Postais de Natal: mais uma boa tradição em vias de extinção
O mundo amorfo e carregado de fibras ópticas varreu uma série de prazerosas tradições. Quantos de nós ainda sabem qual é o sabor da cola de um envelope? Quantos guardam selos e os coleccionam de propósito para os utilizar na quadra natalícia?
Passamos a vida a queixarmo-nos que as tradições já não são o que eram quando, na realidade, a sua manutenção apenas depende da nossa vontade. O tempo, essa entidade superior, tende a levar partes da vida às quais nos gostamos de agarrar, através das esquinas do tempo, porque o ser humano é tendencialmente um ser de hábitos, um ser de rituais, um ser que cria e recria rotinas porque essas se revelam essenciais para o equilíbrio orgânico e mental.
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Passamos a vida a queixarmo-nos que as tradições já não são o que eram quando, na realidade, a sua manutenção apenas depende da nossa vontade. O tempo, essa entidade superior, tende a levar partes da vida às quais nos gostamos de agarrar, através das esquinas do tempo, porque o ser humano é tendencialmente um ser de hábitos, um ser de rituais, um ser que cria e recria rotinas porque essas se revelam essenciais para o equilíbrio orgânico e mental.
A nostalgia faz parte da vida. Afinal de contas, quem pode dizer que não tem saudades de tempos felizes?
Não acredito que o envelhecimento fará de todos nós velhos do Restelo, mas acredito na nostalgia que faz com que gostemos de manter, ao longo de toda uma vida, os mesmos detalhes, costumes e tradições como se estes nos ligassem constantemente às nossas melhores memórias e a todos os que fizeram parte delas.
O mundo amorfo e carregado de fibras ópticas varreu uma série de prazerosas tradições. Quantos de nós ainda sabem qual é o sabor da cola de um envelope? Quantos guardam selos e os coleccionam de propósito para os utilizar na quadra natalícia?
Quantos não viram e continuam a ver a sua saliva e caligrafia percorrerem milhares de milhas rasgando os céus, a terra e o oceano através de uma carta ou de um postal dedicado à quadra natalícia e aos votos de bom ano novo?
Quantos não têm gravado nas esquinas do tempo passado a carta e os postais como a única forma de comunicação possível com o filho que esteva na guerra, com o filho que esteva preso, com o penpal que conheceu nos primeiros tempos da web, com os ex-alunos, os ex-professores, os primos, os colegas de escola, os amigos de longa data que se mudaram para o continente que rasga a terra no outro lado do oceano?
Por fim, quantos não teriam uma colecção tão vasta de postais de natal que receberam ao longo de toda uma vida em quantidade suficiente para enfeitar, de forma criativa, um pinheiro de Natal?
Perdemos, infelizmente, o hábito de enviar cartas e postais de Natal. No máximo, criamos um e-card que acabamos por enviar por email a uma panóplia de contactos, sem personalização, ou então criamos uma publicação para esse efeito nas redes sociais. A personalização deixou de ser algo prazeroso, tornando-se um peso pesado que ocupa tempo, lugar e espaço.
O primeiro postal de Natal foi criado por John Callcott Horsley, um designer inglês que, em 1843, decidiu pintar à mão 1000 cópias de postais que, a posteriori, foram colocados à venda em Londres. Os postais eram ilustrados com uma imagem de uma família durante os festejos e exibia a frase “A Merry Christmas and a Happy New Year”.
Em 1850, a rainha Vitória e o Príncipe Alberto começaram a imprimir os seus próprios postais, popularizando esta bonita tradição que vive ainda nos nossos dias. Foram também os responsáveis por termos pinheiros de Natal dentro de casa.
Ainda me recordo de ter perto de 12 anos e ficado fascinada com os postais musicais, após receber um. Estes passaram a ser banais nas lojas quase na mesma duração de tempo com que me fascinaram naquele tempo. Naquela época, eu não teria como saber que, um dia, isso iria acontecer com quase todas as coisas.