Um documentário para mostrar A Pele do Diabo dos Caretos de Podence
Minidocumentário A Pele do Diabo, de Zé Maria Mendonça e Moura, estreia-se esta terça-feira — e o P3 apresenta-o em exclusivo. Esta semana, fica-se a saber se os Caretos de Podence são considerados Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Quem já foi a Podence durante a época de Carnaval com certeza conhece os caretos. Estas personagens mascaradas são figuras históricas da região de Macedo de Cavaleiros, em Bragança. Vestem-se de vermelho, amarelo e verde e andam com chocalhos pela aldeia fora atrás das mulheres na terça-feira de Carnaval.
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Quem já foi a Podence durante a época de Carnaval com certeza conhece os caretos. Estas personagens mascaradas são figuras históricas da região de Macedo de Cavaleiros, em Bragança. Vestem-se de vermelho, amarelo e verde e andam com chocalhos pela aldeia fora atrás das mulheres na terça-feira de Carnaval.
É uma tradição muito antiga que agora passa para o ecrã, através do minidocumentário A Pele do Diabo, de Zé Maria Mendonça e Moura, que o P3 apresenta em exclusivo. O engenheiro informático começou a pensar em retratar este costume em Dezembro de 2018; em Março, já estava em Podence em gravações. O filme de cinco minutos ficou concluído em Setembro e, desde aí, tem ficado na “gaveta” à espera da “melhor altura para ser divulgado”. Para o autor, esse momento chegou: quarta-feira, 11 de Dezembro, o mundo ficará a saber se a Unesco aprova a candidatura dos Caretos de Podence a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Com este documentário, o realizador quis retratar o contra-senso da realidade dos caretos: durante o ano procuram fazer o bem, viver em comunidade, mas “naquele dia [terça-feira de Carnaval] é-lhes permitido vestir a pele do diabo”. Era, historicamente, como conta o narrador ao longo do filme, “um dia em que se permitia tudo aquilo que ia ser proibido a seguir, os excessos, a alegria, a euforia, numa época crítica em que já passaram três meses de frio, em que a terra está morta, em que nada cresce, em que os frutos não germinam”. O homem sentia, depois, a “necessidade de provocar essa fertilidade”, a da terra e a da mulher.
É uma tradição muito antiga, “estima-se com mais de dois mil anos”, diz Zé Maria ao telefone com P3. “No Estado Novo não era fácil os homens aproximarem-se das mulheres e as máscaras eram uma forma de se aproximarem das raparigas de quem gostavam. Faziam brincadeiras que não podiam fazer se não estivessem mascarados.” E não eram umas partidas quaisquer: faziam coisas como “destruírem a casa, atirarem-se às mulheres e, por isso, a Igreja tentou anular a prática”, sem sucesso. Com o tempo, o ritual passou a celebração associada ao Carnaval e, hoje em dia, os caretos já “são mais contidos”. Mas há uma tradição que se mantém: depois da queima do Entrudo, os caretos vão de porta em porta comer e beber.
Este é o primeiro documentário de Zé Maria. O portuense de 36 anos costuma fazer vídeos das suas viagens — há uns anos, o filme que realizou sobre o Irão captou até a atenção da National Geographic. Foi com uma notícia de um jornal que conheceu a tradição dos Caretos de Podence. Mais tarde comprou o livro História, Património e Turismo, de Luís Filipe Costa, que acabaria por narrar este documentário. O realizador contou também com a ajuda de um careto, que lhe facilitou os contactos com a comunidade.