Catarina escreveu um livro para ajudar os pais e as crianças a lidar com a diabetes

Com diabetes desde os seis anos, Catarina Mendanha quer ajudar “as pessoas doces” como ela. Escreveu Maria Descobre a Diabetes, ilustrado por José S. Peixoto e apadrinhado pelo actor Joaquim de Almeida.

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Ines Fernandes/Arquivo

Sem pretensões literárias, o objectivo da colecção que agora se inicia com Maria Descobre a Diabetes (Cultura Editora), protagonizada por uma criança de sete anos, é o de “ser uma ajuda para meninos e meninas com diabetes, mas também para os seus pais e cuidadores”. A esta vontade alia-se uma outra, a de “sensibilizar a sociedade para olhar para a diabetes de uma forma mais informada, integrada e descontraída” — palavras da autora, Catarina Mendanha, a quem foi detectada a diabetes de tipo1 aos seis anos.

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Sem pretensões literárias, o objectivo da colecção que agora se inicia com Maria Descobre a Diabetes (Cultura Editora), protagonizada por uma criança de sete anos, é o de “ser uma ajuda para meninos e meninas com diabetes, mas também para os seus pais e cuidadores”. A esta vontade alia-se uma outra, a de “sensibilizar a sociedade para olhar para a diabetes de uma forma mais informada, integrada e descontraída” — palavras da autora, Catarina Mendanha, a quem foi detectada a diabetes de tipo1 aos seis anos.

“O mais difícil para mim era ser a menina diferente”, conta ao PÚBLICO no dia do lançamento do livro. E o “ser diferente” implicava “ter de comer na sala de aula de duas em duas horas” ou “nunca poder levar o saquinho com doces depois das festas de aniversário” dos amigos. A autora recorda ainda um episódio em que recusaram partilhar com ela uma garrafa de água porque era “diabética”.

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A capa do livro de Catarina Mendanha sobre diabetes DR

“Felizmente”, acredita, “a sociedade está diferente e mais informada”, e lembra que até a terminologia mudou: “Agora, não se diz ‘diabética’, mas ‘alguém com diabetes’ ou ‘pessoa portadora da diabetes’.” Se pode parecer um pormenor de linguagem a pender para o politicamente correcto, a verdade é que a nova expressão não resume a pessoa à doença. Por isso, ressalve-se que a protagonista da colecção é a Maria, não a diabetes.

O livro começa com uma carta manuscrita, em que a menina interpela directamente os pequenos leitores, convidando-os a acompanhá-la nas suas aventuras, mas logo avisando: “Não sei se te apercebeste [de] que tenho diabetes tipo1, mas vais poder ver que isso não me torna muito diferente dos meus amigos.”

Um “sim gigante” e uma canção

O lançamento está marcado para esta terça-feira, em Lisboa, na Fnac Chiado, às 18h, com a presença da autora e apresentação do actor Joaquim de Almeida e do editor, João Gonçalves.

Como é que Joaquim de Almeida entra nesta história? “Ele conhece-me desde muito pequenina e foi-me sempre acompanhando. Sabe o que passei. Não é meu tio de verdade, mas é o meu tio do coração”, responde a autora.

Como queria que o livro chegasse ao maior número possível de pessoas e sendo ele uma figura bastante conhecida, pediu-lhe que apadrinhasse o projecto. “A resposta foi um ‘sim’ gigante”, recorda, agradecida. E acrescenta, bem-disposta: “Ele não é aquele vilão dos filmes…”

A sessão de lançamento conta ainda com representantes da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), que supervisiona a narrativa e que será beneficiária de parte das vendas. Para o final, está programado o testemunho da mãe de uma criança com diabetes e uma actuação ao vivo da música do projecto, cantada por Catarina Mendanha, acompanhada pelo músico e compositor Ricardo Reis Pinto.

Muita fome e sede

Neste primeiro título, fica a saber-se quais os sinais e sintomas da diabetes, numa descrição clara e simples, mas que ajuda a deixar alerta os adultos com crianças a cargo. “Nos últimos meses, a Maria andava sempre cheia de fome, uma fome de leão, como dizia a avó, mas, mesmo assim, estava visivelmente mais magrinha e o cabelo tinha enfraquecido. Também estava sempre cheia de sede. Bebia imensa água e, como tal, estava sempre na casa de banho.” Para se concluir, mais adiante: “Estes são sintomas de açúcar a mais no sangue, ou seja, diabetes.”

A colecção não é autobiográfica, embora a autora recorra a algumas das experiências por que passou. “O meu diagnóstico, por exemplo, não foi igual ao da Maria.” Catarina Mendanha, agora com 32 anos, achou por bem fazer entrevistas a crianças com a doença e aos seus familiares, “para saber como é ter diabetes hoje”.

Na preparação dos livros, contou ainda com a colaboração de médicos e psicólogos, da APDP, “para que tudo o que é descrito esteja correcto” do ponto de vista clínico.

Onze cirurgias depois…

A ideia de escrever este livro surgiu em 2015, depois de ter sido submetida a 11 intervenções cirúrgicas, após um descolamento bilateral da retina, que a deixaram com 10% de visão. “Durante as recuperações das minhas cirurgias, tinha muito tempo livre e ia frequentemente à associação. Foi então que me lembrei de escrever para crianças, através de uma colecção de livros que acompanhasse os desafios com a doença”, conta ao PÚBLICO.

Está muito contente com o ilustrador da colecção, José S. Peixoto, porque alia o rigor da representação dos objectos quotidianos (“canetas, seringas”) ao ambiente mágico e esperançoso próprio das crianças.

Catarina Mendanha, mestre em Gestão pela Universidade Nova de Lisboa e especialista em Comportamento Organizacional, anseia voltar a trabalhar em recursos humanos (porque gosta de pessoas) e quer que este livro seja “para todos, com ou sem a diabetes”. Portadora de uma energia e esperança sem fim, mais do que da diabetes, não tem dúvidas: “Se todos conhecermos melhor uma das doenças crónicas que mais afectam as crianças, vamos construir um mundo mais preparado, humano e integrado, onde todos somos iguais e todos nos sentimos acolhidos.”