnier, a ex-modelo e actriz que há cerca de um mês contou ao jornal Le Parisien que o cineasta a tinha violado em 1975 numa estância de esqui na Suíça. Monnier, que tinha então 18 anos, decidiu quebrar o seu silêncio de quatro décadas no início do mês passado, quando o novo filme do cineasta, J’Accuse, premiado em Veneza e bem recebido pela crítica, estava prestes a chegar às salas francesas, onde seria visto, só na primeira semana de exibição, e apesar de alguns boicotes pontuais, por meio milhão de espectadores.

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Roman Polanski garante, numa entrevista exclusiva à Paris Match, que são falsas as acusações de Valentine Monnier, a ex-modelo e actriz que há cerca de um mês contou ao jornal Le Parisien que o cineasta a tinha violado em 1975 numa estância de esqui na Suíça. Monnier, que tinha então 18 anos, decidiu quebrar o seu silêncio de quatro décadas no início do mês passado, quando o novo filme do cineasta, J’Accuse, premiado em Veneza e bem recebido pela crítica, estava prestes a chegar às salas francesas, onde seria visto, só na primeira semana de exibição, e apesar de alguns boicotes pontuais, por meio milhão de espectadores.

Após ter feito saber através do seu advogado que contestava “firmemente” a veracidade do relato de Monnier, que afirmara ao Le Parisien que o realizador a despira à força, a tentara obrigar a engolir um comprimido e a violara “com extrema violência”, Polanski decidiu agora reagir numa extensa entrevista à jornalista Aurélie Raya, publicada no último número da Paris Match e parcialmente divulgada no site da revista.

O realizador garante que mal conhecia Monnier, embora admita que o seu rosto, visto agora em fotografias de imprensa, lhe “diz qualquer coisa”, e acrescenta: “Não tenho, evidentemente, nenhuma recordação do que ela conta, uma vez que é falso”.

Atacando as alegadas fragilidades do relato da actriz, Polanski observa: “Ela diz que uma amiga a convidou a ir passar alguns dias a minha casa [na estância suíça], mas que não se lembra de quem ela era”. E mais adiante nota que Monnier invoca o testemunho de três amigos que então se encontravam no seu chalé, dos quais dois estão mortos e o terceiro não foi encontrado pelo Parisien, restando um vizinho que “não se lembra se Valentine lhe falou de violação” e “outro misterioso vizinho que quer manter o anonimato”. Este último, em cuja casa a jovem terá procurado refúgio, disse ao Le Parisien que esta lhe teria contado que fora “brutalmente violada” por Polanski,   

Quando a entrevistadora lembra ao cineasta que Valentine Monnier também o acusava de lhe ter batido, Polanski responde: “É absurdo! Não bato em mulheres! Decerto as acusações de violação já não causam sensação bastante e foi preciso acrescentar mais uma demão”.

Aurélie Raya quis ainda saber se Polanski tivera conhecimento prévio dos comportamentos pelos quais Harvey Weinstein veio a ser acusado, tendo o cineasta afirmado que só se cruzara duas ou três vezes com o produtor, e que se estava a par da sua “reputação de tubarão no mundo dos negócios”, já “não sabia nada das suas histórias com mulheres”. E acusa Weinstein de ter “desenterrado” o caso de Samantha Geimer, que Polanski foi acusado de ter violado quando esta tinha 13 anos, crime pelo qual ainda hoje é procurado pela justiça americana, já que o processo foi reaberto depois de o cineasta ter cumprido uma breve pena de prisão. O assessor de imprensa de Weinstein foi, garante, o primeiro a chamar-lhe “violador de crianças”.

Sublinhando que estão há anos a tentar fazer dele “um monstro”, Polanski diz que se habituou à calúnia, mas que decidiu falar por causa do que sofrem a sua mulher, a actriz Emmanuelle Seigner, e os seus filhos. Reconhecendo que cometeu “uma falta” em 1977, argumenta que é a sua família que agora a está a pagar, quase meio século mais tarde. “Os media atiraram-se a mim com uma violência inaudita, e apropriam-se de cada nova falsa acusação, mesmo que seja absurda e sem substância, porque isso lhe permite reanimar essa história [de 1977]”, diz o realizador. “É como uma maldição que está sempre a regressar e não há nada que eu possa fazer”.